Quarto Encontro

109 15 30
                                    

Louis se cansou de ficar apenas em casa ou sair com seus amigos para lanchonetes e lojas. Os primeiros dias sem aula foram ótimos, mas agora, ele estava começando a ficar sem ideias para combater o tédio — e ele não poderia ficar muito tempo sem fazer nada, ou cresceria em seu peito a ansiedade para receber a surpresa da pessoa amada. Então, ele decidiu levar seus pensamentos para um lugar diferente.

Ele foi até a biblioteca e caminhou por horas pelas prateleiras até escolher um livro que fosse de seu interesse. Ele não tinha certeza do que queria ler, apenas sabia que não queria mais assistir filmes ou jogar video game. Gostou de ter lido o livro que lhe foi indicado pela pessoa das cartas e sentiu necessidade de ler mais.

Ele pegou alguns livros clássicos, leu o primeiro capítulo de cada um deles e, então, os devolveu para a prateleira. Buscou depois por livros de aventura e fantasia, pois isso sempre foi algo de seu interesse. Mas nenhum deles o agradou, pois não era bem isso que Louis procurava. Ele queria algo mais profundo, mais emocionante, mais... romântico.

E foi por isso que ele saiu de lá com "Diário de Uma Paixão" em suas mãos, especialmente porque uma frase logo nas primeiras páginas lhe chamou atenção: "eles se apaixonaram, não foi?". Louis ficou curioso sobre esse "tal diário" e queria saber como o amor era escrito para que pudesse escrever o seu próprio.

No caminho de volta para casa, ele passa por uma alameda que leva, a muitos passos, para o vale. No alto desse terreno se encontra a árvore sem folhas que lhe foi apresentado certa vez em uma das cartas. É um lugar tranquilo, pacífico, inabitado. Louis acredita que não existe melhor lugar na Terra para ler o livro. Sendo assim, ele segue para lá.

Seus passos são lentos, pois seus olhos estão fixos nas páginas. Ele somente restringe a leitura quando precisa prestar atenção nas ruas, mas ao subir o vale, sua cabeça volta a se abaixar para encontrar conforto nas palavras daquelas páginas recém impressas.

Prestes a chegar no local da árvore, Louis começa a ouvir uma baixa melodia ecoando de lá e estranha a presença de outra pessoa. Seu coração começa a bater mais forte e ele não sabe porque, mas quer sorrir. Em silêncio, ele se aproxima e vê Harry sentado ao pé da árvore com um violão. Ele está entonando alguma canção.

Louis fica surpreso ao descobrir que mais alguém conhece aquele lugar. Ele não poderia expulsar Harry de lá. A verdade é que ele ficou feliz em vê-lo novamente, ver um rosto diferente e que lhe era tão prazeroso. Planejou que iria dar um susto no outro e, sendo assim, foi chegando com passos silenciosos.

No entanto, algo lhe chamou atenção. Aquela melodia, ele não conhecia; a letra da música, por outro lado... lhe soava familiar. De forma bastante lenta e confusa, Louis alcançou sua carteira e retirou um papel dobrado de lá. Algumas marcas pelo papel o escureciam, mas as palavras escritas eram claras como o sol branco que pairava sobre os dois.

E, em comedimento, Louis acompanhou cada estrofe daquela música. Ele a conhecia de cor. Já havia tentado canta-la várias e várias vezes, em diferentes tons, em diferentes circunstâncias e em diferentes ritmos, mas a letra era a mesma.

"You", Harry vocalizava, "got heaven in your eyes... I like that... I like that about..."

"You", Louis não se conteve e cantou junto com o outro, que se assustou com o som da voz de Louis, fazendo-o se virar rispidamente. "É você... Eu sei que é você", foi tudo o que Louis conseguiu dizer naquele momento. Seus olhos marejavam enquanto o coração de Harry estava em turbulência.

Harry inspirou profundamente. Seus lábios tremiam, ele não sabia o que dizer... não sabia o que fazer. Ansiava pelo momento em que Louis descobriria sobre sua identidade, mas não sabia o que iria fazer quando isso acontecesse. Além do mais, não era isso que ele havia planejado. Aconteceu cedo demais.

Agora, Harry não poderia mais se esconder. Ele sabia disso, apenas precisava de forças para admitir.

"O cabelo cacheado, os olhos verde...", Louis começava a perceber os sinais enquanto tentava controlar o tom de voz. "Você escreveu essa música", ele aperta com força o papel em sua mão. "Você escreveu todas aquelas cartas... Você..." ele estava perdendo o controle.

"Sim, Lou", Harry estava muito vermelho. "Fui eu", sua confissão era um sussurro.

"É por isso que você tinha medo de dizer quem era, não é? Bom... você não estava errado em ter medo", Louis demonstrou-se extremamente nervoso e irritado. Ele não conseguia se controlar. "Como pôde fazer isso comigo? Como pôde brincar comigo dessa maneira?"

"Lou?" Harry malmente conseguia se mexer, mas algo lhe dava forças para dizer o que precisava dizer. "Eu nunca brinquei com você. Todos aqueles sentimentos... são verdadeiros!"

"Não diz isso!" Louis perdeu o controle e gritou. Lágrimas acabaram escapando de ambos.

"E todas as coisas que VOCÊ me disse? Elas eram mentiras, também?" Harry confrontou o outro. "Você disse que não importava quem eu era ou como eu me parecia, pois você se apaixonou por mim, se lembra disso?"

Enquanto Harry fez seu argumento, Louis sussurrou "cale a boca" várias vezes.

"Você disse que me amava!" Harry finalizou e Louis perdeu novamente a razão:

"Cala a boca! Você mentiu pra mim! Escondeu quem você era!"

"Eu nunca me escondi de você..." Harry balançou a cabeça e falou com ternura. "Eu nunca tentei ser alguém que não sou. Foi você que me viu dessa forma!"

"Você sempre soube", Louis controlava o choro, mas as lágrimas não cessavam, "podia ter parado isso entre nós dois... Agora, é tarde demais. Eu não posso ficar com você..." Louis balbuciou enquanto tentou dar sentido às coisas.

"Por que? Por que eu sou um garoto?" Harry o desafiava. E Louis assentiu. "E é tão importante assim que eu seja um ou outro?"

"Harry!" Louis, frustrado, bateu os braços no corpo e sentiu o livro ainda em suas mãos. Ele o largou imediatamente, deixando cair aberto no chão. "Não foi isso que imaginei... Eu não gosto de garotos. E, se eu soubesse que você era um... eu não teria deixado isso chegar tão longe."

Harry sentiu seu coração se partir em mil pedaços. Ele fechou os olhos com força e as lágrimas escorreram como rios de bruta correnteza. A dor era tanta que ele precisou por as mãos no peito, deixando seu violão tombar para o lado.

Louis encarou o papel em sua mão, a música que Harry havia escrito, e não encontrava forças para segura-lo. Sendo assim, ele deixou o vento carrega-lo.

"Desculpa, mas eu não consigo lidar com isso... Adeus".

Letters to Lou (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora