"Surpreendente"

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─ Val? ─ Camilo empurrou a porta do quarto devagar e entrou com todo cuidado. A encontrou enrolada numa toalha e só então se deu conta do quanto ela estava magra. Não que alguma vez tivesse tido um corpo avantajado, mas havia uma diferença naquele rosto esbelto, a qual não soube identificar.

─ Sim? ─ Ela segurava um bonito vestido em suas mãos e o estendeu por cima da cama com delicadeza. ─ Estou me arrumando para ir ao desfile.

─ Está tudo bem? ─ Perguntou e percebeu que existia uma preocupação diferente em sua própria voz.

─ Claro. Por que não estaria? ─ Valquíria andou em direcção ao banheiro, mas foi interceptada pelo marido que era enorme e a cobria por inteiro. Piscou sem entender.

─ Você ouviu o que eu disse lá em baixo. ─ Sentenciou.

─ Não é nada do que já não tivesse me dito antes. ─ Respondeu e lhe deu leves palmadas nos ombros. ─ Eu não estou aqui para obrigar você a me amar.

─ Eu sei, mas... ─ Ficou sem fala por alguns segundos. ─ Começo a perceber coisas que antes não via. Mesmo sabendo que você começou agindo de um jeito ridículo e que talvez eu tenha reagido igualmente, não é de todo uma minha vontade neste momento que sofra mais com minhas palavras.

─ Não se preocupe. Sei bem ser chata quando quero e sei também ser razoável. De você o que mais quero é sua verdade, seja ela qual for. ─ Levou a mão escura para acariciar o rosto dele, podia sentir a barba áspera e como adorava aquele contraste. ─ Vamos aproveitar a noite?

Camilo não disse nada, apenas se afastou para que ela passasse e ficou sozinho a digerir as palavras que tinha escutado. Era contraditório como cada dia era mais surpreendido, pois esperava encontrá-la raivosa e a virar o quarto do avesso. E não em completa sensatez. Olhou para a aliança no próprio dedo, se perguntando o verdadeiro significado daquilo. Podia não dizer em voz alta, mas sabia que por muito bondoso que costumasse ser, ainda tinha suas próprias falhas. Começava pelo facto de ter permitido se casar com uma mulher que tinha falado mal da sua família em todos canais televisivos. A verdade é que por dentro talvez concordasse com o que foi dito, mas em nenhum momento seus familiares se preocuparam com o teor das palavras ditas, e sim com o bom sobrenome que pretendiam preservar.

Ele não era nenhum santo, muito menos tinha o direito de apontar Valquíria. Não se casara por causa do bebé apenas, queria sim muito ver a reacção de seus pais. Mas nunca encontrou nada mais do que profunda aceitação.

Andou de um lado para o outro e parou em frente da estante onde tinha o que sobreviveu da sua amada coleção. De repente tudo aquilo soou mesquinho demais e cogitou a possibilidade de ter os olhos abertos só para ver e não para enxergar além de tudo.

─ Pensando na vida, senhor Vaughan? ─ A voz dela quase o fez saltar no lugar não fosse ele ser um homem tão comedido. Voltou o pescoço lentamente, percebendo que a meio de seus pensamentos não tinha dado conta do tempo passar.

─ Às vezes faço isso. ─ Murmurou com um certo humor que arrancou gargalhadas sinceras vinda dela. E ficava tão bonita quando ria. ─ Vou me arrumar.

 ─ Vou me arrumar

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GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora