Exame de sangue.

98 12 2
                                    

Sarah Casten

Sarah não dormiu. Não dormiu e ficou presa no casaco branco. Presa sem empurrar o moço torto. Ele machuca eu... Ele machuca muito eu! Igual foi naquele dia! Sarah tenta fugir dele, mas ele sempre passa mão em eu... Mão quente.

Tá ficando de dia. Ta ficando de dia! Quantos dias ficou de noite? Luz clareia. Clareia o quartinho do inferno. Ta vazio. Vazio. Eles foram embora. Eles foram. Foram sim! Eu encolhe para dormir um pouquinho. Ta com sono. Sono de dormir. 

Susto! Batem a porta e entram. Dois moços. Moços que machucam o braço da Sarah. Levantam eu e levam pra enfermaria. Por que tão levando eu?! Não leva eu!!! Eu não tá machucada não!! Deixa Sarah dormir!! Deixa Sarah dormir um pouquinho! Sarah ta com sono!! 

– Nunca mais vai dormir.

Mas eu queria dormir... Um pouquinho só. Prendem o braço da Sarah num negócio... Um negócio branco esquisito. Eu tenta puxar. Tenta mas o braço não sai. Não sai!! Eles vão machucar! Vai machucar eu!! Não pode machucar eu não!! 

Chega de machucar eu!! Não machuca eu mais não!! Não machuca mais, por favor!! Sarah já sabe que é assassina... Sarah já sentiu doer! 

– Para de se mexer que não vai doer. – Eu para. Para pra não doer. Não gosta de dor, não gosta de ficar triste. Não gosta não... Sarah é triste. Sarah era feliz em casa... Por que trouxeram eu pra cá? Sarah podia ficar de castigo... Ficar no quartinho de eu... Podia ficar sem brincar... Não podia ficar sem Papai e sem Mamãe. Eu tem saudade... Muita saudade. Eu tem saudade de ficar na cama, de dormir, de abraçar e ver Irmãozinho brincar também. 

– Tá chorando é? Você é muito mimadinha. Chorar por uma picadinha de nada... Viu? Já acabou. – Limpo o rosto depois que ele solta eu. Sarah não sentiu doer. Sarah não tá chorando por isso. 

– Vai fazer o que com meu sangue? – Eu pergunta. Sarah deve ter pouco sangue agora... Sarah se machuca muito. Sai sempre sangue de Sarah.

– Fazer exames pra ver se você é uma boa menina ou se suas escapadas de quarto a noite deram em alguma coisa. – Sarah não entende. Não sabe entender... 

Sarah só dorme com Irmãozinho... – Eu explica. Não tem que fazer exame não! Sarah conta! Não precisa furar eu mais, o sangue vai acabar! O sangue vai acabar e Sarah vai ficar aem sangue!! 

– Quem é esse? Thomas Martins? – Eu brava!! Muito brava! Não pode chamar ele assim! Esse é nome feio!! Ele não gosta!

– Tomaz. – Ele ri. Ri que eu fiquei brava!! Vermelha de brava! Riu e deu tapinha na cabeça de eu. Sarah não gosta e empurra. Empurra forte pra ele tirar a mão. – Não bota mão na Sarah!!

– Chateou-se, "bonequinha"? – O moço mau fala, lembra eu do moço torto. Sarah não quer que botem a mão nela, não quer!!

– Quer guardar tudo isso pro Thomas? – Pergunta olhando mau. Olhando igual moço torto. Igual!! Sarah fica com medo. Medo de ele machucar. Olha brava, brava e com medo.

– Chuta entre as pernas! No lugar que faz xixi. – Sarah sai correndo. Ele fica no chão reclamando. Deve doer chutar o lugar que faz xixi... Sarah corre. Corre com pressa! Saudade de Tomaz, o irmãozinho de eu. Eu vai lá ver ele. Ele morreu? Morreu e tava la no teto do inferno?? Sarah vai no quarto dele. Vai ver. 

Ele tá aqui!! Irmãozinho tá dormindo, mas Sarah acorda. Acorda com abraço. Abraço e beijinho no rosto do Irmãozinho! Beijinho que não dói. Ele fica feliz de ver eu também. Ele tá vivo! Tá vivo!! Mataram outro ele. Outro ele que não é ele! Por isso Irmãozinho ainda tá aqui. Sarah feliz que ele não morreu! Muito feliz! 

Sarah vê. Vê ele preso. Preso e com uma agulha no braço. Sarah sai de cima. Ele ta dodói? Tomaz ta dodói? 

– Que isso? – Eu pergunta. Pergunta que não sabe entender. Eu pergunta sim! Tem que perguntar.

– Não sei, anjinha. Colocaram em mim... – Ele não sabe. Não sabe não! Eu tira então. Tira devagar pra não sair sangue também igual Sarah. Não deve ser de dodói... 

 Sabíamos que você viria pra cá, bonequinha. – Sarah vira com pressa. Não é o moço torto, mas fala igual o moço torto! É o moço que usa gravata. Ele tem pintinha no rosto igual Sarah. Ele tá com mais gente. Muita gente. Sarah dá a mão pra irmãozinho. Aperta com força. Me ajuda, Irmãozinho! Eles são maus! Mão da eu ta gelada. Gelada de medo. Tomaz também tá com medo. Sarah tem medo. Medo do moço de gravata. 

Island AsylumOnde histórias criam vida. Descubra agora