Capítulo 24

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Ryan Porto

Seria demais para pedir que tudo continuasse como estava? Calmo, felizes, completos, finalmente quando minha filha está bem e feliz, encontrou uma mãe-amiga ela simplesmente passa mal, tenho a impressão que não foi coisa Boa, e vem bomba por aí..

Clara- Bom eu já tinha uma suspeita e ela apenas acabou de ser confirmada pelos exames. - respirou fundo. - Surgiu um glioma no organismo de sua filha, do tipo astrocitoma, não sei ao certo quanto tempo está la, mas já esta.

Balancei a cabeça para os dois lados.

Eu- Eu não estou entendendo- Franzi a testa sentindo meu coração aos pulos desesperado. - Isso e algum tipo de doença? Não sei o que significa.

Clara- Glioma astrocitoma... significa tumor maligno cerebral. Um câncer que se dissemina por todo o cérebro e se mistura ao tecido normal do órgão muito rapidamente, tornando impossível uma operação.

Silêncio. Isso foi o que dominou o consultório. Eu não conseguia mais dominar meus pensamentos nem minhas emoções. Não sabia o que predominava em mim, ou se alguma coisa estava predominando... apenas ficamos em silêncio. Todos. Então vagamente percebi Mel balançar a cabeça para os lados.

Mel- Não. - Ela disse e soltou um risinho. - Impossível. Minha filha só tem cinco anos, doutora. Ela tem uma vida inteira pela frente, ela... não está doente.

Clara- Eu sinto muito.

Mel- Não. - Balançou a cabeça de novo e levou um tempo até prosseguir. - Não deve ser nada demais. Talvez uma virose, uma gripe, mas... câncer não. - Ela balançou a cabeça com determinação e riu de novo. - Os exames estão errados. A gente pode repetir, não pode?

Eu- Minha filha é uma criança! É uma menina linda e... forte, e... saudável. Ela é meu porto seguro, doutora. É tudo o que eu tenho. - balanço a cabeça negativamente. - Ela não pode morrer. - Uma pausa. - Ela não pode estar morrendo. As lágrimas escorreram pelo meu rosto e eu não tento evitar, minha filha meu Deus, meu bebê.

Mel- Ela não pode estar morrendo. - ela repetiu, dessa vez com uma voz mais fraca, e então se virou pra mim.

Seus olhos encontraram os meus e se prenderam um no outro. Os dela estavam brilhando com as lágrimas recém-formadas e sua mandíbula tensa denunciava o quanto estava se esforçando pra mantê-las dentro de si. Ela mordeu o lábio e desviou os olhos.

A parte lógica do meu cérebro estava debilitada. Ainda continuei imóvel, paralisado por vários segundos encarando a doutora enquanto ela me encarava de volta tentando secar as lágrimas.

Mel- Quanto tempo? - Perguntou.

Clara- Eu não sei dizer.

Mel- Sabe sim. Se não sabe você tem um bom palpite. Quanto tempo, doutora? Ela mordeu o lábio e desviou os olhos, ficando em silêncio por alguns segundos.

Clara- Pouco. - Disse por fim.

Eu- Anos? Ela fez que não.

Clara- Meses.

Meses... A palavra ecoou na minha mente algumas vezes antes de eu fazer a próxima pergunta.

Eu- Como vamos tirar isso dela?

A doutora me olhou e balançou a cabeça, seu rosto se contorcendo com a formação de novas lágrimas.

Clara- Podemos começar a quimioterapia e radioterapia, mas a doença já está muito avançada. Nada do que fizermos vai adiantar de muita coisa.

Comprimi meus lábios, a raiva atingindo um grau que eu ainda desconhecia, nível máximo. Não, acima disso. Me aproximei até sua mesa devagar e apoiei as duas mãos sobre ela, me inclinando.

Eu- Eu tenho dinheiro pra comprar metade dessa cidade. Temos bilhões... e bilhões... e você está me dizendo que nada do que a gente tem pode salvar a vida dela?

Clara- Eu sinto muito

Eu- Não. - me levantei. - Você não sente.

Saí do consultório sentindo uma necessidade avassaladora de descontar minha raiva em alguma coisa. Eu tinha a sensação de que iria explodir. Por que esse maldito dia tem que existir?

Sai da sala com Mel ao meus pés, ela parou no corredor e ficou ali congelada, imóvel, mas isso foi apenas até eu a envolver em meus braços.

Então ela desabou.

Ela me abraçou e me apertou com força, enterrando o rosto em meu ombro e chorou.

Gemeu.

Gritou.

Soluçou.

Chamou atenção dos enfermeiros.

Perdeu a força das penas.

Chorou mais.

Eu lutei contra as lágrimas. Eu precisava ser forte. Precisava ser forte por ela, mas era a minha filha e eu fui incapaz de protege-la disso. E eu me controlei o quanto pude. Segurei minhas lágrimas e meu desespero até não aguentar mais, e quando vi Lucas entrar pela porta, ela ainda não estava nem perto de se acalmar e eu estava a ponto de explodir.

Ele me olhou, a piedade e tristeza em seus olhos era visível pra qualquer um, então se aproximou de mim e tirou Mel dos meus braços devagar, abraçando-a contra si.

Lucas- Vá. - Ele mexeu os lábios sem emitir sons.

Mel abraçou Lucas, chorando, soluçando e gemendo dolorosamente contra o seu peito. Olhei pra ele como se quisesse dizer: "Cuida dela por mim" e ele entendeu, porque balançou a cabeça que sim. Eu a olhei mais uma vez, me virei e saí, passando pela porta da sala de espera onde Isa chorava como uma criança abraçada ao Pedro, que devia ter chegado enquanto estávamos no consultório.

Sai e entrei em meu carro, Inclinei minha cabeça pra trás, contra o encosto da poltrona e tentei controlar minha respiração.

Eu preciso ser forte... eu preciso ser forte... mas de onde se tira forças em uma situação como essa?

Eu não vou aguento perder a minha filha.

Os pais protegem seus filhos, mas como eu posso protegê-la contra a vida?

Como posso protegê-la contra uma doença incurável?

Como posso protegê-la contra a morte?

Por que logo ela?

Fechei os olhos e as lágrimas se desprenderam. Mordi o lábio inferior e chorei. Bati no volante com toda a força, descontando minha raiva. Bati de novo, de novo, de novo e de novo tentando concentrar toda a dor na minha mão e ignorar o insuportável sentimento da minha alma ter sido arrancada de mim. Chorei.

Por que logo ela?

Por que não eu que já fiz tanta coisa errada na vida e já vivi o suficiente?

Por que logo ela?

A Babá perfeita COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora