Castle

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— Venha, Harry. — Zayn o chamou, erguendo sua espada.

Harry, sem pestanejar, ergueu sua espada e foi para cima do homem, que esquivou de maneira ágil. Era possível ver a fúria em seus olhos, que estavam um tanto mais escuros.

Zayn passou por trás do homem e apontou o objeto metálico, que reluzia. O tilintar do metal se tornou audível quando as espadas começaram a se chocar numa intensa batalha.

Harry tinha fúria em seus olhos, e Zayn sabia disso. Apesar de serem amigos há muito tempo, nunca havia o visto assim.

— Como vocês estão? — Zayn perguntou. E Harry subitamente parou a luta, abaixando sua espada.

Katherine estava dando o seu melhor, e Harry conseguia perceber isso.

Passeava pelo castelo e mantinha uma expressão serena, apesar dos cochichos que a rodeavam e as dores que sentia. Mas ela não podia sentar e chorar, tinha de ser forte.

Já não estava tão machucada fisicamente, mas psicologicamente estava acabada. Seus gritos nas madrugadas eram audíveis apenas a Harry, que a consolava da forma que conseguia.

Harry também tentava o seu melhor, mas apenas Katherine saberia que estava deplorável. Uma dor escondida, inperce

Dizem que quando se perde um filho, perde-se um mundo.

Harry e Katherine foram as missas e confessaram seus pecados. Eles oravam em memória da criança e seguiram em frente da maneira que conseguiam. As criadas pareciam muito mais interessadas nas ações de Katherine.

O fato de que Harry havia matado seu irmão se espalhou pelo castelo, e as pessoas pareciam ter medo dele. Harry não gostava disso, governar pelo medo era terrível.

Guardas austríacos dividiam espaço com ingleses, o castelo agora possuía reforços e era impossível escapar algo dos olhos atentos dos guardas.

— Na medida do possível.

— Não deve estar sendo fácil, Harry.

— Nunca foi. A vida com essa coroa é sempre difícil, Zayn.

— Espero que vocês fiquem bem. Vai tudo ficar bem, Majestade.

— Não precisa me chamar assim, você sabe. — sorriu fraco.

— Queria te fazer rir, pelo menos um pouco.

E isso deixou o homem pensativo.

Afinal, não sabia qual tinha sido a última vez que riu de verdade. Um sorriso espontâneo, vivo, sincero.

Se despediram e Harry seguiu para dentro, precisava ver o estado de Katherine. Pelos corredores, guardas voltavam para suas posições e servos se curvavam diante do Rei e, apesar de viver dentro daquele castelo durante anos, tal tratamento ainda era estranho para Harry.

Fora criado para tomar o trono, mas nunca, de fato, se imaginou ali.

Se imaginou vivendo tudo isso.

Até porque, ele não queria mais viver tudo aquilo.

Harry queria ser livre... com sua esposa. 

Quando chegou na porta do quarto, ouviu os gritos de Katherine. Os guardas na porta se mostravam sérios e sequer pareciam querer tomar alguma atitude, mas sabia que, no fundo, a curiosidade estava os corroendo.

— Fiquem na ponta da escada. — rosnou para os homens, que obedeceram de prontidão.

Respirou fundo e abriu a porta num solavanco, e assim que viu o que estava de fato acontecendo, não conseguiu segurar um suspiro baixo que escapara de seus lábios um tanto pálidos. 

O quarto estava uma completa bagunça, assim como Katherine: gritava enquanto quebrava tudo que via em sua frente. Suas mãos, já sujas de sangue, pareciam famintas em busca de coisas para jogar no chão. Seus olhos possuíam uma profunda tristeza, coisa que Harry sequer vira antes. 

Os gritos saindo de sua boca eram altos o suficiente para incomodar os ouvidos de Harry, que se aproximou de Katherine com cuidado. 

— Você está se machucando — tentou segurar as mãos da mulher, o que foi em vão, já que se esquivou rapidamente, indo para o outro lado do cômodo. — não faça isso, Katherine. 

— Não encoste em mim. — vociferou, derrubando um candelabro — eu não aguento mais! 

Harry correu até ela e a segurou por trás, imobilizando seus braços. Katherine gritava enquanto tentava se desvincilhar, mas ele não permitiu. 

—  Nós vamos ficar bem, Katherine. — Harry sussurrou. 

— Quando? Harry, isso tudo vai acabar apenas quando estivermos mortos! — gritou. 

As pernas da garota fraquejaram, o que a levou ao chão, junto a Harry, que apenas a apertou em seus braços. 

— Temos de seguir em frente, querida. 

— Seguir o que? Harry, eu não quero continuar com tudo isso! 

— Eu também não, Katherine. Acredite. Mas é o nosso papel. 

— Eu nunca quis assumir nada. Eu nunca quis ser rainha!

— Nosso sangue é amaldiçoado, Katherine. Nós estamos fadados a isso desde que nascemos. Fomos prometidos um ao outro, não? Vamos seguir em frente juntos. 

— Harry... — sua voz embargada pelo choro era o suficiente para destruir o coração de Harry em mais mil pedaços. 

— Não se machuque mais... — disse contornando seus dedos gélidos manchados de vermelho. 

— Por que ele teve de entrar em nossas vidas... — sussurrou com dificuldades em meio ao choro descontrolado. 

— Eu não sei, querida... eu não sei. Ele se foi agora, é o momento de voltarmos a nossa vida normal. 

Louis, no entanto, conseguiu o que queria. 

Conseguiu a atenção desejada, usufruir dos luxos encontrados no castelo, das roupas de tecidos mais finos e cobiçados, das comida com especiarias mais caras, dos sapatos feitos à mão, da sensação exorbitante de se sentar no trono, dos vinhos mais caros, de servos e guardas ao seu redor a todo instante... 

O menino de olhos claros e cabelos lisos conseguira trazer o caos. Conseguiu fazer seu irmão passar pelo inferno no qual julgara ter vivido sua vida inteira. Tomou um dos seus bens mais preciosos, feriu aquela que Harry jurou amor... ele conseguiu. 

Ele conquistou o que desejara. 

Harry, num dos desejos mais profundos e escondidos, torcia para que Louis estivesse queimando no inferno naquele momento. Bem como Katherine, que o amaldiçoava a cada minuto de seu dia. 

O homem de olhos verdes mataria seu irmão todos os dias, caso necessário. 

Sabia que tais pensamentos iam contra a vontade de Deus... mas Louis teria de implorar pelo perdão de ambos, pelo estrago que fez na vida de ambos. 

— Nós vamos ficar bem, Katherine. — Harry disse mais para si do que para sua esposa. 

Porque agora começava uma nova vida. 

Porque seus sangues amaldiçoados não os deixariam livres.

Porque eram os reis.


The Kingdom [H.S] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora