Capítulo 25

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Mel Côrtes.

Lucas teve paciência o suficiente pra permanecer me embalando até que eu acalmasse o desespero extremo que tomou conta de mim, e quando enfim consegui controlá-lo, voltamos juntos à sala da Clara. Ela me permitiu ficar no quarto com minha filha, e Lucas continuou junto a ela em seu consultório.

Enquanto eu seguia o enfermeiro que Clara chamou pra me acompanhar até o quarto onde Lisa estava, meus pensamentos viajaram momentaneamente em Ryan. Onde ele estava? Eis eu que tinha que ser forte por ele e por ela, mas eu não consigo, uma das pessoas que eu mais amo, está entre a vida e a morte.

- Eu sinto muito por ela. - O enfermeiro disse ao parar na frente de uma porta fechada no longo corredor.

Sorri fraco como forma de agradecimento e abri a porta devagar. Encontrei minha filha dormindo tranquilamente na única cama do quarto, com sua expressão suave de criança inocente de cinco anos. Criança doente.

Engoli em seco disposta a não permitir que as lágrimas deixassem meus olhos outra vez e me aproximei dela devagar. Ela parecia tão bem... tanto quanto todos os dias em que eu ficava acordada cuidando dela até altas horas da madrugada e a encontrava dormindo no quarto. Seus olhos fechados, sua expressão relaxada, sua barriga subindo e descendo suavemente com sua respiração regular... Será que naquela época ela já estava doente sem que eu soubesse?

Me sentei na cadeira ao seu lado e segurei sua mãozinha, sentindo meu coração ser esmagado com a ideia de quantas vezes mais eu teria a chance de vê-la dormir. Não, eu não pensaria nisso agora.

Eu não daria brechas pras lágrimas serem formadas, e consequentemente elas não iriam se soltar dos meus olhos. Eu já chorei demais, e estava bem certa de que ainda iria chorar... mas não perto dela.

Me esforcei pra deixar minha mente totalmente livre de qualquer pensamento e devo admitir que fiz um bom trabalho. Apenas fiquei olhando pra minha filha em silêncio, tanto por fora quanto por dentro.

Nada precisava ser dito.

Nada precisava ser pensado.

Tudo já estava do jeito exato que o universo queria que estivesse.

Não sei por quanto tempo fiquei olhando para o seu rosto sereno. Segundos? Minutos. Até ouvir a porta ranger aberta atrás de mim. Me virei, e quando meus olhos encontraram os de Ryan, as lágrimas voltaram.

Ryan- Posso entrar? - Ele perguntou baixinho. Ele voltou...

Seus olhos estavam vermelhos e sua voz suave, porém controlada. Ele também chorou. Balancei a cabeça que sim lentamente, incapaz de pronunciar qualquer palavra. Eu sabia que se fizesse isso, tentar controlar as lágrimas seria inútil.

Ele fechou a porta e se aproximou de mim devagar, se sentando na outra cadeira disponível. Eu fiquei o olhando por alguns segundos, então focamos nossa atenção na Lisa.

Por um tempo não dissemos mais nada, mas o silêncio foi bem vindo até eu rompê-lo com uma voz baixa e distante:

Eu- Eu sinto muito Ryan, vai dar tudo certo. Eu acredito que sim.

Ryan- To com medo Mel, minha filha está morrendo e eu não posso fazer nada.

Eu- Eu também tenho medo Ryan, ela também e minha filha, desde quando eu a vi a 5 meses atrás, eu não a quero perder, ela e tudo pra mim, você e tudo pra mim.

As lágrimas estavam de volta, e dessa vez mesmo apertando os lábios, eu não consegui controlá-las. Ele fez que não com a cabeça deixando que elas rolassem.

Ele me abraçou, descansando minha cabeça sobre seu peito.

Ryan - Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Nossa filha vai ficar bem, eu acredito em Deus.

Eu não queria chorar perto da Lisa. Ela sempre devia pensar que eu era forte, mesmo que eu me sentisse a pessoa mais frágil do mundo... Mas agora eu simplesmente não conseguia controlar. Chorei baixinho contra o peito do Ryan.

Chorei pela sua doença.

Chorei por saber que ela estava morrendo.

Chorei por saber que eu não podia fazer nada pra mantê-la comigo...

Apenas chorei.

Eu- Vai ficar tudo bem... - eu repetia com a voz controlada vez ou outra. - Eu estou aqui. Estou com você. Vamos passar por isso juntos... Ryan.

Ryan- Ela está acordando...

Não! Soltei rapidamente a mão da Lisa e me afastei dele, secando meu rosto e engolindo as lágrimas.

Lisa- Ei, papai. - Ouvi sua vozinha antes de me virar pra ela.

Ryan - Oi, meu amor.

Lisa- Ei, mamãe. Olhei pra ela sorrindo.

Eu- Oi, princesa. Você está bem?

Ela voltou seus olhinhos sonolentos para o braço, onde a agulha estava inserida, conectada à mangueira que por sua vez era conectada ao soro.

Lisa- Eu to dodoi? Eu num gosto disso, mamãe. Eu quero ir pra casa.

Respirei profundamente, tirando forças do meu âmago pra manter as lágrimas escondidas.

Eu - É pro seu bem meu amor, já já você vai ficar Boa.

Lisa - Vem cá mamãe ... - Lisa abriu o bracinho me chamando pra um abraço.

E Eu a abracei, e mesmo tentando controlar, os soluços voltaram.

Eu- Eu te amo tanto, minha princesa... - Falei chorando. - Tanto, tanto, tanto...

Lisa- Eu também, mamãe.

Fiquei abraçada a ela até ela perceber que eu estava me acalmando.

Lisa- Eu tô cum fome. - Resmungou.

Me levantei, secando o rosto.

Eu - Mamãe vai atrás de uma sopa e um bolo de chocolate pra você tá bom. Cuida do papai.

Lisa- Papai vem cá, precisamos conversar.

Ryan- Tá bom amor.

Eu- Estão me expulsando e?

Lisa- Só um pouquinho mamãe.

Eu- Tá bom ne. Eu ri.

Ryan me deu o dinheiro pra comprar o que Lisa pediu, e como eu não encontrei sopa no refeitório do hospital, precisei procurar um restaurante na rua. Demorei um pouco mais do que eu gostaria, E quando voltei encontrei Isa, Lucas, Pedro e Liam, chorei mais um pouco.

Eu- Trouxe visitas. - Falei me esforçando pra manter minha voz firme e um sorriso no rosto ao abrir a porta do quarto.

Lisa- Tia Isa! - Lisa arregalou os olhos, seu sorriso nos contagiando.

Eles foram até ela e começaram a conversar.

Eu- Ela ficou bem? - Perguntei ao Ryan. Ele fez que sim com a cabeça e beijou minha boca rapidamente, provocando um frio na minha barriga.

Ryan- Ficamos conversando.

Eu- Ela sentiu alguma coisa?

Ryan - Não. - Ele sorriu. - Na verdade, ela está bem animada. Sorri de volta.

Eu- Isso é bom. - Me voltei para ela. - Trouxe sua sopa. Vamos comer?

Lisa - Vamos! - Lisa tirou o pratinho e a colher da minha mão.

La- Eu quero comer sozinha.

Me virei pro Ryan que sorriu.

Ryan- Filha, papai pode te ajudar.

Lisa - Não preciso papai. Obrigada.

Tudo estava bem até o momento e nos acreditamos num milagre.


A Babá perfeita COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora