Nunca havia pensado em morte, aliás nunca tinha pensado na minha morte.
Talvez porque era jovem demais para pensar nisso, imaginava que morreria idosa deitada na minha cama quentinha depois de ter vivido muitos anos, e tendo uma vida normal e feliz.
Era uma bruxa e isso não é normal, nada na minha vida seria, mas era isso que me tornava especial, e por causa do milagroso anel conseguiria voltar a vida, mas isso me fez imaginar se realmente existia o céu o e inferno.
Se os anjos me esperariam na porta do céu, dizendo que sou merecedora da paz, ou iria direto pra o inferno já que não era inocente, pois havia matado um vampiro.
Mas quando me dei conta de onde minha alma estava, vi que não era nenhum e nem outro.
Estava na mesma cidade, reconheci os lugares, os prédios e comércio, mas a cidade estava abandonada, havia só escuridão, ninguém nas ruas, nem músicas, apenas eu.
- Será que o anel me trouxe para cá? - Pensei.
Ia andando para procurar alguem, mas não tive sucesso, e gritei.
- Tem alguém aqui?
Quem sabe se alguém , estivesse lá também, mas só ouvi o eco da minha voz e depois o silêncio.
Comecei a andar mais rápido, olhei para as paredes e via vultos de pessoas, e risadas por todo lado.
- Socorro! - Gritei.
E me surpreendi quando alguém me respondeu, era uma moça muito bonita, tinha cachos negros e seus olhos eram de um verde esmeralda, era deslumbrante, e ela me disse calmamente:
- Fique tranquila, ninguém lhe fará mal, afinal você já morreu.
- Eeee..... eu.. acho que conheço você - Disse assustada.
- Provavelmente. - Ela disse olhando para o anel do meu dedo.
- Você é a mulher que encantou o anel... Sabrine...
- Exato, e vejo que ele te salvou.
- Não! -Gritei.
- Sim, olhe em volta isso aqui é um mundo paralelo.
- Como ? Foi o anel? - olhei para ele.
- Bom, quando os seres sobrenaturais morrem, eles vêem para cá e ficam aqui vagando pela eternidade, alguns tem paz outros não.
- Então porque estou aqui?
- O anel é sobrenatural, ninguém sai daqui depois que vem a esse mundo, mas como você o usa ele te levará de volta a vida em uma hora.
- Porque tanto tempo?
- Sua alma está quebrada, o anel irá reconstruir e você retornará.
- Incrível!
- Fique fora de problemas enquanto estiver aqui, o vampiro que você matou está te procurando, se esconda.
- Ok.
- E esses vultos?
- Ancestrais, respeitem eles.
E abaixei a cabeça, e sai contando os passos, para passar o tempo mais rápido.
Ia andando, a cada batida do meu coração, ele estava lento.
Segui até minha casa vazia, tão sombria, sem minha família é a cada minuto que se passou percebia que meu coração acelerava, acho que meu tempo nesse lugar estava acabando.
Estava sentada no sofá da sala, quando alguém deu um chute na porta e ela saiu no chão, era o vampiro que matei.
- Achei você! - Gargalhou.
- Se afaste de mim!
- Você não terá sorte dessa vez, sua bruxa !
E com sua velocidade foi até mim e me jogou em cima da mesinha da sala, que era de vidro, e cai sobre eles, que se espatifaram no chão, caindo cacos sobre meu corpo quando ele me lançou no ar , e então sentiu meu cheiro, aliás o cheiro do meu sangue e veio até mim.
Quando ele ia me morder, abri os olhos..
Estava no mundo real novamente.
- Mamãe Sue voltou! Disse uma voz feliz.
- O anel funciona! - Outra voz falou.
- Sue querida, como você tá ? - Disse minha mãe.
- É.... Ham ... o anel me salvou... - Disse confusa.
- Sim! Mais por onde você esteve até voltar para cá ?
- Mãe, estava aqui... É quer dizer..... Na mesma cidade.. mais numa frequência diferente.
- Como filha?
- É como uma frequência de rádio, eu acho.
- Ainda não entendo querida.
- Ouça mãe, é como se o mundo real fosse FM, e o mundo dos mortos fosse AM .
- Ah, acho que posso entender isso.
- Certo.
- E sua magia... Nós destruímos o totem...
- Não senti nada de diferente, acho que não funcionou - Disse tristemente.
- Ah acho que devemos purificar você.
- Mas eu tô bem...
- Já devíamos ter feito isso, desde que você foi possuída ... Mas aconteceu tantas coisas... - Disse olhando para o anel de casamento dela e do papai.
- Vamos achar ele mamãe.
- Ok, mas vamos cuidar de você agora.
- Sim.
Continuei deitada, não tinha muitas forças para me levantar, o sono estava tomando conta de mim, e fechei os olhos.
