Sétima Gravação

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Louis estava mais uma vez com a filmadora na mão, dessa vez assistindo os vídeos que fez de Briana. Ela estava sentada na varanda e ele tinha a mão em sua barriga, sentindo o bebê chutar pela primeira vez. Foi pouco depois disso que a tragédia aconteceu. Ele o sentiu vivo por um segundo ao menos. Tocou seu bebê de alguma forma.

Conforme ele assistia, lágrimas escorriam pelo seu rosto e se chocavam contra a carta que havia acabado de encontrar na mesa. Leu cada palavra dolorosa e decidiu que faria um vídeo resposta para seu marido. Então ele ajustou a câmera diante de si quando o vídeo terminou e enxugou as lágrimas, colocando a filmadora para gravar logo em seguida.

"Harry... eu estive tentando encontrar as palavras pra dizer... Eu..."

Louis olhou para o lado e se sentiu estranho por estar fazendo isso. Por que não poderia simplesmente encarar o marido? Por que sentia seu coração partir toda vez que olhava pra ele? Por que se sentia amargurado e azedo por dentro?

Então, o barulho de passos se fez presente e Louis rapidamente se levantou, virando-se de costas para a porta e procurando respirar firmemente.

"Amor?" Harry falou de forma cautelosa, aproximando-se lentamente. "Está tudo bem?"

"Está", Louis respondeu impacientemente. Segundos de silêncio se passaram. Louis ainda estava de costa e, na filmagem, era possível ver uma sombra se movimentar. Era Harry.

"Você leu a carta?" ele a deixou sobre a mesa e se aproximou mais.

"Eu li", Louis disse ainda virado de costas.

"Você tem algo a dizer?" Harry não tirava os olhos dele. Tinha o coração apertado.

"O que você quer que eu diga, Harry?" Louis virou-se, mas não encarou o marido, ficou apenas encostado.

"Eu fiz muitas perguntas", Harry falava cautelosamente e prendia o choro, "o que você acha?"

"O que eu acho?" Louis falou sarcasticamente. "Não tenho o que achar, Harry... Não é como se pudéssemos voltar no tempo, não é? Esse tempo já passou, e é uma merda! É tudo uma merda!" bateu com força na bancada e acabou mandando uma louça de inox pro chão com o mesmo barulho de um trovão.

Harry ficou calado e colocou a mão na boca para conter ainda mais o choro. Respirava com dificuldade. Louis balançou a cabeça e rosnou antes de continuar:

"Meu trabalho é uma merda, nossa vida é uma merda e nós não temos mais um bebê de merda!"

"Nós ainda temos outras opções, amor", Harry se apressou em dizer, "ainda podemos tentar de novo! Podemos adotar!"

"Passar por tudo isso de novo? Tá doido?" Louis olhou para Harry pela primeira vez agora. "E todo o dinheiro que nós gastamos? Dinheiro que poderíamos ter investido em outras coisas! Não sobrou quase nada do dinheiro que você ganhou e nossos empregos só pagam pelas nossas necessidades! Encare isso, Harry: nós estamos ferrados!" colocou-se novamente de costas.

Harry agora fazia um esforço ainda maior para não chorar, mas as lágrimas já começavam a protestar.

"Eu queria que fosse tudo maravilhoso, como sonhamos que seria... mas não é", Louis falou com a voz um pouco mais branda. "Se ao menos eu tivesse terminado minha universidade... se ao menos você pudesse me dar um filho... Se você fosse uma mulher, tudo seria mais fácil..." Louis finalmente soltou o que lhe estava prendendo o ar todo esse tempo.

"É isso que você acha?" a voz de Harry transbordava em mágoa. "É por isso que você quer voltar no tempo, pra poder terminar a faculdade?; pra nunca ter ido atrás de mim?; pra poder... estar casado com a Eleanor?"

"Do que importa?" Louis continuava irredutível. "O que está feito, está feito! Já era!"

"Louis..." Harry deu um passo adiante e chamou a atenção de Louis para si. Já chorava um pouco, mas tentava manter a voz firme. "Largar a universidade por mim foi uma das coisas mais bonitas que você já fez... me pedir em casamento também... Eu te apoiei com a maternidade por substituição... te apoiei em tudo. Você tem que saber que... essas escolhas foram suas. Eu não te obriguei", colocou mais firmeza nessa última sentença. "Eu não te obriguei a ficar comigo e não te obriguei a largar tudo, e eu sinto muito por não poder te dar um filho, mas e tudo mais que eu te dei? Louis, eu te dei a minha vida", as lágrimas desciam como rios, "tudo que eu faço é em função de você, por nós dois... pra gente ser feliz, pra você ter tudo que sempre quis... tudo que eu fiz, eu fiz porque eu te amo!" Louis, agora, também começava a chorar. "Eu estive do seu lado em todos os momentos, sempre. Feliz, contente, apenas por estar com você! Mas foram suas escolhas. Ter me escolhido... foi um erro?"

Um sinal aparece no canto da tela, indicando que a fita está prestes a acabar. Harry fica diante de Louis esperando pacientemente por uma resposta. Louis olha para baixo, chorando baixinho, tentando respirar de alguma forma enquanto seu peito dói tanto. A imagem fica trêmula e a gravação se encerra antes que possamos ver a resposta.

Letters to Lou (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora