CAPÍTULO 16

206 18 7
                                    

Quando cheguei ao campo lá estava Carolina, sentada na grama. Exatamente como eu imaginava. Ela não teve reação alguma ao me ver. Fiquei confusa ao ver um cigarro aceso em sua mão.
-Não sabia que fumava
Falei sentando ao seu lado
-Só fumo quando estou triste
Ela deu um trago e fechou os olhos soltando a fumaça. Quando finalmente me encarou vi que seus olhos estavam vermelhos e sua maquiagem borrada. Como se tivesse chorado.
-Faz mal
Falei olhando para seu cigarro
-Amar também! -falou me encarando fixamente, deu outro trago no cigarro e então continuou -Depois de Anna Júlia eu nunca mais tinha amado ninguém. Ninguém, Maria. Até você aparecer. Posso te dizer que foi desde a primeira vez que te vi. E o que eu sinto por você é realmente inexplicável. Maria, eu pensei muito. E eu não sei se você é Anna Júlia, mas eu sei que ninguém nunca amou alguém como eu amo você!
Apesar de estar se declarando pra mim Carol parecia triste, talvez por ter lembrado de Anna, não sei. A única idéia que me ocorreu foi provar a ela que eu realmente era Anna Júlia. Então comecei a falar. Sem a encarar, pois eu não sei se conseguiria
-Eu lembro de quando nos conhecemos. Foi aqui. Você veio porque estava triste e eu porque estava feliz. Quando me viu aqui levou um susto. Um tempo depois descobri que era porque você achava que só você sabia da existência desse lugar. Eu sorri quanto te vi e você sorriu também. Foi nesse momento que me apaixonei por você. Meu nome ainda era Anna Júlia. Quando já namorávamos prometemos não contar pra ninguém sobre este lugar. E eu cumpri minha promessa.
Quando olhei pra Carol ela me encarava com os olhos cheios de lágrimas. Ela sorri e leva uma mão a boca. Eu apenas a encaro. Ainda sem reação em meio a tudo que está acontecendo. Carol apenas se aproxima e me abraça. E eu a abraço. Ficamos por uns cinco minutos, abraçadas em silêncio. Mas não foi um silêncio desconfortável, foi bem o contrário. Parecíamos estar matando a saudade e no fundo acho que realmente estávamos.
...
Ficamos um tempo no campo conversando. Carol teve uma crise de riso quando contei pra ela que estava matando aula para estar ali. Ela perguntou se eu queria que ela me levasse até o colégio. Falei que já não dava mais tempo de entrar e provavelmente ligariam para minha mãe. Como minha casa estava vazia falei pra ela me levar pra lá. E nós fomos.
-Quer entrar?
Perguntei assim que paramos no portão. Carol confirmou com a cabeça e entramos. Sentamos no sofá da sala e ficamos conversando. Até que Carol pediu
-Posso ver seu quarto?
Eu ri
-Por quê?
-Sei lá, o quarto diz muito sobre a pessoa. Quero saber mais sobre você...
Ela sorri
-Então vamos
Comecei a subir as escadas, mas me arrependi ao lembrar que em todas as minhas paredes tinham pôsters dela. Abri a porta e indiquei para que Carol entrasse. Quando viu as paredes ela riu
-Ual! Você é minha fã mesmo
Eu ri
-Desde os cinco anos. Mas a melhor parte do quarto não é essa.
Abri a porta que dava para a varanda, Carol me seguiu até ela
-É aqui que você passa suas noites de insônia vendo as estrelas?
-É aqui mesmo. E normalmente ouvindo suas músicas
Ela riu
-Tenho que ir, Maria. Foi bom passar um tempo com você.
Sorrio
-Foi bom passar um tempo com você também. Mas não vai, Carol
-Desculpa, mas tenho um compromisso. O que acha de sairmos sábado?
-Claro! Lá no campo?
-Sim. Eu venho te buscar.
Concordei e descemos as escadas. A acompanhei até o portão. Antes de entrar no carro Carol me abraçou. Depois colou nossas testas e narizes e ficou por um tempo olhando em meus olhos. Até que desviou seu olhar para minha boca. Eu não pude resistir e olhei para a dela também. Nossas bocas nunca tinham ficado tão próximas e pela primeira vez eu senti vontade de beija - lá. Carol voltou a olhar para meus olhos. Então fez carinho em minha nuca, se afastou e entrou no carro.

CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora