Capítulo 30 - Miguel

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Ele estava no escritório, quando um criado viera lhe avisar que a esposa e o lacaio já haviam retornado da viagem.

A mesa do café já havia sido recolhida. Miguel pensara que ela poderia chegar mais cedo para comerem juntos, mas a torre de comando que tinha contato com os pilotos lhe havia informado que o voo havia sofrido um pequeno atraso, por conta das alterações climáticas.

Ele ficou decepcionado ao ver Leonel sozinho indo ao seu encontro no corredor, parecendo exausto, mas mantendo sua postura profissional de sempre.

— Bom dia, senhor Miguel — cumprimentou o lacaio. — A viagem transcorreu conforme planejado, apenas tivemos que esperar um pouco antes de...

— Onde está Berenice? — Miguel lhe perguntou rispidamente, ignorando os relatos do empregado.

— A senhora Berenice se recolheu em seus aposentos, estava exaurida da longa viagem — Leonel informava, como um sobrevivente de guerra.

— E como Christian a recebeu? Você foi vê-la como lhe ordenei? — inquiriu o patrão, em um tom mais baixo.

— Sim, senhor, eu entrei na empresa, sem que ela me visse. Pelo que ouvi, o senhor McDill não estava lá. Quem a recebeu foi a senhora Miller.

Miguel sentiu suas veias do pescoço se dilatarem ao ouvir o nome daquela mulher e de imaginá-la conversando com Berenice. Aquilo só podia ser um pesadelo, ela não poderia arruinar mais um de seus casamentos. Devia ter dado um jeito nela quando pôde, mas, ao invés disso, contraiu mais um matrimônio. O louco devia mesmo ser ele.

— Não pude ouvir o que conversavam, — continuou Leonel com seu relatório — mas parece que a mulher ficou muito satisfeita. Quem não me pareceu muito bem foi a senhora Berenice, que retornou calada e bastante incomodada.

Despedindo-se do empregado e permitindo que ele descansasse um pouco, Miguel foi atrás da esposa, em seu quarto, imaginando como ela o trataria agora. Imaginou ser difícil maior frieza do que da última vez que se viram, mas, com Gabrielle na história, já não duvidava de mais nada.

Entrando com cautela no quarto, encontrou Berenice olhando pela janela, parecendo muito alerta, apesar da cansativa viagem.

Tomando fôlego, fechou a porta e se aproximou dela, preparado para tudo.

— Essa é a hora que você me agradece pela viagem — disse em voz alta, ficando a uma distância segura dela, atento a qualquer reação.

Berenice levou um instante para se virar e, quando o fez, surpreendeu Miguel com um sorriso no rosto.

— Obrigada, meu amor — ela lhe disse, indo em sua direção e lhe dando um caloroso abraço. — Obrigada por ter feito isso por mim.

Miguel estava tão tenso, que não conseguia abraçá-la de volta. Aquilo tudo era muito estranho, tendo em vista que Berenice não parecera tão satisfeita para Leonel.

— Conseguiu conversar com o homem? — Miguel perguntou, afastando-se um pouco de Berenice e olhando-a, desconfiado. Queria testar a palavra dela.

— Não, ele não estava. Falei com a sócia dele, a Gabrielle. — Ela parecia estudar o rosto do marido ao mencionar o nome da mulher. Miguel não conseguiu disfarçar seu incômodo.

— Eu sei quem ela é, é o braço direito da empresa — declarou, sentindo de novo a lembrança daquela mulher lhe trazer náuseas.

— É, ela falou que vocês se conhecem. — Miguel se contraiu ainda mais. — Mas eu tive a sensação de que ela não faz uma ideia muito boa de você, mesmo tendo devolvido o dinheiro a eles.

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