Agasalho Azul.

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Eu estava dormindo em casa quando ele começou a falar. Me escondi debaixo do meu cobertor para o fazer parar. Sabe, as vezes ele para.

– Levante! Você precisa levantar.

Não podia contar para ninguém. Não acreditavam que tinha alguém falando no meu ouvido. Uma vez me levaram na rezadeira e eu, com medo do que poderiam pensar de mim, disse que ele tinha parado. Ele não parou. Ele comenta coisas ou manda em mim. Ele diz que vai rasgar meu coração se eu não obedecer. Não posso desafiar ou ele ficaria bravo.

Me levantei e fui até a cozinha para beber água. Quando eu obedeço ele para. Por que fala tão alto? Tão alto que minha cabeça dói.

– Olhe aquela faca, loirinha. Olhe!  – Olhei a faca. Tão bonita, tão brilhante. Passei com a parte cega em meu rosto. É gelada e tão lisa. Eu sinto.  —Loirinha, vá ao quarto dos seus pais.

Meus pés vão. Mamãe e papai estão lá. Dormem tão bem. Tão lindos. Eu estou entre eles com o agasalho azul de frio. Dormindo. Estou feliz e em paz. Queria ser assim também. Em paz! 

Você prefere você ou seus pais?? Use a faca. Mate você. – Pego a faca. Não quero machucar mamãe, nem papai. Não posso. Sinto a faca entrar. Entrou na pequena eu que dormia. Eu?

Não parece tanto comigo olhando de perto. Soltei a faca com papai bravo! Mas eu te salvei, papai! Não briga comigo!

— O QUE VOCÊ FEZ, SARAH?! — Ele gritava comigo. Eu fiquei assustada, papai nunca brigou assim. Mamãe chorava e mexia desesperadamente na mini Sarah. Oras! Não era para Sarah morrer?

— LIGUE PARA AMBULÂNCIA!! — Mamãe manda e meu pai bate em mim. Um tapa em meu rosto! Não pode bater na Sarah! Doeu, está ardendo o rosto.

 Revide, Sarah! Bata nele. — O moço que sempre falou comigo mandou. Papai está machucado. Não consegui controlar. Machuquei papai e agora mamãe está com medo. Pegou o telefone, acho que alguém atendeu. Com quem ela quer falar uma hora dessas? Não está na hora de telefonar! — Jogue esse telefone longe! Vão te prender! — Me prender? Mas o que eu fiz? Quem me mandou foi o moço. O telefone voou pela janela, estilhaçando os vidros.

— NÃO FOI EU!! FOI ELE! — Tento explicar, mas papai levantou do chão e me enforcou. Sarah não respira! Deixa eu respirar papai! Deixa! Fiquei fraca e mamãe passou o cobertor coberto de sangue em volta de mim. Me amarrou. Tentei sair. Tentei sair com força, mas não consegui.

Os caras maus chegaram. Estavam bravos. Estavam de branco e me furaram. Injetaram alguma coisa no meu bumbum e me colocaram na maca. Maca gelada! Estou sendo levada. Levada para algum lugar. Antes de sair do quarto, consigo ver. Não era Sarah na cama. Não! Não pode. Não pode! Ele está cheio de sangue. Machucado, furado. Foi Sarah!! Sarah não queria! Era para salvar mamãe e salvar papai! Não era para machucar. Sarah não queria.

Comecei a ficar tonta. Tonta e com muito sono. Sarah não queria machucar e dormir depois, era só para salvar mamãe e papai... Mas Sarah machucou. Por que a voz que fala mentiu? Me levavam embora da minha casa, descendo as escadas. Tão devagar... Aos poucos tudo ficou escuro e quietinho... 

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