Desejo de Justiça.

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Adib Jatene


Depois de atender Jonas segui para a minha sala para preparar o pedido da ECT, eletroconvulsoterapia ou terapia de choque. Meu desejo é conseguir fazer esse monstro parar de respirar em alguma das seções. Psicopata sanguinário. Deveria ter ido para a cadeira elétrica a anos.

Jonas Bencke já matou mais de vinte mulheres, adultas, crianças, idosas. O louco não tem limites. É um verme. Não é possível reverter o desejo que o rapaz de 28 anos tem pelo líquido rubro. Todas as terapias existentes até agora foram testadas e descartadas. Nem mesmo o choque dura por muito tempo, apenas o deixa lento, com dores. Impede que corra. Impede que mate.

Minha aluna foi dada como morta hoje durante a madrugada. Causa da morte? Choque.

O corpo de Olímpia não suportou perder tanto sangue, não suportou as milhares de bactérias presentes na boca desse monstro, não suportou as vértebras quebradas. Caso sobrevivesse seria refém de uma cadeira de rodas, refém de aparelhos. Ela estava sobre minha responsabilidade. Novamente eu falhei. Falhei com Olímpia, falhei com sua família que a espera em casa. Maldito Bencke.

Terminei o pedido e guardei as folhas na pasta de pedidos de exames. Em breve vou cozinhar aquele assassino.

As horas arrastaram-se até eu ouvir o som.de briga no pátio. Minha paciente. Mandei que a trouxessem até a minha sala e a encarei com seriedade. Parecia maravilhada com o lugar. Seu rosto está ferido. Busquei uma bolsa de gelo e me aproximei da menina, encostando-a em seu rosto com cuidado. Talvez precise de pontos na boca...

- O que houve? - Perguntei encostado na mesa enquanto deixei a bolsa alternando entre o roxo do olho e do lábio. Tinham escoriações em joelhos e cotovelos. Céus! Como consegue se ferir tanto?

Me preocupa quanto aos males que os ferimentos podem lhe causar. Antibióticos são raros, difíceis de se conseguir por aqui.

-O chão estava quente. Tinha uma sandália. O moço mandou eu pegar. Eu peguei. Aí, a moça brigou, ficou chateada, disse que era dela... Mas ela já tem uma! Eu só queria que o pé não ardesse... O chão é quente. - Só queria uma sandália. Me levanto e vou até meu armário, buscando uma sandália de dedo rosa clara, então ofereço a ela, que finalmente abre um sorriso e puxa o ítem de minhas mãos, abraçando-o como uma peça rara.

- Um presente?! Presente para mim? - Pego-me sorrindo. Definitivamente é a paciente mais inocente desse lugar, tem uma doçura única no olhar, tem também uma tristeza lá dentro. Uma tristeza tão grande que não deixa o sorriso durar. - Herói, eu quero contar uma coisa.

Herói; não é o apelido que mais combina comigo, mas resolvi não discutir. Ela queria falar e, uma interrupção agora poderia a calar. Talvez esse processo de transferência seja útil para o tratamento.

Sarah conta sobre a primeira vez que ouviu a voz de comando; Seu irmão havia acabado de nascer, não devia ter mais do que dezesseis anos na época do ocorrido. De certo é um caso raro e grave. Bem grave.

- Eu tô preocupada com irmãozinho... Sarah machucou ele.

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