Homofobia

Testosterona

Mamãe me levou ao médico bem cedo. No consultório, o médico da família me enchia de perguntas enquanto a enfermeira enchia vários tubos com o sangue que colhia de mim. Por fim, ele olhou os meus olhos e as minhas amígdalas, como se eu estivesse com dorde garganta. Receitou muitos remédios, escreveu no meu prontuário, e o resultado dos  exames sairiam na próxima semana. Me deu uma injeção de testosterona e me indicou exercícios físicos para conter as reações. 
Eu e Eleanor tomamos o café da manhã no restaurante do hospital. Saímos do hospital para a farmácia e da farmácia para a academia onde eu devia fazer uma avaliação física para começar os exercícios no mesmo dia.  Eleanor foi trabalhar depois de me dar dinheiro, sendo bem generosa. Será que isso era culpa? O motorista que nos trouxe a levou para o trabalho, e devia voltar pra me levar para casa. Fiz tudo calado e obediente.  Nem olhava para os lados, só queria que acabasse logo. Comecei a tomar os remédios imediatamente,  conforme o indicado. Depois do treino eu estava acabado, faminto e irritado. Era estranho, pois eu sempre fui calmo.
Cheguei em casa e já perguntei do almoço na cozinha. Fui tomar outro banho, pois já havia tirado o suor na academia. Sentia vontade de ver o Ariel, e abraçar apertado, beijar e... Caralho! Percebi que eu estava totalmente duro só de pensar nele. Tive que me masturbar em baixo do chuveiro para me acalmar. Pensei no seu corpo, nos lábios sorrindo, nos olhos cor de mel que às vezes ficavam verdes, na sua voz gemendo o meu nome. 
Percebi que eu estava de dieta quando fui me servir. Tive vontade de xingar, mas eu não era assim. Eu não xingava. Comi o que tinha sobre a mesa até estar satisfeito. Depois de escovar os dentes, fiz uma video chamada para o Ariel, que devia estar na  hora do almoço. O vi ao lado da Laura. Sorri.
_ Não acredito que você está no seu quarto _ censurou fingindo inveja. 
_ Isto é algo que eu não pedi. Preferia estar aí com você. 
Sorriu e me falou sobre o que aconteceu na escola. Ouvir a sua voz era tão bom, que apesar de não entender alguns detalhes, eu não tive vontade de interromper.
Joguei xbox a tarde toda e saí logo depois do jantar. Fui na casa do Ariel e o levei para dar uma volta. O primeiro lugar foi um rodízio de pizza. 
_ Que é isso, Dany? _ disse ao me ver comer várias fatias de pizza em pouco tempo _ Te deixaram a pão e água?
_ Quase _ gargalhei _ Nunca comi tanto verde como hoje. Acho que eu ganho a cor do Huk em uma semana. 
_ Porquê isso? Tem algo a ver comigo? 
_ Tem a ver comigo. Meus pais descobriram que eu não sou perfeito _ comi mais uma fatia de pizza em poucas mordidas. 
_ Mas você é perfeito _ sorriu e eu o beijei.
Alguns olhares pousaram sobre nós, aquilo não me incomodava, antes do que aconteceu com os meus pais, mas agora sim. Sem falar que estava com os sentimentos a flor da pele. Acho que isso era culpa daquela testosterona. 
_ Será que existe algum lugar onde a gente pode se beijar sem ninguém nos comer com os olhos?
_ Tem _ sorriu um sorriso safado e mordeu o lábio.
_ Vamos lá _ limpei a boca e levantei da mesa e ele me imitou. 
Dentro do carro, ele foi me indicando o caminho até chegarmos em um bar. Não entendi nada, até ver por dentro.  Haviam homens dançando nos palcos, conversando de forma lasciva nas mesas, se beijando e se pegando abertamente. Sorri quando olhei para os olhos mel do Ariel, novamente. Ele me enlaçou o pescoço e nos beijamos sem pudor ou vergonha. 
Sentamos em uma mesa onde o Ariel pediu umas bebidas com suco de frutas para nós dois mostrando a identidade . Aquilo me chamou a atenção e eu quis ver o documento. Estava certo, o Ariel era mais velho do que eu, muitos meses. Ele fez dezoito anos em fevereiro e eu só faria em novembro. 
Devolvi sua carteira com um olhar de surpresa. 
_ Você nunca perguntou _ justificou-se.
_ O que mais? Fala pra mim o que você gosta de fazer.
_ Eu gosto de dançar.
_ Vamos _ levantei e peguei a sua mão. 
_ O que? 
_ Dançar. 
Ele veio comigo e dançamos aquela música sexual que passava. Acabamos nos envolvendo tanto que a dança ficou muito quente.