Presente a Jatene.

159 20 2
                                    

Adib Jatene – Flashback I


Assim que me formei comecei a trabalhar com os mentalmente perturbados. Perturbados assassinos como o próprio Bencke. Já estava na área a alguns anos quando tudo aconteceu.
Realizei tratamentos neste dia. Desde terapia com calor até a ETC tão adorada pelos médicos ultimamente. Recebia ameaças a todo tempo, mas jamais levei a sério. Nunca se deve ouvir o que esses desafortunados falam. 
Era dia do meu aniversário quando cheguei em casa no final da tarde para sair com minha família. Meus pais estariam lá, minha esposa, minha menininha de apenas um ano e meio e alguns amigos. O dia ensolarado tornou-se a maior tempestade de minha vida. Ao chegar em casa percebi um odor diferente e abri a porta apressadamente. 
Meus amigos pendurados pelo pescoço em minha sala. Enforcados. O sangue que escorria pelos pés daqueles que dividiram tantos momentos comigo. Mortos. 

Meus pais estavam amarrados um ao outro, desfigurados, queimados com óleo fervente. Já não respiravam. A expressão de dor era algo claro. Fizeram de propósito.

Minha esposa e minha menina estavam desacordadas, mas ainda respiravam. Presas por fios. Presas proximo a vidros, pregos e estacas afiadas. Era um jogo. Um jogo que eu não queria perder. 
Caso eu soltasse minha mulher, minha filha cairia. Se eu soltasse minha filha, minha mulher seria condenada. Não tenho tempo para chamar ajuda. Elas irão sufocar.
Poderia um homem escolher entre sua filha e o amor de sua vida? 
Com um beijo de despedida vi minha mulher ser transfixada pelos objetos pontiagudos. Sim, ela acordou no último instante e olhou-me com pavor. Deve ter visto a feição da própria morte.
Minha filha estava em meus braços e eu abraçava como o bem mais precioso. Abraçava e não percebi que existia um pequeno furo em seu braço.
Por que ela não acorda? Ela respira muito pouco. Por favor, acorde! Tentei reanima-la. Tentei tudo. Até os vizinhos ouvirem meus gritos de desespero. Até ouvirem os vasos quebrando.
Malditos!! Por que não ouviram quando minha família pediu ajuda?! Agredi um deles. Entraram em minha casa. Agredi porque me julgou. Um dente quebrado foi pouco! Não mataria minha família! Eu jamais faria isso! 
A polícia não tardou. Não tardou a julgar erroneamente. Eu não matei as pessoas que mais amo!! Não matei, vizinhos malditos!
Não me deixaram vela-los. Não pude ir ao velório. Não pude fazer nada que não fosse pedir perdão. Pedir perdão àqueles que pereceram por meu trabalho. Pedir perdão a minha esposa. O seu olhar nunca abandonou meus pesadelos. Nem mesmo anos depois quando Thiago Saether, dono do Island Asylum pagou minha fiança para que eu pudesse trabalhar aqui. 
Não, Sarah. Eu não sou um herói. Heróis salvam o que amam com a própria vida, enquanto eu não consegui salvar sequer uma delas. 

Island AsylumOnde histórias criam vida. Descubra agora