Uma noite divertida

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Era sexta-feira, quando a Laura recebeu alta. Em casa, fiquei no seu quarto conversando até tarde. Assunto não faltava, ela é um poço de informação e opinião e sempre surgia mais. Falávamos de tudo e se ninguém mudasse de assunto poderíamos ficar no mesmo durante horas, sem ficar chato. Como alguém tão bacana tenta suicídio? Como ela não vê o quanto é especial? 
Chupava uma bala que ela me deu, ela também tinha uma na boca. O cheiro do eucalipto saía com o nosso hálito quando falávamos. E os movimentos que ela fazia com a boca para chupar me deixava interessado demais nos seus lábios, eu não conseguia evitar. Até ela notou e deu uma risada nervosa, inclinando a cabeça para baixo tímida, enquanto o seu olhar estava fixo em mim. Parou o assunto na metade. 
_ Continua _ gargalhei. 
_ Não dá com você me olhando assim _ sorriu. 
Fizemos um silêncio. Será que estava apaixonado pela Laura neste tempo todo e não sabia? Se me apaixonasse por ela, antes de saber que ela me amava, eu não me levaria à sério. Esconderia e tentaria esquecer, por que ela é demais pra mim.  E se eu fiz isso no automático, sem sequer me permitir saber? Talvez esse tenha sido o motivo de eu começar a namorar a Clara, por quem eu nunca me apaixonaria. Nem tão pouco a Clara por mim. Parecíamos primos, experimentando beijos e toques no corpo um do outro, e só. E o Ariel, aonde ele fica nesta história toda?
A Laura é  esperta. Ela  logo notou onde andava o meu pensamento quando o meu olhar baixou para o lençol estampado da cama.
_ Estou confuso Laura. _ confessei.
_ Você não falou com o Ariel?
Fiz um sinal de não com a cabeça _ Eu sei que ele não vai aceitar. Acho que eu tenho que pensar um pouco.
_ Você não me ama?
Meu olhar voltou para o seu imediatamente. 
_ Como eu poderia não amar você? _ acariciei o seu rosto.
_ Mas não desse jeito, não é? 
_ Estou confuso _ deitei puxando ela por sobre o meu peito _ Eu não quero dividir a minha confusão com você, anjinho _ acariciei o seu cabelo chamando-a pelo apelido que lhe dei quando éramos crianças. 
Laura se voltou para mim e me beijou, me prendendo com o seu corpo sobre o meu. Deitou no meu peito sentindo os músculos sob a roupa, com a mão. 
_ O que houve com você? 
_ Estou fazendo um tratamento anti homossexualidade _ soei divertido. 
_ Os seus pais não fizeram isso! 
_ Estão fazendo. Está tudo bem, pelo menos não me proibiram de ver o Ariel. 
Ela me olhou complacente. 
Retomamos as conversas e acabei dormindo lá. Acordei com a Laura sobre mim me abraçando e os meus pais nos olhando felizes da porta que não trancamos. E pra quê trancar? Não fizemos nada. Mas meus pais achavam que sim. Estavam pensando, provavelmente, que a testosterona, e toda aquela merda, havia funcionado.
Sairam silenciosos,  me deixando com os meus demônios me sussurrando no ouvido o quanto eles estavam errados.

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