Adib Jatene
Depois do pesadelo precisei correr para o meu quarto. Corri para o meu banheiro. Peguei meus medicamentos e tomei o dobro da quantidade. Quero continuar sem sentir. Sentir me atrapalha! Não consigo sequer pensar!!
Segui para a beira da praia. Tiraram-me de uma prisão e trouxeram-me para outra. Sentei enquanto observava as ondas fortes castigando o cais mesmo sob o céu azul. Nesse lugar tem sempre uma brisa gelada. Os mais supersticiosos dizem que é o caminho das almas perdidas rondando pela ilha.
Eles dizem isso, mas ainda podem ir embora no final de semana. Podem voltar para as suas casas, para as suas famílias. Se pudesse, eu também teria aproveitado mais... Teria ficado mais um dia com minha menininha.
Tudo o que eu tenho está aqui nesse pedaço de terra esquecido por qualquer divindade que você acredite. De alguma forma, o olhar da menina Sarah tocou-me. Tocou de uma forma que evitei por anos. Isso me apavora.
Por hoje, ficarei longe. Longe dos loucos, dos doentes e da Sarah. Nem mesmo o Bencke eu vou visitar.
Aos poucos o efeito da medicação começou a chegar. O tremor que me causa é um problema corriqueiro, mas não farei nenhuma lobotomia hoje. Não tenho questões quanto a isso.
Algum dia terei coragem para parar de tomar e voltar a sentir. Me apavora, mas sei que era bom. Era bom quando existiam sorrisos, quando passávamos horas incontáveis apenas olhando as nuvens. Agora as mesmas nuvens não tem graça. Nada tem graça. Eu sou médico e devo agir como tal.
As horas não tardaram e logo o por do sol se aproximou. A tempestade estava formando-se novamente. Preciso trabalhar.
Retornei já com o tremor controlado. Nada que não possa ser justificado por hipoglicemia.
Conversei com as enfermeiras do setor. Elas me contaram rapidamente o que houve na minha ausência. Sarah não está nada bem. Surtou novamente. Erick passou por cima de minhas decisões e tratou a menina da forma que bem entendeu. Por essa razão a moça precisou ser contida. Estava falando sozinha e muito agitada. Não é uma das minhas cenas preferidas, mas entrei no quarto. Ela dormia e ao ouvir meus passos abriu os olhos, mas logo virou a cara. Está com raiva de mim, claro que está.
– Sarah, por que você mordeu o Erick? – Ela não me respondeu. Esta chorando.
Tentei outras intervenções, mas nada adiantou. Ela murmurava palavras sozinha. Não conseguia ouvir, sequer entender... Ainda assim, acho que suas palavras tinham relação com seu delírio e não comigo.
As vezes a ETC pode piorar os sintomas. Sim, é raro, mas da forma que Erick diz que eu prescrevi é aceitável que ela tenha ficado assim. Eu poderia te-la matado! Matado!
Retirei-me da sala ao perceber que estava muito invasivo para ela que eu ficasse ali. Então fui diretamente buscar a ficha de requisição em minha sala já arrumada depois da bagunça que Sarah fez ontem a noite ao fugir de seu quarto.
Uma requisição de alta voltagem. Eu não fiz isso. Não foi para ela! Essa caligrafia parece a minha, mas... Está tremida. Torta.
– MALDITO BENCKE!!
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Island Asylum
Mystery / ThrillerATENÇÃO! ESTA HISTÓRIA CONTÉM CONTEÚDO INAPROPRIADO PARA PESSOAS SENSÍVEIS Você conhece o inferno? Bem vindo a essa ilha. Estamos em meados do século XX, a medicina em franca expansão. Uma grande construção foi erguida e comportaria o expurgo da so...