"Solidão"

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Eliete desligou a chamada e se recostou na cadeira do seu escritório. Fazia um mês que sua irmã mais nova mal dava notícias ou se deixava enrolar numa conversa duradoura. Era estranho não saber o que estava a acontecer na vida dela desde que se tinha casado. Tinha prometido a Mona que cuidaria daquele assunto e tudo o que sabia até agora era que Val continuava a ir dar aulas todos os dias e afirmava estar tudo bem. Nada mais.

Passou a mão pelos cabelos ondulados e olhou para o relógio na parede que indicava que tinha chegado ao final do expediente. Seus trabalhadores já se tinham vindo despedir, tinha sido um dia de muito trabalho e estava louca para chegar em casa tomar um banho e fazer uma maratona de suas séries favoritas, o problema estava nas coisas que a mãe continuava a acumular por todos os lados e que a cada dia lhes conferia menos espaço. Eli já tinha pensado em sair de casa, dar entrada num apartamento. Inclusive seu próprio pai estava disposto a ajudar no que fosse, mas quando Monalisa começava a dramatizar que não queria ficar sozinha, pior agora sem a Valquíria, então acabava por ceder.

Desligou seu computador e o ar condicionado, arrumou suas coisas e apagou a luz da sua sala bem decorada em tons vibrantes e com uma parede cheia de bandeiras de vários países do mundo. Saiu em direcção a recepção e trancou algumas portas antes de se dirigir a saída, mas quando abriu a porta de vidro deu de cara com um homem que acabava de chegar.

─ Estamos fechados! ─ Ela deixou o sorriso esplêndido que afinavam ainda mais os seus olhos, escapar.

─ Não acredito. ─ Era um homem alto e magro com um corpo trabalhado sem cair no exagero. Tinha a pele num tom dourado, cabelos castanhos-escuros e a barba no rosto era curta e bonita que lhe cobria o maxilar de um jeito provocante. ─ Nem posso acreditar que não cheguei a tempo.

─ Sinto muito, mas está tudo desligado. ─ Eli pediu quase sem graça, olhando para trás a pensar se deveria voltar apenas para atendê-lo.

─ Nem pense nisso. ─ O homem tratou de retrucar com certa elegância. Usava roupas bonitas, nada formais. Uma blusa branca que se esticava no seu peitoral largo, de mangas curtas a mostrar os braços fortes e umas calças jeans. ─ Prazer, Sanjit.

─ Eliete. ─ Respondeu e esticou a mão para apertar. ─ Tem a certeza que não é importante?

─ Eu volto amanhã. Estarão abertos, não? ─ Indagou com os olhos castanhos certeiros. ─ Eu também trabalho e detesto que clientes cheguem quando estou de saída.

Hayes sorriu e acabou por apagar a última luz e fechar a porta trancando no processo.

─ Sim. Logo às sete da manhã.

─ Ótimo. Só preciso viajar daqui a três dias, mesmo que isso signifique jantar sozinho por mais um tempo. ─ Acabou por comentar e depois passou a mão pela cabeça. ─ Que indiscrição a minha, deve estar cheia de pressa.

─ Eu compreendo, se bem que para mim comer é imprescindível mesmo que não tenha companhia. ─ Afirmou colocando as chaves dentro da bolsa.

Sanjit sorriu com veracidade ao escutar as palavras dela.

─ Aceitaria me acompanhar então?

Eliete piscou.

─ Desculpa a minha ousadia, mas é a primeira pessoa com quem troco mais de três palavras sem que sejam meus trabalhadores. A solidão desgraça os miolos. ─ Tratou de se justificar, e tinha uma voz plena.

─ Não sei se é uma boa ideia...

─ Olhe. Eu vi um restaurante no final da rua, podemos ir caminhando e não precisa se preocupar com nada. Assim me fala um pouco mais sobre os itinerários da viagem que farei. ─ Insistiu. ─ Mas se não se sentir confortável eu compreendo. Acredite que também não sei de onde vem a coragem para lhe fazer esse convite.

GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora