Girassóis

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Naruto se sentia fraco nos momentos em que sua esposa chorava. Hinata quase nunca o fazia. Era um acontecimento raro e ele faria de tudo para que permanecesse assim. Contudo, durante uma madrugada fria de segunda-feira, ela acordou aos berros.

Ainda sonolento, se aproximou da moça e a puxou para um abraço apertado, começando a afagar os fios lisos e sedosos. Já era a quarta vez naquela semana que acontecia e ele sabia que continuaria assim até uma certa data especial.

Todos os anos a mesma coisa ocorria, todavia, ele nunca se acostumava. Aquela era uma data insuportável para o casal, ainda mais para Hinata. Naruto entendia e evitava falar sobre o delicado assunto. Limitava-se a abraçá-la e deixá-la chorar até cair no sono.

Naquela noite não seria diferente.

O shinobi, ainda afagando o cabelo da esposa, tentava acalmá-la cantarolando uma canção baixa. Hinata estava com os braços rodeados na nuca do rapaz, soluçando e sentindo-se mal por atrapalhar mais uma noite de sono dele. Sabia das responsabilidades do marido; ele era o herói do mundo ninja, tinha vários relatórios para fazer e agora Kakashi vivia no pé dele, enviando-o para inúmeras missões. Ele estava cansado, ela percebeu, e mesmo assim mantinha-se acordado, disposto a ajudá-la.

— Me desculpe. — sussurrou baixinho, enterrando o nariz no pescoço masculino, fungando.

— Não precisa se desculpar, Hina. — ele soltou, sereno e compreensivo, descendo as mãos para a cintura dela. — Eu te amo e vou ficar acordado o quanto for preciso.

Tais palavras aquiesceram o coração da moça e ela simplesmente não pôde se controlar. Um nó se formou em sua garganta e mais lágrimas molharam suas bochechas rosadas.

— Eu sinto tanta falta dele, Naruto-kun. — desabafou entre os soluços, escondendo o rosto ainda mais no pescoço do loiro, que sentiu uma pontada no coração ao presenciar tamanha dor.

Já havia se passado quantos anos desde a morte de Neji? Seis, sete? Naruto não sabia, porém, apesar do tempo, o sofrimento dela continuava o mesmo.

Hinata sentia-se culpada por tudo, mesmo sem ter qualquer culpa. Ela estava disposta a proteger alguém que amava. Neji também. Uma coisa levou a outra. Da mesma forma que ela escolheu proteger o Uzumaki, Neji também escolheu protegê-la. Foi uma escolha, só que ela se recusava a enxergar isso.

De qualquer forma, o loiro a entendia. Sabia, mais do que ninguém, o significado de perder alguém querido. Jiraiya, por exemplo, mesmo sem laços sanguíneos, era seu pai e sempre seria. Por mais que não demonstrasse, ainda doía. E como doía.

Beijou a testa da esposa, tentando oferecer todo conforto que aquele contato poderia dar. Limpou as lágrimas dela com a ponta dos dedos e a olhou intensamente, tentando mostrar que, independente do que acontecesse ou de qual fosse a situação, ele seria seu pilar, seu apoio da mesma forma que a considerava como seu mundo.

Após muito sofrimento, ela dormiu.

No dia seguinte, acordaram mais cedo. Hinata vestiu-se com trajes em tom negrume e o loiro fez o mesmo; logo ele aprontou Boruto e arrumou os pertences dele em uma bolsa infantil. Antes de fazerem o que tinham que fazer, deixaram o pequeno na casa de Temari. O menino gostava de Shikadai e parecia uma boa ideia aproximá-los.

Após deixar o garotinho na casa dos Nara e comprar um ramo de girassóis no estabelecimento dos Yamanakas, o casal se direcionou até o local mais soturno da vila. Caminharam pela grama esverdeada do cemitério por pouco mais de meia hora até encontrarem uma lápide de pedra incrustada na terra fresca com epitáfio de kanjis antigos.

Hinata apertou os lábios e segurou com força os girassóis, com as pernas bambas. Ela só se acalmou ao sentir a mão quente do loiro sobre a sua, apertando seus dedos. Ele estava ali por ela e saber disso a deixou mais forte.

Fitou a foto do primo na lápide e pensou nos sorrisos, nas gargalhadas e em como ele havia se esforçado para protegê-la e fazê-la feliz. Pensou em Naruto, em Boruto e na criança que agora crescia em seu ventre.

Ela estava triste. Ano após ano a dor não parecia diminuir, sempre estava lá, atormentando-a. Saber que nunca mais veria aquele a quem chamava de irmão destruía seu interior.

Porém, acima de qualquer tristeza, havia dois outros sentimentos: amor e gratidão.

Agachou-se e depositou os girassóis na grama, encostando-os na pedra fria da lápide. Naruto continuou em pé, cheio de pesar, observando a cena que se desenrolava a sua frente com os olhos azuis marejados.

— Obrigada por tudo, nii-san. — a voz dela ecoou, embargada, sobre o silêncio perturbador do cemitério. — Obrigada por me permitir viver e ter uma família. Tenho certeza que o Boruto adoraria te conhecer. — uma sombra de um sorriso passou por sua face e desceu as mãos até a altura do ventre avantajado, onde acariciou, fixando o olhar nos girassóis. — Nossa menina também. Ainda não escolhi um nome, mas agora já tenho uma ideia... Acho que o Naruto-kun vai gostar. — era impossível controlar a emoção olhando para a foto de Neji, que tinha o mesmo semblante sério de sempre na imagem. Faria qualquer coisa ao seu alcance só para ver aquela carranca de novo. Imaginou como tudo seria se ele estivesse ali, vendo-a com filhos e sendo amada. Será que ele, além de primo, também seria um tio super protetor? O pensamento a fez sorrir e as lágrimas escorreram por suas bochechas. Seu coração doía. — Eu sinto saudades.

Colocou-se em pé um pouco cambaleante e logo foi abraçada pelo marido. Não haviam palavras que pudessem amenizar a dor deles e também não estavam dispostos a dizer qualquer coisa. Apenas voltaram para casa de mãos dadas, agradecidos ao homem que morreu para que eles fossem felizes.

 

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