"Conexão"

6.5K 1K 378
                                    

Os lábios de Monalisa secaram instintivamente junto da garganta que optou por fantasiar estar em completo Deserto do Saara. Mas o mais curioso era o corpo de metro e meio que se espremia contra as prateleiras desejando atravessá-las ou se materializar em algum objecto indiferente a olho humano. Especialmente àqueles daquele homem que nunca tinha visto e mesmo assim temia ser vista como se pudesse descobrir sua voz só de verificar seu rosto bonito.

─ Por favor, siga-me. ─ O colega foi educado ao afastar a cadeira e estender a mão que indicava o caminho entre as dezenas das prateleiras das bibliotecas que os levariam até ao local exacto onde se encontravam as obras requisitadas.

─ Obrigado. ─ O desconhecido sabia ser ainda mais galanteador só pela eficácia magnética em ser um bom receptor. Ou pelo menos era isso que Mona pensava enquanto tentava mover seus pés desobedientes do lugar. Puxou o banco para o lado e coçou a testa quando percebeu que iriam passar pelo corredor ao lado, então disfarçou prontamente averiguar qualquer dos livros que encontrou a sua frente, dando exactamente de cara com um manuscrito antigo do Kamasutra que tinha sido recuperado na totalidade para habitar aquela biblioteca.

Os castanhos olhos doces giraram para o canto sem necessariamente movimentar a cabeça, mas foi o suficiente para encontrar um par de olhos pretos inquisidores que a encaravam com atenção. Era um homem alto de cabelos escuros bem penteados para trás quase a roçar a gola da camisa branca, tinha lábios estreitos e um sobrolho acentuado no rosto pálido.

Monalisa se assustou e deixou o livro ir ao chão. As bochechas arderam ao perceber os olhos escuros penetrantes discorrerem para o título em evidência da capa virada para cima do livro no chão e em seguida o estranho virou o rosto e seguiu o funcionário que o conduzia um pouco mais a frente. O coração dela era um campo de experimentos de bombas atómicas, suas mãos estavam trémulas quando se agachou para apanhar o livro sem poder deixar de se sentir uma louca por reagir assim por causa de uma voz.

Não é apenas uma voz. Pensou consigo mesma a guardar o livro, e tinha razão. Era um rosto agora, bonito e totalmente diferente do que já tinha visto. Parecia uma escultura ambulante cheia de uma beleza fidalga.

─ Ben? Ben! ─ Sussurrou para o colaborador que regressava em seus passos silenciosos de carácter obrigatório ali dentro, mas como este não escutou, então o seguiu até ao balcão de atendimento.

─ Hayes. ─ Levantou os olhos admirados porque raramente a via parar de trabalhar nem por um segundo quando eram dias atarefados como aquele. ─ Algum problema?

─ Aquele homem que entrou, quem era? ─ Perguntou se inclinando e os cabelos balançaram para frente.

─ Er... ─ Ben pareceu ficar sem fala quando abriu a boca que escondia o aparelho dentário, mas logo voltou a fechar quase sem graça e olhando por cima do ombro da sua colega.

─ Arthur Kingsley.

Monalisa ficou estática e todo seu corpo a traiu ao imitar um mar congelado pelo inverno mais rigoroso, logo após ouvir a voz rouca responder por si mesmo cheio de uma confiança desconcertante. Virou-se devagar a rodopiar os calcanhares e inseriu um sorriso no rosto.

─ Monalisa Hayes. ─ Disfarçou um sossego que nem existia e se irritou com o sorrisinho lateral que subiu no rosto dele. Era debochado. ─ Sou a gerente da biblioteca.

─ Certo. ─ A voz sensual se arrastou pelo lugar, mas tratou de desviar os olhos escuros para Ben. ─ Ainda vou precisar de sua ajuda.

─ Claro. ─ O jovem voltou a levantar e olhou para Mona. ─ Pode cuidar do balcão para mim?

GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora