Capítulo 42

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Eu mal consegui dormir essa noite, minha vontade era de estar no colégio para terminar o ano lá e não consegui parar de pensar no pai da Rebecca.

Meu pai já tinha saído pra trabalhar e Angela foi para o colégio.

Depois de arrumar a casa, vou até o meu antigo colégio para fazer minha matrícula, consegui me matricuar tranquilamente, mas só tinha vaga para de noite.

Na volta do colégio encontro com Rico.

- Você não deveria estar no colégio? - ele me pergunta.

- Eu não estudo mais lá.

- Eu sempre te disse que aquele lugar não era pra você, as pessoas de lá também não são legais.

- Eu sei, mas eu queria ficar lá,  apesar de tudo eu gostava de lá e fiz amigos de verdade, foram poucos, mas eram verdadeiros.

- Agora que você está de volta, podemos voltar a ser amigos, se você quiser podemos sair ou ficar em casa mesmo.

- Se você se esqueceu do que me fez, eu não esqueci, não tenho mais raiva ou mágoa de você,  mas também não quero nenhum tipo de contato com você.

- Eu fui um completo idiota, só agora percebi o que perdi, eu te amo muito Arlete, sempre amei.

- Se você me amasse como tanto diz, não teria me traído com a minha própria irmã.

- Eu sei, mas te amo muito e é verdadeiro, sei que não te dei valor, mas entenda o meu lado, eu tenho as minhas necessidades.
- Eu também tenho as minhas, mas você nunca se importou com isso - digo e deixo ele pra trás.

Chego em casa e não tinha nada pra fazer, sinto tanta falta do colégio, mas agora posso tentar arrumar um emprego.

Mais tarde tive que criar ânimo para me arrumar para ir estudar, a minha tarde foi bem tediosa e eu não queria estudar de noite, mas eu não tive escolha.

Depois que eu estava pronta pego minha mochila e saio. Vou caminhando até o colégio que não ficava tão longe.

Quando entro na minha sala muitos ficavam me olhando, eu sei bem o porque.

- Você não estava estudando em escola de rico? - uma garota pergunta.

- Sim, mas tive que sai.

- Bem eu que eu falei pra vocês que ela não ia ficar muito tempo lá - ela fala para alguns garotos no fundo da sala e sai.

Eu sabia que muitos duvidavam da minha capacidade naquele colégio, mas o que importa é que eu sei porque não estou lá.

As aulas passam bem devagar, era tedioso estudar ali, principalmente naquele período,  os alunos não estavam nem ai para aula e acabava atrapalhando quem queria estudar.

Quando a aula acaba, vou caminhando sozinha para minha casa. A maioria dos alunos saíram do colégio e ficaram na rua conversando, fumando e bebendo.

Ainda bem que não falta muito para o ano acabar, não sei como sobrevivi a tanto tempo naquele lugar. O problema não são os professores, tem alguns que poderiam ser melhores, mas no geral eles são bons no que fazem. O real problema ali é a infraestrutura, aquele colégio é esquecido pelo governo e isso só porque somos "favelados". Os alunos também não ajudam, ficam conversando o tempo todo e fazendo bagunça,  atrapalhando o professor a fazer o seu trabalho, eu até entendo eles, imagino que estão revoltados com a situação que encontra nosso colégio, mas essa definitivamente não é a melhor forma de resolver.

Ouço alguns passos atrás de mim, olho pra trás, mas não vejo nada, estava na completa escuridão e sozinha, tento não ficar com medo, mas eu estava com o coração na mão, acelero meus passos para chegar a um lugar mais iluminado logo.

Ouço novamente passos atrás de mim e me viro de novo pra ver quem era, um alívio toma conta de mim quando vejo Rico se escondendo atrás de uma árvore, sei que ele não vai me fazer mal.

- Pode aparecer Rico, já te vi - digo e ele sai de trás da árvore - Posso saber o porque está me seguindo? - pergunto.

- É perigoso você andar por ai sozinha, por isso vou te acompanhar todos os dias de volta pra casa.

- Não precisa, eu sei que nada vai acontecer.

- Precisa sim e como sabia que você ia recusar, eu quis te acompanhar escondido.

- E não deu muito certo né - dou risada.

- É, você é muito esperta, sempre foi - ele diz e permanecemos em silêncio por um tempo - Arlete, eu sei que vacilei muito com você, mas deixa eu ser pelo menos seu amigo, eu me preocupo com você e só quero seu bem, e mesmo você recusando, eu vou acompanhar você todos os dias de volta para sua casa.

Realmente ele vacilou muito, mas Rico não era uma pessoa ruim, eu sei que apesar de tudo eu poderia confiar nele e por isso vou dar a chance de sermos amigos, apenas amigos.

- Se não for te incomodar ou te atrapalhar, eu aceito que me acompanhe até a minha casa todos os dias - digo.

- Não vai atrapalhar em nada. Amigos então? - ele estica seu braço em minha direção.

- Amigos - digo dando ênfase e aperto sua mão.

Rico e eu seguimos para a minha casa convesando bastante, não sei de onde arrumamos tanto assunto.

Devo confessar que a companhia dele me trouxe tranquilidade e me senti mais segura sabendo que ele estava comigo.

Era pra ser Você [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora