Oitavo Encontro

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"...agora eu me deito para dormir e oro a Deus para minha alma guardar; se eu tiver que morrer antes de despertar, então eu rezo ao Senhor para minha alma levar. Amém."

Harry fez o sinal da cruz ainda ajoelhado diante de sua cama e, então, aconchegou-se nela, soltando um largo sorriso ao se sentir confortável, relaxado. Uma melodia calma e alegre soava baixinho dentro de sua cabeça, embalando-o até o sono. Mas algo nessa melodia não estava certa...

Ele ficava ouvindo constantemente o som de colisão, como se os ossos de dedos dobrados estivessem acertando algum vidro. Calmamente, ele abriu os olhos e esquadrinhou a escuridão do seu quarto, buscando dar sentido a esse som; e o encontrou na janela.

Com um suspiro, desceu de sua cama e caminhou até ela, puxando a cortina para o lado e se deparando com olhos azuis levemente assustados.

"Louis?" ele balbuciou e, por alguns segundos, jurou que estava sonhando. Sendo assim, apenas sorriu de forma boba enquanto o rapaz lhe acenava do outro lado da janela. Somente aí percebeu que aquilo era bem real e se preocupou de estar com a cara amassada ou com o cabelo bagunçado. Abriu a janela rapidamente enquanto tentava se arrumar.

"Oh, meu grande amor!" Louis entoava a frase como se a recitasse. "Como apoias o rosto sobre a mão", ele continua, "fosse eu nessa mão, luva, para poder tocar-te o rosto!"

Harry soltou um riso divertido, já entendendo que Louis estava citando Romeu e Julieta. Então, ele embarcou na brincadeira:

"Oh, Romeu, por qual razão é tu 'Romeu'? Nega o teu pai, e o nome que dele vem... Jura que és meu amor e não saberei mais que nome tens", Harry tenta ser tão dramático quanto Louis.

"Não mais serei 'Romeu' daqui em diante; batiza-me de novo como 'amor'," Harry sorriu largamente ao ouvir as palavras de Louis enquanto ele se acomodava no batente da janela.

"Quem te disse o caminho para cá?"

"O amor deu-me vontade e orientação", Louis tomou o rosto de Harry em suas mãos e lhe beijou profundamente.

"Essa foi a coisa mais romântica que alguém já fez por mim", Harry sorriu com os olhos marejados.

"Esse sorriso..." Louis o apreciou. "Eu faço qualquer coisa por ele".

"Amp— Ie— Ah—" Harry esqueceu como se pronuncia as palavras e abaixou o rosto para esconder um pouco seu rubor. Louis riu baixinho e, com os dedos no queixo do outro, reergueu sua face para lhe beijar mais uma vez. "O que está fazendo aqui?" Harry conseguiu falar após recuperar o fôlego.

"Estava com saudades", Louis sorriu travesso, afinal de contas, eles haviam se visto nesse mesmo dia mais cedo. "Vem cá", ele fez com que o outro se sentasse ao batente com ele e o envolveu com seu corpo, seus braços. Harry se aconchegou ali com os pés repousados sobre o telhado da casa logo abaixo.

"Sabe... eu contei pra minha mãe sobre você... sobre nós", Harry confessou e Louis parou de lhe acariciar o braço por um segundo e meio.

"Você contou?" ele perguntou calmamente.

"Eu... escrevi uma carta... eu deixei em cima da mesa do corredor, pois ela sempre presta atenção nessa mesinha quando chega do trabalho. Ela pegou a carta e foi até a cozinha... e eu fiquei sentado no pé da escada esperando ela ler". Harry parou por um tempo para inspirar e se perdeu no cheiro de Louis, o cheiro que ele tanto adora.

"E o que aconteceu?" o de olhos azuis o trouxe de volta.

"Ela... Depois de um tempo, eu escutei ela chorar. Mas eu não sabia se era choro de emoção ou de... ou de decepção, eu não sei. Então eu fiquei lá, encolhido, sem saber o que fazer... Não sabia se eu descia e conversava com ela ou se eu ia para o meu quarto e fingia que não sabia de nada. Então..."

"Então...?"

"Então eu me coloquei de pé e fui até a cozinha... porque eu havia prometido para mim mesmo que estaria com ela quando ela terminasse de ler. Ela estava pensativa quando eu a encontrei e ela abriu os braços quando me viu. Nos abraçamos e o choro dela fez eu chorar também. Choramos até nos sentirmos patéticos por estarmos desse jeito na cozinha", Harry riu baixinho ao se lembrar disso e Louis sorriu também.

"E o que ela disse?" Lou não podia esconder sua curiosidade.

"Eram lágrimas de emoção, afinal... Ela disse que criou uma linda pessoa..."

"Ela não está errada", Louis acariciou os cachos de Harry e lhe beijou a testa. "Até hoje eu me pergunto o que fiz para merecer alguém tão maravilhoso quanto você..."

"Ah para", Harry afundou o rosto no peito de Louis ao tentar conter sua vergonha.

"É verdade!" Louis o segurou com força em seu colo. "Eu sei que você já disse isso algumas vezes, mas... eu ainda não sei porquê você me ama. Eu, entre todas as pessoas desse mundo".

"Bom, você foi o único que escalou até a minha janela para me ver no meio da noite", Harry tentou encarar o outro.

"E estou contente por ter feito isso".

Eles sorriram um para o outro e, então, se beijaram. Se beijaram por um tempo mais longo dessa vez, realizando carícias singelas que ganhavam mais pressão conforme se afundavam em si. Mas eles não poderiam seguir com aquilo. Não naquele lugar... não daquele jeito... então, Louis se impediu, antes que fosse tarde demais.

"Olhe as estrelas", Harry se encantou com elas e admirou o céu. "Eu as invejo... eu me sinto tão invisível".

"Oh, meu amor", Louis soltou um riso meio choroso ao ouvir isso e foi encarado em surpresa pelo outro. "Você não sabe que elas só brilham por causa de você?"

Naquele momento, Harry sentiu seu peito explodir. Sentiu seu coração batendo forte, tão forte que parecia estar pulando de felicidade. E ele ficou sem resposta, sem saber o que dizer. Apenas conseguia encarar o lindo rosto de Louis que corava em instantes ao perceber o que havia acabado de dizer. Mas ele não se arrependia disso. E Harry adorava essa espontaneidade dele.

"Eu também amo você", Harry sussurrou. "Você, e todas as suas maneiras de dizer que me ama... e que me acha bonito."

Ambos se abraçaram, os corações cantando dentro de seus peitos e dançando um com o outro. Louis balançou Harry em seus braços, e Harry seguiu seu compasso. Com um sorriso enorme em seus rostos, eles ficaram dessa forma por longos minutos até Louis reunir coragem suficiente para se afastar do outro.

"Acho que está na hora de eu ir", disse tristemente. "Preciso tomar meu chá, senão não consigo dormir", ele brincou.

"Obrigado por vim", Harry fez um carinho em Louis, "foi a melhor surpresa".

"Mil vezes entristeço sem tua luz", Louis faz uma ultima interpretação enquanto desce pelo telhado e Harry ri divertidamente.

"Louis?" ele detém o outro antes dele descer. "Ela disse que você é bonito... minha mãe... Ela disse que me apaixonei por alguém lindo".

Louis sorriu e assentiu, agradecendo pelo elogio. Então, ele se preparou para pular, mas não sem antes dizer:

"Eu também".

Letters to Lou (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora