Bons meninos não são gays

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Me certifiquei de  que todos os meus amigos haviam ido embora da escola, antes de pegar o meu carro. 
O celular tocou quando estacionei escondido, perto de um bosque ali próximo a rua da escola.  
_ Mãe _ atendi.
_ O que aconteceu? Você saiu cedo _ reparou o horário que eu saí hoje.
Putz, e agora?!
_ Hum, tô repassando a matéria com um colega que me pediu ajuda. Assim eu gravo a matéria mais fácil e a gente se ajuda. 
_ Bom! Você já está chegando? 
_ Não. Eu vou repassar a matéria depois da aula também. As provas... tá bem próximo.
_ Ok, então se cuida, baby _ desligou.
Guardei o aparelho no bolso e completei a caminhada para a escadaria, livre de olhares curiosos. Cheguei estendendo os braços para abraçar o Ariel, que estava encostado no muro me olhando desde que entrei no seu campo de visão. Mas levei um empurrão, sem entender o motivo. 
_ Que porra foi aquela na hora do almoço? _ falou um pouco exaltado. 
Lembrei dele me olhando enquanto estava com a Cara _ Ela é a minha namorada. 
_ Ela é a titular e eu o outro? _ colocou de forma pejorativa. 
Fiquei sem reação. Aquilo era uma cena de ciúmes? O que ele queria de mim? 
_ Nós dois somos homens.  O que acontece em Vegas, fica em Vegas, Ok? 
_ Nós somos homens, mas não somos feitos de ferro. Eu tenho sentimentos, Daniel. Ver você grudado na Clara, depois de te esperar por tanto tempo, dói. Dói saber que você quer me esconder. 
_ O que diabos você está me pedindo? 
_ Você. Mas se não pode me assumir, larga ela.
_ Seja razoável, por favor? 
_ Estou sendo. É isso, ou nada mais acontece em Vegas. 
Cheguei a pensar que era a melhor decisão.
 Nada de Vegas. Acabariam os meus problemas. Mas antes que eu aceitasse isso, os braços do moreno me agarraram, me prendendo contra a parede durante um beijo arrebatador. 
_ Diga adeus à isso _ disse tão ofegante quanto eu.
_ Não! Espera, Ariel. Eu...
O seu olhar demonstrava esperança sobre o que eu ia dizer. 
Continuei _ O que você sente por mim? _ estava curioso sobre isso, e a cada coisa que ele deixava escapar sobre mim, eu ficava mais curioso. 
_ Gosto de você, Dany. Gostei assim que te vi há dois anos. 
_ Está falando de amor? 
_ Sim.
_ Mas não é só atração? 
_ Você e a Clara, é amor?
_ Não _ ri desdenhando. O que eu sentia pela Clara nunca poderia se comparar a isso que nós tínhamos. Eu nunca senti nada assim antes. 
_ Aposto que ela não te dá  a metade do  prazer que eu te dou. 
Me vi constrangido demais para admitir. Isso indicava que eu era gay. Um medo da opinião dos meus pais e dos meus amigos de sempre, me fez encolher os ombros. 
_ Eu termino com ela _ cedi torcendo para que ele me beijasse, e encerrasse a conversa. 
O que mais eu ia fazer, se só com o Ariel eu me sentia vivo? Neste mundo monótono e sem cor, sem brilho, sem a euforia que ele me causava, mesmo estando distante. 
Me beijou doce e lento, senti como uma provocação e mudei as nossas posições. O prendi contra o muro, e em meus lábios... Em meus braços e com as mãos cheias de malícia. 
Sem fôlego e sem juízo eu me via querendo mais. Desejava o Ariel ao ponto de ter me tocado em minha cama,  depois da festa pensando nele. E agora me perguntava como seria sentir o seu corpo de verdade, sem roupa ou vergonha. 
Nossos olhares se encontraram. E isso deixou evidente que pensamos na mesma coisa. Mas o Ariel hesitou. 
_ É melhor a gente ir _ indicou o relógio que eu olhei sem pressa.
_ Como os seus pais reagiram quando você disse que era gay?
_ Aceitaram numa boa.
_ Sem problemas? Como se isso fosse normal?
_ Mas isso é normal, Dany _ sorriu _ Quer conhecer os meus pais? 
_ Agora? 
_ Sim. Vamos lá. Daí podemos ficar  juntos mais um pouco no meu quarto.
A idéia, de início, me assustou. Mas ficar com o Ariel mais um pouco, era o que eu mais queria. Caminhamos lado a lado até o meu carro. Era novidade para mim dirigir. Havia recém tirado a carta de motorista. 
_ O seu carro é muito confortável e espaçoso _ comentou.
_ É um brinquedo de luxo para bons meninos _ respirei fundo, pensando que esse luxo não seria me dado, se eu fosse sempre gay. 
_ Você é um bom menino, Dany _ apertou minha coxa me fazendo arrepiar.
Olhei para ele com a certeza de que ninguém pensaria assim. Era chato, mas era a verdade.
Chegamos num sobrado charmoso com gramado e jardim. Entrei depois do Ariel. Somente a sua mãe e a irmã estavam em casa naquele horário. 
Ariel beijou a sua mãe e me apresentou como amigo da escola. E depois a sua irmã Ana.
_ Fica a vontade, Daniel _ a Sofia disse.
_ Obrigado _ respondi antes de ser conduzido para o quarto do Ariel que trancou a porta atrás de mim me surpreendendo. 

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