Reencontro

58 9 0
                                    

A estação mudou, mas é estranho. De alguma forma, as coisas permanecem as mesmas. Árvores ainda se escondem nas florestas, e nuvens ainda se formam no céu. Pássaros continuam cantando, o mundo continua girando. Será que eles não sabem que é o fim dos tempos? Pois dois jovens apaixonados já não trocam mais cartas.

Mas o tempo não para, não volta, para ninguém, e com a estação renovando os ares, também se restabelece o prédio da escola e as aulas voltam. Para Louis, é mais um dia qualquer. Para Harry... ele ainda permanece em seu calabouço de memórias, observando o amado pela janela quando pode, seu único resplendor de sonhos. Encara-lo de frente é torturante. Foi assim a primeira vez que se olharam – o impacto; e silêncio. Mais nada. Louis foi o primeiro a virar o rosto e seguir seu caminho. Harry teve que fazer o mesmo.

E os dias foram se passando, como se já estivesse selado o destino dos amantes. Harry confinou-se a biblioteca, lendo mais do que o normal, encontrando em livros o refúgio que precisava da realidade torturante que estava vivendo e, com o tempo, a dor foi diminuindo. Ele aprendeu a ver Louis de uma maneira diferente. Olhava para ele e se perguntava "por que eu deveria me sentir triste por algo que eu nunca tive?"

Mas isso não é verdade, é? De alguma forma, ele o tinha. De alguma forma, ele ainda o tem. Não em seus braços. Não em seu quarto. Não em sua cama. Mas ainda pode olhar para ele como sempre fez, apreciar seu sorriso ou o jeito como usa a costa da mão para afastar a franja; ainda pode ser feliz observando-o, convivendo, de alguma forma. Ainda pode imaginar, antes de dormir, que se beijam na árvore do topo da colina. Ainda pode cantar músicas sobre ele e, com o tempo, isso não doerá mais. Porque Harry descobriu uma coisa:

O amor que dói não é amor. O amor que encontra rejeição não é amor. Como poderia ser rejeitado se fosse amor? Há a obrigatoriedade de se ter reciprocidade quando se ama alguém, ou ele parece inválido. Mas não é. Harry continua amando Louis, e sempre o fará. Mesmo que Louis não possa amá-lo. O simples fato dele existir é alegria para seu coração. Então ele não se importa mais. Não parou de escrever cartas de amor, apenas parou de entregá-las. Mas o sentimento continua la.

Louis sentia os olhos de Harry sobre si, mas fingia não perceber. Havia algo magnético que fazia ele querer encarar de volta. O olhar atrai. E ele resistia a atração. Estava falhando, porém, enfraquecendo, e ele sabia disso. Sabia tanto que certa vez, ele mesmo se pegou olhando para Harry quando esse andava distraído pelo corredor. Em outro momento, na cafeteria, Harry o estava observando e ele olhou de volta. Não falaram nada. Não acenaram. Não fizeram o menor gesto. Mas também não pararam de se olhar.

E quando o olhar se quebrou, Louis sorriu, pois Harry parecia feliz. Ele não tinha mais aquele olhar de bichinho abatido que fazia ele se sentir culpado, fazia ele querer dar passos apressados até tê-lo em seus braços para poder consolá-lo. Havia esse sentimento em relação a Harry, esse cuidado. Havia ternura. E ainda haviam as cartas que Louis não só possuía, como também lia.

Havia... alguma coisa... de alguma forma.

Não se sabe se pode ser nomeado amor, mas pode provavelmente ser o mais parecido que já existiu com isso.

Os passos de Louis adentraram a biblioteca, lugar onde ele sabia que encontraria Harry. Escondido, ele observou o garoto e observou o livro que ele lia. Fez isso por dias até o momento em que Harry não poderia mais levar o livro para casa. Teria que esperar um dia para poder emprestá-lo novamente. Foi esse momento que Louis aproveitou, e, quando Harry pegou novamente o livro, havia algo dentro dele.

Havia um envelope com seu nome. 

Letters to Lou (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora