Capítulo 28

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O fim de semana chega. Desde aquele dia, não conversei mais com a Bia, ela até tentou puxar assunto, mas eu só respondi o básico, não queria conversar com ela, estava muito magoada por ela ter me escondido algo tão importante e que de certa forma interferia na minha vida. Ela poderia ter me contado antes, por isso ela ficava tão incomodada quando se tratava dele, ela pode negar o quanto quiser, mas eu tenho certeza que ela ainda gosta dele.

Eu e Alex continua daquele jeito, juntos, mas sem ninguém saber, não quero assumir nada agora.

Hoje é o dia do meu primeiro ensaio com Augusto, vai ser na casa dele, ele queria me buscar em casa, mas eu não deixei, disse que iria de transporte público mesmo, não quero nenhum contato fora essa dança com ele.

Chego a enorme mansão, sou recebida por uma senhora muito simpática, provavelmente a empregada. A casa por dentro era completamente luxuosa, fiquei admirando cada canto, era perfeita.

Logo Augusto desce as escadas sem camiseta, apenas com uma bermuda jeans. Ele está com os cabelos molhados, tão lindo e atraente.

Foco, Arlete! Você veio apenas pra ensaiar.

- Pode ficar a vontade - ele diz e com um beijo na bochecha me cumprimenta.

- Obrigada - me sento no sofá.

- O nosso professor de dança ainda não chegou, quer tomar alguma coisa?

- Aceito uma água.

Ele se retira e logo volta com o copo de água.

- Está sozinho? - pergunto.

- Sim, meus pais quase não param em casa, viajam muito.

- E você não tem irmãos?

- Tenho uma irmã, ela já é casada e mora fora.

Não pergunto mais nada, não quero encher ele com minha curiosidade, só puxei assunto mesmo pra não ficar um clima tenso entre nós, mas eu ainda estava muito magoada, e depois de descobrir que ele e a Bia já namoraram, foi pior.

- E seu pai? Melhorou? - ele pergunta me tirando dos meus pensamentos.

- Sim, ele já está bem melhor.

- Que bom, sei o quanto ele é importante pra você.

- Sim, ele é meu tudo, minha vida e eu o amo muito, não sei o que seria de mim sem ele, ele é o meu herói.

- Gostaria de ter essa relação de amor com meus pais, mas desde que nasci eles viajam, eu não sei nem o que é comer com a familia toda reunida.

- Não podemos ter tudo na vida né.

Ele não responde, apenas encosta as costa no sofá e fica refletindo.

Eu não julgo tanto Augusto, sei que se ele é assim é por causa da ausência dos pais, entendi que o que ele quer é a atenção dos pais, por isso age feito um rebelde, pra conseguir mesmo de forma negativa a atenção dos pais, porque só assim eles prestam atenção no filho. Sinto pena dele, ele é muito sozinho e desconta suas frustrações de casa nas pessoas.

Eu adoraria ficar ao lado dele e ajudar ele a se superar e se tornar uma pessoa melhor, mas eu não consigo mais, a mágoa em mim, pelo menos por enquanto, é maior que os meus sentimentos por ele. Ele já me machucou de mais, não quero sofrer o mesmo outra vez.

Ficamos ali aguardando até o professor de tango chegar.

- Bom dia meu jovens - ele diz todo animado.

- Bom dia - respondemos sem tanto ânimo.

- Vamos levantar esse astral ai né, não da pra dançar assim - o professor tenta nos animar - E pra começar, vamos trocar de roupa, não da pra dançar desse jeito né.

- Onde é o banheiro? - pergunto a Augusto.

- Tem um logo ali - ele aponta para uma porta no canto da sala.

- Obrigada - pego minha mochila e vou para o banheiro.

Como eu já estava de tênis, eu apenas coloco um leg e uma regata.

Quando saio do banheiro, Augusto já estava pronto.

- Vamos começar? - o professor que eu ainda não sabia o nome diz - O segredo do tango é o sentimento, é preciso olhar no olho do seu parceiro e transmitir sentimentos bons.

Não seria tão difícil isso, tudo que sinto por Augusto é bom.

- Qual seu nome jovem? - ele me pergunta.

- Me chamo Arlete - digo.

- Então Arlete, meu nome é Leonardo, mas pode me chamar apenas de Léo. O tango é uma dança que exige certa sensualidade, e não é dançada de tênis, muitos menos ensaiada, você precisa se acostumar a dançar com um salto, para no dia da apresentação você não cair ou torcer o pé, hoje vou deixar você ensaiar assim, mas na nossa próxima aula venha com um salto alto, não precisa ser tão alto já que você não tem tanta prática, mas venha de salto.

- Tudo bem, obrigada.

Léo nos passa alguns passos e solta a música e começamos a dançar. Foi um desastre! Augusto pisava no meu pé, e eu também pisava nele, não conseguimos ficar olhando um pro outro por muito tempo, e não dançamos em sincronia, foi horrível. Léo tentou por diversas vezes melhorar pelo menos nossa sincronia, mas foi em vão.

- Chega, chega, chega - Léo desliga a música - Eu não sei o que está rolando entre vocês e nem quero saber, mas se querem ganhar isso, ou pelo menos ficar em uma colocação boa, vocês precisam esquecer tudo e se entregar a essa dança, se continuar assim vocês não merecem ficar nem em último lugar - ele recolhe as coisas dele - O festival já é daqui um mês, só teremos mais cinco aulas e duvido que vocês vão conseguir alguma coisa, posso dar algumas aulas extras aos domingos e no feriado pra vocês, mas só se vocês demonstrarem que quer - ele respira fundo e nos encara - Por hoje é só, espero que treinem e melhorem, tchau - ele diz e sai.

Ele ficou decepcionado com a gente, realmente foi horrível nossa dança.

Me sento no sofá e fico pensando no que ele falou, ele estava certo, não merecemos nem o último lugar. Augusto parecia fazer o mesmo que eu, ficamos calados, apenas pensando.

Era pra ser Você [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora