"Conflitos"

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Dedicado a todas vocês,

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─ [...] E a senhora é? ─ A directora do instituto Smithians para meninas, acompanhava a jovem grávida que tinha ido visitar o lugar. Era uma senhora alta e negra, com um aspecto rígido só pelo olhar e que contradizia com a voz suave de quem tem muita paciência.

─ Valquíria Hayes. A mulher do irmão de Cecile Vaughan. ─ Respondeu em sua desenvoltura normal. Tinha saído do trabalho directamente para ali, uma vez que a pequena cunhada estudava em tempo integral.

─ Oh, sim. Eu vi falar sobre a senhora no jornal. ─ A mulher tentou não ressoar nenhuma crítica, até porque sabia que quem estava de fora era o primeiro a julgar sem conhecer a verdade por trás dos factos. ─ É a...

─ Golpista. ─ Val completou já a ouvir o toque de saída e olhou para o relógio. Tinha informado a sogra que iria buscar Cecile pessoalmente na escola. ─ E pedagoga também. Tenho me preocupado com o comportamento da menina Vaughan.

A directora pigarreou e disfarçou uma risada que ficou entalada em sua garganta. A encaminhou pelo corredor que direccionava ao pátio, onde todas as estudantes formavam filas correctas e silenciosas.

─ Cecile é uma boa menina, mas acredito que a fase inicial da adolescência seja um dos factores de tanta rebeldia. É a única que sempre questiona tudo, trepa as árvores e prefere jogar bola sozinha do que dançar balé. ─ Afirmou. ─ Não tem sido fácil para as professoras e auxiliares.

─ Já pensou que é porque estão tentando formatar todas as alunas a serem iguais? ─ Questionou e enfrentou o olhar de advertência. ─ Sim. Mesmo se tratando de crianças podemos ajustar suas preferências ao modo de ensino para facilitar. Quem sabe um equilíbrio entre o que ela gosta e não gosta, resolvesse o problema?

─ Desculpe, mas o Instituto Smithians é muito conservador. As nossas directrizes são claras. Transformar tudo o que pautamos em prole de uma única estudante, seria um quanto inapropriado. Temos nossas normas devidamente estabelecidas e devem ser seguidas. ─ Fez uma pausa na grande porta do edifício de pedra. ─ A menina Vaughan está sendo acompanhada de perto por especialistas.

─ Quando podia estar claramente se adaptando a suas habilidades específicas. Ao invés de transformá-la numa bailarina de sucesso, antes forme uma equipe de futebol na escola. Acredito que terá menos problemas. ─ Val observou a confusão que se formava no pátio onde todas as meninas estavam alinhadas, menos uma que parecia xingar meio mundo com a camisa fora da saia e o cabelo castanho tão rebelde quanto a dona. ─ Foi um prazer.

A directora apenas acenou e ficou parada de braços cruzados a observar a jovem que se afastava sem pressa, assim como as estudantes que uma por uma saíam pelos portões logo que um responsável chegasse.

─ [...] Blood Mary! ─ Uma outra menina provocava enquanto disfarçava estar adequada na fila indiana. As outras riram quando Cecile mostrou o dedo do meio e a auxiliar chamou sua atenção.

─ Vim buscar você, vamos. ─ Valquíria foi prática quando a puxou devagar pelo braço, mesmo sabendo que ela iria se mostrar relutante.

─ O que faz aqui?

─ Acho que ouviu perfeitamente.

─ Eu não quero ir com você! Os meus pais onde estão? E o Camilo? ─ Questionou se afastando o suficiente com as mãos atrás como se escondesse alguma coisa. Havia gotas de lágrimas nos cantos dos olhos castanhos.

─ Que bom que eles não vieram para ver sua situação nesse momento, afinal sempre pensei que fosse uma menina afrontosa. ─ Valquíria disse e suspirou quando a viu parar e se sentar num dos bancos que estavam no pátio. ─ Vai deixar elas te provocarem de "Maria Sangrenta"? Ou só sabe destilar seu veneno quando é comigo?

GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora