Capitulo sete.

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O lugar era pouco iluminado, eu já o conhecia de todos os anos, a pequena lanterna acesa aos pés do meu saco de dormir era a única coisa que o clareava, nunca entendi porque as pessoas tem tanto medo de cemitérios, é o lugar mais calmo que poderia haver.

Fazia exatos três dias que eu estava ali sem a mínima vontade de voltar, e eu creio que ninguém desconfiasse onde eu pudesse estar. Porém, por mais que pensasse com clareza, meu cérebro não me ajudava a entender que eu deveria voltar. Conversava durante horas com uma pedra fria, e chorava durante horas quando não podia mais enxergar sua foto desgastada na lápide.

Até que escutei passos.

Passos que me fizeram encolher para dentro do saco de dormir.

Talvez, eu tivesse certeza que não era uma alma penada, afinal, na minha cabeça elas flutuavam e eu não podia desejar muito já que estava num lugar como aquele.

Mas quando ouvi sua voz, eu desejei que fosse o chupa cabra e não ele.

- Eu falei para todos que você estaria aqui. – Ele se abaixou na minha frente, sim, Henry. – Mas ninguém me ouviu então, eu vim de Los Angeles para que me escutassem. – Eu queria lhe mandar embora, mas minha voz havia se perdido em algum local, quando ele quis tocar em mim, me afastei / há limites. – Eric. Responda-me. Fale comigo. – Sua voz me tocou doce, como sempre e eu suspirei. – Sei que dói, mas você precisa falar.

- Eu não a salvei. – Apenas sussurrei, e ele sentou-se na terra molhada a minha frente, seus olhos azuis então focaram os meus.

- Você não poderia, meu anjo das flores. – Ah, esse apelido, neguei com a cabeça e tornei a falar com a mesma voz morta de anteriormente.

- Vá embora.

- Não, nós vamos. – Ele levou sua mão para tocar meu braço e novamente, eu me afastei.

- Vá embora.

- Eu não irei. – Ele não iria. – Me conte, conte o que sente.

- Eu só a quero aqui. Eu só quero voltar... E trazer ela de volta.

- Me conte como foi.

Então voltei a chorar, soluços escapavam dos meus lábios sem que eu pudesse conter e quando Henry abraçou-me, esqueci de todo o mal. Esqueci-me do motivo de terminarmos, do motivo de ter fugido dele, e lembrei de que ele sabia. Sabia de tudo e mesmo assim, achava que eu valia a pena e era, um anjo. Mas eu não era, eu podia ter salvado ela.

Quando tínhamos doze anos, minha irmã gêmea e eu, éramos loucos por literatura, vivíamos lendo todos os livros possíveis, toda e qualquer coisa, assim como fantasiávamos todas as histórias que vislumbrávamos em nossas mentes. Foi numa segunda feira, era meados do segundo semestre daquele ano, quando meus pais resolveram nos levar para jantar fora. Minha irmã estava lendo seu livro favorito, enquanto eu estava ao lado, pensando em qualquer coisa banal. Foi quando a pancada chocou e minha cabeça bateu contra o vidro, não lembro de muito, só lembro que havia muito sangue, meu pai chamava por nós, mas minha voz não saia, foi quando olhei para o lado e minha irmã estava lá, de olhos abertos como se me fitassem até a alma.

- Larissa. – Pude chamar quando encontrei meu dom de falar, ela não respondeu e quando pensei em me mover, meu corpo inteiro gritou diante da dor. – Irmã. – Ela não respondia e eu não conseguia chegar até ela, ela apenas... Não estava mais lá. E eu pude a sentir dentro de mim, foi quando as vozes começaram. Durante meses, meus pais tiveram que me levar a inúmeros psicólogos, até a primeira internação. E nem assim, eu podia salvá-la.

MOLETOM (+18)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora