Reação do Louis

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Todos os dias de manhã é a mesma coisa: eu acordo cedo e desço as escadas de casa antes de me arrumar, antes mesmo de tomar banho; antes de todos, só para checar a caixa de correio. No decorrer da semana, não há nada de interessante lá. Mas, em alguns dias... há um pouco de prosa esperando por mim.

Eu recebi a primeira carta pouco tempo depois de ter me mudado. Primeiro, eu pensei que fosse apenas uma brincadeira, mas com o passar do tempo, isso se tornou algo sério. E algo especial. Eu sinto como se estivesse em um relacionamento com alguém secreto. Secreto até para mim mesmo, por sinal. Mas extremamente devoto e presente.

Não vou mentir que senti medo no primeiro momento e que fiquei com aquela estranha sensação de que alguém estava me observando o tempo todo. Eu cheguei até procurar por câmeras escondidas na casa. É sério, não ria! Eu sempre fui meio desconfiado com casas em que outras pessoas moraram antes, não por causa de câmeras, mas por causa de fantasmas. É coisa idiota, eu sei. Mas essa não é a questão aqui.

A questão é: estou viciado nesse negócio de receber cartas anônimas. Deus, toda noite eu rezo para que haja uma carta na caixa do correio e rezo para que seja aquela que me dirá quem é essa pessoa que se tornou minha admiradora secreta.

Eu já entendi que as cartas são colocadas de madrugada na caixa do correio. Certa vez, fiquei acordado até tarde para tentar flagrar esse entregador de cartas secreto, mas fui vencido pelo sono. Ou ele vem bem tarde ou acorda muito cedo.

É impossível não se sentir lisonjeado com todas as palavras que leio sobre mim. Eu me pergunto aonde ela está toda vez que está me observando. Será mesmo que estou olhando diretamente para ela e não a vejo? Eu gostaria que ela me desse alguma dica; algum sinal que me faça perceber quem é. Assim, eu mesmo faria questão de me aproximar e lhe dizer "oi, recebi sua carta; e eu adorei. Posso te chamar pra sair?"

Não consigo entender como é que alguém que nem convive comigo pode gostar tanto assim de mim. Se ela soubesse todas as dúvidas que levo em minha cabeça, todas as minhas inseguranças e fragilidades... será que gostaria tanto assim de mim?

Viu? Cá estou eu com minhas inseguranças, já! É risível.

Já não tento mais descobrir quem me observa secretamente, pois sei que já vi essa pessoa. Já até toquei nela; e, mesmo assim, não sei quem é. Como posso ser tão cego? Mas isso não importa. Gosto de ser observado dessa maneira, gosto de todas as palavras doces e carinhosas que me são escritas. Essas cartas fazem eu me sentir melhor do que qualquer pessoa que eu conheço, melhor do que qualquer comida que eu goste e melhor do que qualquer atividade que me agrade.

E é por isso que todos os dias eu voou pelas escadas, saio de casa só de pijama e procuro por algum envelope com meu nome escrito. "Lou". Já ouvi algumas pessoas me chamando dessa maneira, mas nunca de forma tão especial.

Eu adorei a música que ela fez pra mim. Gostei tanto, tanto, tanto que a levo dobrada em minha carteira, para que eu possa lê-la sempre que me sentir sozinho. Tento criar algum tipo de ritmo na minha cabeça para canta-la, mas nada seria melhor do que ouvir sua voz mostrando-me a melodia dessa canção.

Eu guardo todas as cartas, com muito carinho, tanto no pequeno baú debaixo da minha cama, quanto no meu coração. Isso se tornou a coisa mais valiosa da minha vida agora. Se essa casa pegasse fogo, não tenho dúvidas: eu ficaria contente de salvar somente esse baú.

Na última carta, ela me perguntou se está se apaixonando por mim. Eu espero que sim, pois... tenho dificuldade de admitir isso, já que nem a conheço, mas por todas as coisas que ela me diz... eu acho que estou me apaixonando por ela também.

Espero algum dia poder conhece-la...

Letters to Lou (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora