Apertei o botão do interfone da casa de Carolina e só depois me dou conta do que estava fazendo, as lágrimas que já tinham parado voltaram a escorrer.
-Alô?
Era a voz da Carol, custei a conseguir falar pois o choro não parava
-Carol... desculpa, eu não sabia pra onde ir
-Maria? O que houve?
Ela parecia realmente preocupada. Tento responder mas não consigo parar de chorar. Nem percebo quando Carol desliga o interfone. Só percebo quando o portão abre. Entro e Carol está me esperando em frente ao elevador. Por um instante paro de chorar para observar sua beleza. Ela estava de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Seus cabelos castanho escuro presos em um coque bagunçado, usava um short e uma regata pretos, seus pés estavam descalços e as unhas pintadas de preto. Quando lembro do meu estado começo a chorar novamente.
-Meu Deus, o que aconteceu, meu amor?
Carol pergunta. Ela me chamou de meu amor!
-Alguém... fez iss...
Não consigo parar de chorar, Carol me guia até o elevador, depois ela me leva até o banheiro. Enquanto tomo banho ela pega algumas roupas limpas para me emprestar. Ela não tem noção do quanto aquilo está significando pra mim.
...
Quando desligo o chuveiro Carol bate a porta perguntando se está tudo bem, visto a camiseta que ela me emprestou e abro a porta. Ficar sozinha me fazia lembrar do que aconteceu e eu não queria isso.
-Pode ficar aqui comigo?
Perguntei ao envés de responder.
-Claro! -Ela entra no banheiro, a vejo pelo reflexo do espelho enquanto visto o short -Quer falar sobre o que aconteceu?
Neguei com a cabeça
-Quero conversar sobre alienígenas!
Ela ri. Eu a encaro fixamente ainda pelo reflexo do espelho
-É sério!
-Tá bom, tá bom. Então o que você acha de assistirmos homens de preto?
-Acho ótimo!
Carol balança a cabeça e ri. Não ligo, ou finjo que não ligo. E apenas seco meu cabelo.
-Me empresta um pente?
Carol que estava atrás de mim confirma com a cabeça e se aproxima. Ela apóia sua mão na pia ao lado da minha fazendo com que nossos dedos mindinhos se toquem. Eu conto nossos dedos mesmo sabendo que somariam dez, mas acho que fiz isso apenas para ter um motivo para não desviar o olhar de nossas mãos assim. Lado a lado. Eu gostava disso. Gostava muito. Carol me fazia sentir coisas que eu sequer imaginava que poderiam existir. Mas eu não sabia muito bem o que era isso.
Em questão de instantes Carol tira o pente da gaveta e me entrega. Mas na minha mente, horas se passaram até isso acontecer.
...
Depois fomos assistir homens de preto. Já eram quase cinco horas de manhã e eu me perguntei porque nossos encontros eram sempre a noite. Carol falou para assistirmos em seu quarto, e eu fui. Sentei em sua cama enquanto ela colocava o filme. Eu nunca tinha visto tanto de seu corpo a mostra como naquele dia, nos shows e até nas fotos ela sempre está com manga comprida e calça. Ah, e sempre pretas. Eu não sabia muito bem o que estava sentindo. Mas desejava poder sentir a pele dela sob os meus dedos. Ou em muitas outras partes do meu corpo... Depois de um tempo pensando nisso percebo o que estou fazendo e balanço a cabeça para afastar esses pensamentos.
Carol deita na cama ao meu lado e indica para que eu faça o mesmo. Faço. Ela vira de lado e olha fixamente em meus olhos, e eu nos dela. Ela começa a fazer carinho no meu braço com as pontas dos dedos. Não tiro meus olhos dos dela. Nunca tinha reparado o quanto eles eram lindos. Um castanho acinzentado, uma coisa que eu nunca tinha visto antes. Depois do que pareceu uma eternidade, Carol finalmente diz
-Tem certeza de que não quer me contar o que houve?
Penso por um instante e resolvo contar. Conto tudo e Carol me escuta com atenção. Depois ela diz que o melhor a fazer é contar para Ale o que está acontecendo. Eu digo que irei fazer isso. Ou tento dizer. Porque ali em sua cama. Com seus maravilhosos olhos me encarando e seus dedos passendo em minha pele. Eu finalmente consigo dormir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Carolina
SpiritualAnna Júlia é uma carioca que namora a famosa cantora de mpb Carolina Rodrigues. As duas se envolvem em um acidente de carro e infelizmente Anna não resiste. Dois anos depois, em Minas Gerais nasce Maria Lúcia, e assim que conhece Carolina Rodrigues...