Capítulo 31 - Miguel

27 4 3
                                    

Não demorou nem um minuto inteiro para Miguel se dar conta do grande erro que cometera e sair correndo atrás dela. Berenice havia dito que ia embora, e ele simplesmente permitira. Mais do que isso, terminara de expulsar a única pessoa amada que restava em sua vida desgraçada. Ele não passava mesmo de um louco idiota.

Desceu depressa as escadas, perguntando-se para onde ela teria ido. Ir embora significaria, obviamente, atravessar os portões da mansão, mas ela não tinha pegado nenhuma de suas coisas no quarto. Não podia ir embora sem suas coisas. Nem sem seu devotado marido.

Mas a saída da casa foi exatamente para onde um empregado indicou que ela havia se dirigido, há poucos instantes. Se não a alcançasse depressa, correria o sério risco de perder mesmo sua mulher, e essa constatação fez com que ele beirasse o desespero.

Foi no mesmo portão para onde ela havia corrido da outra vez, quando ele lhe contara seu grande segrego, que Miguel encontrara Berenice, agarrada, mais uma vez, às grades de metal. Sentiu um alívio tão grande ao ver que ela se detivera ali que teve que abrir um sorriso.

Quando correu em sua direção, porém, chamando-a para implorar seu perdão, ela olhou para trás assustada e, sem pensar duas vezes, abriu o portão e correu rua afora.

— Não, Berenice! — gritou, enquanto os seguranças ficavam a postos, aguardando uma ordem do patrão.

Mas Miguel não deu ordem alguma aos seguranças. Se não fosse ele a detê-la, convencendo-a a ficar, não seria mais ninguém.

Berenice corria rápido, mas Miguel estava determinado a alcançá-la. Não deixaria aquele amor protegido de seus poderes sair de sua vida. Era o único que teria a chance de manter.

Antes de chegar à esquina, ele alcançou o braço dela, precisando segurar com alguma força para ela não lhe escapar.

— Berenice, por favor, me escuta — pedia, recebendo um olhar mais que revoltado sobre si.

— Eu não quero te escutar! — ela gritou, debatendo-se para que ele a soltasse. — Não quero ver você nunca mais!

— Por favor, você precisa me ouvir. — E, fechando os olhos, conseguiu que ela se aquietasse por um instante em seus braços e lhe desse a chance de falar. — Eu amo você de verdade, Berenice. E eu juro que não fiquei esse tempo todo te enganando. Você precisa acreditar em mim!

Um silêncio agonizante se instaurou entre os dois, enquanto Miguel se obrigava a manter os olhos fechados. Enquanto ele estivesse sem sua arma, ela, talvez, baixasse sua guarda.

— Sim, você me enganou — ela disse, finalmente, com a voz agora mais controlada, mas terrivelmente dolorosa. — Eu sei que me engana. Eu sei, porque eu ainda me recordo de muitas coisas sobre você que me enojam e, a cada dia, tenho descoberto mais coisas terríveis sobre você. E, mesmo assim, meu amor continua. Mesmo assim, eu quero você a cada dia, eu não consigo ir embora, e sinto que preciso desesperadamente de você. Você me aprisionou nessa droga desse amor que eu não consigo me livrar, e eu sei que eu nunca amaria alguém sabendo o que sei! Nunca!

Miguel, então, abriu os olhos, sentindo-se curado e abençoado com aquelas palavras. Berenice o amava verdadeiramente, como nenhuma esposa o amou. Ele sabia que, de todas as coisas em que poderia tê-la manipulado, nunca manipulou seu sentimento em relação a ele, nunca a fez confiar nele, muito menos, amá-lo.

Atirando-se, então, sobre ela, ele a abraçou com força, doente com o amor que sentia por aquela criatura.

— Ah, meu amor, meu amor — ele dizia, enterrando seu rosto nos cabelos dela, enquanto ela se debatia furiosamente em seus braços.

— Eu te odeio, Miguel, eu odeio muito você por isso — ela gritava, querendo se livrar daquelas garras diabólicas ao seu redor.

Rendida, depois de muita luta, Berenice se aquietou nos braços de Miguel, chorando convulsivamente, devolvendo, com seu abraço, o ar que ele respirava.

— Por favor, Berenice, você tem que acreditar em mim — ele repetia, sua voz uma súplica, fazendo vibrar o pescoço dela, onde ele apoiava o queixo. — Eu estou falando a verdade. Apesar das coisas que eu deixei de te contar, eu nunca menti para você, meu amor sempre foi verdadeiro.

— Para, para de dizer isso! — era a vez dela suplicar. — Faz logo o que você tem que fazer, me controla de uma vez, mas não me tortura mais assim!

— Não, eu vou provar para você, eu vou te convencer, mas não desse jeito. Você vai acreditar em mim. Tem que dar certo — ele sussurrava, mais para si. — Tem que dar certo dessa vez, meu Deus, eu não consigo mais perder ninguém.

Berenice, então, colocou a cabeça para trás, para analisar o rosto do marido. E a feição absolutamente contrita e entregue dele a fez pensar que não era só com as palavras que ele mantinha o controle sobre as pessoas. A verdade dos sentimentos que ele estava exteriorizando estava quase fazendo-a acreditar nele novamente.

---


*** Leitores, este capítulo foi introduzido após a última revisão do texto, portanto, os que leram a história antes dessa revisão não leram essa parte. Ela não modifica o enredo, mas vi a necessidade dessa cena extra. Continue com a versão original a seguir.***

O Programador de LembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora