Sandália.

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Sarah Casten

Ele foi embora e eu fiquei sozinha de novo. A noite foi grande. Grande demais. Não estava frio, o cobertor deu jeito no meu treme-treme. Não dormi. Não dormi mas fiquei quietinha para não verem que estou acordada. Iam querer dar mais remédios. Não quero remédios. O dia chegou e abriram a porta, eu levantei devagarzinho e fui olhar. Meus pés quentinhos encostaram no chão gelado. Em casa eu não podia andar descalço. Andei até a porta. Ganhei remédios. Muitos! Seis! 

— Não tome! – Bati na mão do moço e joguei no chão todos eles.

Sarah fez malcriação! Fez sim! Forçaram o remédio para tomar. Sarah não queria! Não podia! A voz não deixa. O moço força a Sarah a tomar. Precisei engolir ou iam me furar.

Segui para onde outras pessoas com roupas iguais as minhas andavam. Muitas pessoas. 

Era um lugar aberto e o chão estava quente. As pessoas eram esquisitas, meio tortas... O chão é de cimento, áspero. 

Sentada no cantinho olhei as pessoas. Quem seria o moço mau? Ele tentaria me matar na frente de todo mundo? 

– Ele está perto! – O moço fala. Eu me encolhi e fiquei no meu cantinho. Coloquei a blusa na cabeça para ele não me reconhecer. Não pode! Coloquei minha testa encostada nos joelhos e o sono veio. Por que durmo tanto de dia e não consigo dormir a noite?

Estou em casa. Não machuquei irmãozinho. Não tem voz. É tudo bonito com flores. Não abandonaram. Estava no meu quarto com mamãe, papai e irmãozinho. Fica aqui, irmãozinho! Não foge de mim! Porque está com medo? Sarah suja! Muito suja. Sangue nas mãos. Mamãe e papai não estão mais lá! Por que deixaram a Sarah sozinha?! O moço mau vê meu irmãozinho! Tento correr para salvar ele! Não machuca meu irmãozinho! Ele sumiu. Só sobrou eu. Sozinha no escuro. O meu quarto é uma sala escura e pequena. Ela encolhe! Esmaga a Sarah! Deixa eu respirar! Deixa!

Abri os olhos no susto. O sol quente está queimando minha pele branquinha. O chão está quente! Muito quente! Eu preciso de um sapato. Uma sandália ali. Ali do lado.

– Pegue! Pegue para você. – Coloco no pé e agora o chão não incomoda. 

– De joelhos. – Porque a voz tem sido tão má? Todos estão me olhando. O chão está quente. 

Me puxaram pelo cabelo. Isso dói! Dói muito! Eu preciso ficar de joelhos, não em pé! Não posso!!

– Essa sandália tem dona! – Ela briga! Ela dá medo. Te cabelo curtinho, cacheado. Poucos dentes, dentes pretos... Muitas olheiras. Concordo com a cabeça. Só peguei porque o chão estava quente! Queimava meu pé.

– Não sabia. Desculpa. – Pedi baixinho. Por que ela tem sandália e eu não tenho?

– Devolve! – Puxou meu pé. Puxou e caí no chão, machucando o cotovelo, o joelho... Arde! Chute. Dói! Dói meu rosto, minha barriga! Moça, para! Está doendo! Eu prometo que não roubo mais! Eu prometo! 

– De pé. – Não consigo! Não respiro! – DE PÉ! – Ele grita! Está bravo! Levanto com dor. Como dói! 

Ela acha que estou desafiando! Não estou. Ela não tem muitos dentes e ri acertando eu. Acerta meu rosto. Cortou minha boca, machucou mais. Machucou a Sarah.

– REVIDE, FRACA! REVIDE!! – Moça, desculpe! Não machuquei de propósito!  Desculpa ter jogado no chão! Eu não quis bater sua cabeça no cimento! Está quente! Agora a mão de Sarah está suja de novo! Limpa, limpa, limpa! O uniforme está sujo. Todo mundo olha! Olham a Sarah tomar injeção de novo. Me tiram do sol. Não pode dar tanto remédio para Sarah. Dá muito sono. Faz mal!

É a sala do herói? Que lugar bonito. Colorido. Muitas luzes coloridas... Que luzes bonitas. Herói? 

Island AsylumOnde histórias criam vida. Descubra agora