Ferrugem.

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Jonas Bencke

O Natan foi embora. Ele queria pegar meu sangue, queria o sangue que eu peguei. Eu cacei! Eu!! Era minha!! As quatro eram minhas, mas ele me enganou. Ele. Tinha um homem, um homem pequeno dentro dela. Eu também tomei o dele. Tomei!! Não devia ter sujado minha boca com isso. Não devia! Enferrujou. Estragou! Natan veio e viu. Ele viu que bebi o homenzinho. 

MAS EU NÃO BEBI! EU NÃO BEBI!! EU MATEI. SÓ MATEI. MATEI!!! EU SÓ BEBI PORQUE NÃO SABIA!

Agora Adib Babaca apareceu para me internar. EU NÃO PRECISO SER INTERNADO!! EU PRECISO DE SANGUE! EU PRECISO DE SANGUE PARA LIMPAR MINHA BOCA, SANGUE PRA TIRAR O GOSTO ENFERRUJADO DO HOMENZINHO. 

Não quis matar o médico agora. Não quis matar enquanto ele estava preso. Deixei pra depois. Deixei e fui caçar para buscar sangue. Achei! Tinha uma mulher no quarto. 

Mordi para limpar. Mordi e quente. Senti quente. Doce. Tão doce! Vai limpar. Vai limpar o ferrugem. Isso me enferrujou. O menino me enferrujou!! 

Ouvi um barulho. Jatene! Ele está com uma arma. Está com um pedaço de metal. Metal! Fraco!! Acertei. Acertei muitas vezes. Enforquei o médico com seu próprio metal. Eu vou matar. Eu vou!! FILHO DA PUTA! É fraco! Fraco demais!! Já está sangrando. Meu punho não dói. Ele é fraco. Eu sou forte. A cara dele é fraca. Ele é fraco. Ele tenta lutar, mas é fraco. FRACO! 

Senti acertarem minha cabeça e virei. Tonto. O homem velho que me viu mais cedo. Bateu na minha cabeça e não foi meu sangue que jorrou. Não foi. Eu empurrei e ele caiu. Acertei várias vezes. Acertei o rosto. Eles não vão me parar. NÃO VÃO!! Ele parou de se mexer. Não sei quando. Bati mais. Até destruir. Destruir! Eu destruí. Não sobrou muito do homem velho.

Levantei quando escutei o grito. Escandalosa! Se assustou com o sangue. Vai ajudar a limpar minha boca. Limpar do sangue. Vai me limpar do sangue do homenzinho. Vai desinferrujar. AINDA NÃO ESTOU LIMPO! Preciso de mais! Preciso de sangue!

Fui atrás. Ela corre. Corre bem. Não tão bem. Subiu no navio. Subiu até onde as ondas balançavam. Subiu ao deck. Agora eu vejo, não estamos tão longe assim da costa. A costa. Não é a ilha. Quantos dias temos de viagem? Dois? Três? Não sei. Estou bem perto. Minha cabeça está dolorida. A menina corre! Não consigo correr reto. Não consigo... Ela corre reto. Eu não vi. Tinham outras pessoas. Ela não está sozinha. Ela não estava. Eu estava correndo na beirada. Estava quando eu consegui pegar uma delas. Eu mordi, mas ela caiu. Eu vou perder o sangue dela! Eu vou perder! Ela vai desinferrujar!! Ela vai!! Eu pulei para pegar. Pulei na água. Peguei ela. Sim! Ela vai me desinferrujar!! Ela quis me afogar. Ela quer mas eu sei nadar. EU SEI NADAR, VADIA! 

MORDI A VADIA! ELA NÃO VAI ME AFOGAR! EU QUERO SANGUE!! SANGUE QUENTE, FERRO, DOCE. DOCE COM SALGADO DO MAR. SALGADO. TIRA A FERRUGEM! TIRA! MORDI MAIS! ESTOU PERDENDO O SANGUE! PERDENDO PARA O MAR. O MAR QUER ROUBAR MEU SANGUE!! MEU SANGUE!! O NATAN QUIS ROUBAR, AGORA O MAR TAMBÉM QUER! ESTÁ LEVANDO PARA ELE! EU PRECISO ROUBAR DE VOLTA!! PRECISO!! 

Puxei para perto de mim, ela é pesada. Eu preciso segurar! Ela não pode afundar!! É pesada!! MALDITA PESADA! Não vou soltar. NÃO VOU!

NÃO AFUNDA!! ESTOU SEGURANDO. AFUNDANDO. PRECISO DO SANGUE. ELA AINDA SE MEXE AS VEZES. NÃO QUEBREI, NÃO QUEBREI O PESCOÇO! AFUNDANDO. EU MORDI E ESTAMOS AFUNDANDO. SANGUE. QUENTE. DOCE. FERRO. NÃO TEM MAIS FERRUGEM. SÓ SANGUE QUENTE. SANGUE DOCE. DOCE COM GOSTO DE FERRO.

Island AsylumOnde histórias criam vida. Descubra agora