The Kingdom [H.S] [PT/BR]

She's my wife.

Katherine comparecia as aulas as terças e quintas, gostava de usar vestidos na cor azul e o cabelo preso. Mantinha uma feição sempre calma, sendo possível ler qualquer pensamento que corria em sua cabeça.

Ela gostava de pães quentes e chá, odiava que a chamassem mais de três vezes. 

Eu era muito bom em decorar coisas, e em pouco tempo consegui tudo isso, já estávamos ficando mais próximos e tentava a distrair o máximo que podia, mantendo sempre o assunto tenso que nossa corte assumia longe dela. 

Cheguei ao jardim e logo vi seus cabelos: ela estava sentada no banco perto das flores, tinha uma xícara nas mãos pequenas e tomou um belo susto.

- Uma moeda pelos seus pensamentos? - perguntei rindo, me sentando ao seu lado.

- Você me assustou! - reclamou.

- Me desculpe. Hoje você está dispensada das suas aulas, irá sair comigo.

- Sair? Mas não podemos deixar o castelo.

- Não se ninguém souber. - a puxei pela mão.

Corríamos pelo campo vasto e verde, podia ouvir suas risadas e isso me fez rir também. 

Chegamos ao celeiro e peguei meu cavalo, coloquei a cela e a ajudei a subir, tomando cuidado para não sujar seu vestido.

- Harold, isso é loucura! - riu.

- Se segure. - disse e dei partida.

O vento batia contra nossos rostos, ela segurou em minha cintura e eu corria cada vez mais. Saímos dos muros do castelo e fomos para a cidade, chegando em alguns minutos.

Já se conseguia ver o aglomerado de pessoas, por isso, saímos de cima do cavalo e o amarrei numa árvore perto da entrada para a cidade, deixando verduras e água.

Segurei nos ombros de Katherine enquanto a guiava pelo local; haviam muitas pessoas, algumas compravam, pechinchavam e conversavam, já outras pediam pelas ruas e corriam no meio de tantas pessoas.

Os burgueses pareciam satisfeitos com os negócios, vendendo cada vez mais, atendiam a todos com carinho e gritavam para que fossem até eles. Katherine olhava para tudo aquilo surpresa e com um sorriso no rosto.

Eles vendiam os mais diversos produtos no centro da cidade: roupas, jóias, comida, decorações... Tudo podia ser facilmente achado nas diversas tendas.

As pessoas ali eram bem educadas, sempre cumprimentando com um bom dia e mantendo um sorriso caloroso, carregavam sacolas e bolsas com moedas de ouro por toda parte. 

- Quero ver aquela barraca ali. - apontou, concordei e a guiei até onde pediu.

Era uma barraca pequena, mas com muitas jóias. Katherine olhava admirada e percebi que não tirava os olhos de uma pulseira simples.

- Esta pulseira combina muito com você, menina bonita. - a senhorinha que cuidava dalí disse, sorrindo para Katherine. 

- Obrigada. - riu um pouco e colocou a pulseira nela, que se encaixou perfeitamente. 

- Eu vou levar. - disse abrindo a pequena bolsa e tirando algumas moedas de ouro, sem nem mesmo saber o preço. 

- Oh, tens muito dinheiro! - a moça exclamou. - apenas uma moeda de ouro é o suficiente, menino. 

Ela realmente não fazia ideia de quem eu era, e por um lado, gostava disso. A maneira com que era tratado fora, no meio de pessoas que sequer sonhavam com meu rosto.

Sabiam meu nome, quem eu era e minha família, mas meu rosto é uma incógnita para eles; oravam e protegiam uma pessoa que sequer conheciam. 

- Tome essas, a senhora merece. - sorri.

- Tens uma garota muito boa ao seu lado. Que Deus abençoe vocês. 

- Ela é minha esposa. - sorri. - amém. 

Aquelas palavras saíram involuntariamente de minha boca e quando percebi o que disse, me senti um babaca. 

Mas Katherine olhou para mim e sorriu, e isso me fez esquecer totalmente de tudo.  

- Tenha um bom dia. - Katherine disse para a moça, que assentiu com a cabeça. Saímos e fomos para outra barraca.

- Obrigada pelo presente Harry. - sorriu enquanto admirava a pulseira em seu braço fino. 

- Não precisa agradecer.

Comemos, visitamos todas as barracas do local e até mesmo sentamos no meio da mata para descansar. Quando o sol começara a se por, a chamei e disse que precisávamos ir. Como parecia cansada, sequer reclamou, apenas se levantou e subimos no cavalo, marchando para casa.

No caminho, pude ver que alguns cavalos marchavam para longe, e dei um suspiro aliviado.

Havia cumprido minha missão.

Chegamos e desci Katherine do cavalo, ela agradeceu e percebi que me esperava enquanto deixava meu cavalo no celeiro.

- Preciso falar com o Rei, deite-se primeiro. 

Sem nada dizer, ela assentiu e seguiu seu rumo, assim como eu.

Bati duas vezes na porta da sala e o guarda me anunciou, autorizando minha entrada em segundos. O Rei já se preparava para sair de lá, e deu um sorriso quando me viu.

- Deu tudo certo, a manti fora do palácio o dia todo. 

- Como ela está? - perguntou enquanto fazia um gesto para eu o seguir.

- Bem, apenas cansada. A tropa esteve aqui? 

- Sim, deu tudo certo. Eles já estão se espalhando pelas fronteiras. Mandei uma parte para a Áustria, eles precisam de ajuda, ficarão por lá até que tudo se estabilize e a França pare logo com tudo isso. 

- Que bom que deu tudo certo. 

- Bom trabalho, Harry. - deu dois tapinhas fracos em meu ombro. 

Eu me sentia um pouco culpado, pois de uma certa maneira parecia que eu a havia enganado. Mas Katherine parecia tão feliz e entretida que mal conseguia lembrar da garota tímida e com medo. 

Me despedi do Rei e fui para meu quarto, abrindo a porta com cuidado. Katherine já dormia, mantinha o rosto escondido e estava encolhida. Respirei fundo e tirei as roupas pesadas que usava, ficando apenas com uma calça e blusa. 

Deitei-me ao seu lado e a garota sequer acordou, fechei os olhos e deixei que meu corpo descansasse por um momento. Mas antes disso, ela agarrou meu braço e encostou seu rosto em meu ombro, voltando a calmaria e dormindo leve. 

Sorri e mentalmente agradeci por aquele gesto.

- Obrigado, meu amor. 

Talvez todos aqueles tremores constantes, palpitações, agitações e ações estúpidas fossem algo a mais, talvez eu estivesse me apaixonando.

Como a chuva de verão que vem para todos, ela subitamente entrou na minha vida e mexeu comigo de uma maneira que não conseguia descrever.

Talvez ela tivesse conquistado um espaço em meu coração.

Espaço que esperei uma vida para que alguém pudesse preencher. 

E fiquei feliz por ser ela. 

Estranhamente... feliz.