- Sue não durma! Mantenha- se acordada.
- Só estou de olhos fechados...
O cansaço era tão grande, que não conseguia me manter de olhos abertos, só ouvi ela fazendo o feitiço de purificação.
- Laekna det som er toxicus!
Comecei a gritar, como nunca a dor era insuportável, foi como se um caminhão tivesse passado sobre meu corpo, quebrando cada parte de mim sem nenhuma anestesia. O feitiço era profundo demais para minha alma jovem.
A dor fui diminuindo a cada segundo, até que chegou o fim da tormenta.
E simplesmente a dor sumiu.
- Sue, está bem?
- Sim.. mas doeu muito.
- Sinto muito querida, mas agora está tudo bem.
- Precisamos achar o papai.
- Sim, enquanto você estava morta fiz alguns avanços em relação a isso.
- Vamos busca - ló hoje! - Disse.
- É o que faremos.
- Mãe mais o que descobriu no tempo que estava fora?
- Bom enquanto esperava você voltar, mandei algumas bruxas nos clãs vizinhos, procurar por notícias... e conseguiram ..
- O que acharam ?
- Um clã de bruxas ao norte, o sequestrou .
- Como nossas aliadas fizeram isso?
- Ainda não sabemos, o fato é que vamos trazer seu pai de volta.
- Sim, tinha certeza que era os vampiros que tinham o pegado.
- É... Sue mais não foi.
- Então vamos lá mamãe.
- Precisamos aumentar nosso poder, já que você ainda não tem o seu querida.
- E faremos o que?
- Vamos até a velha igreja que foi queimada com nossos ancestrais dentro.
- Mas mãe... no que isso ajuda?
- Quando as bruxas morreram ouve uma grande explosão de poder ali, só precisamos canalizar o poder dos ancestrais.
- Então vamos.
Saímos de casa para irmos até a igreja abandonada, não era muito longe de casa, a igreja apesar de ter se passado muitos anos após ter sido queimada, ainda estava vazia e em escombros.
Foi fácil entrar, apesar de que as madeiras do telhado podiam cair sobre nos a qualquer momento.
Minha mãe pegou alguns cálices que havia trazido, e colocou velas de vários tamanhos em cima delas.
Se sentou no chão e começou a absorver o poder das bruxas mortas, ela fechou os olhos e sussurrou o feitiço que eu não consegui ouvir, e de repente um vento muito forte começou, as velhas janelas se bateram com força, a porta suja se bateu atrás de nós, dei um pulo de susto.
- Aí meu Deus! Mãe ?
- Silêncio querida, preciso ouvi -los.
- Ouvir o que ? Não tem ninguém aqui!
- Não os ouve ?
Não ouvi absolutamente nada, só o barulho do vento.
- Não mãe, o que você ouve ?
- Sussuros, as bruxas mortas querem me dizer algo.
- São muitas?
- Centenas de bruxas querida, agora fique em silêncio.
Quando acabamos nosso pequeno diálogo, ouve uma estranha luz amarela e o vento parou e minha mãe começou a conversar sozinha.
- Oh não... Mais porque? O que elas querem com ele? .... Não isso nunca.... Por favor me ajudem...
- Mãe o que foi ? Acorda..
Acho que ela não me ouviu, fiquei preocupada e então a chaqualei até ela voltar a si.
- Mãe?
- Querida, as bruxas me contaram o porquê o outro clã pegou seu pai ...
- Porque mamãe?
- Querem usar ele como um sacrifício, com a morte dele, o antigo espírito ressucitara, o indu ...
- Espere o espírito que me possuiu?
- Exatamente, ele quer se tornar de carne e osso, e somente precisa de um sacrifício poderoso o suficiente para trazer -lo de volta.
- Vamos agora atrás do papai.
Nosso clã se reuniu, estamos com força total e prontos para a batalha.
O ancião traçou nossas linhas de defesa e nos guiou para que não houvesse mas mortos dessa vez.
- Karen - Pensei tristemente.
Seguimos viagem pela estrada no meio da floresta, não queríamos chamar a atenção.
E como desejado a floresta estava vazia, passei por ali me lembrando dos lobisomens que haviam me salvado.
E enfim, estávamos próximos ao clã.
Era um típico vilarejo, as casas eram pequenas e velhas.
Só havia uma casa grande e luxuosa, com certeza meu pai estava ali.
Derrubamos o portão, e entramos não havia ninguém lá, mas ouvi sons no segundo andar e minha irmã falou:
- Vamos procurá-lo fiquem em silêncio.
Andei como se estivesse pisando em ovos, para que ninguém nos ouvisse.
Mas de repente a sala se encheu de bruxas, que praticam magia negra.
- Estamos cercadas. - Gritei.
- Todas vocês se acalmem tenho um plano - Disse Gael um dos anciãos.
- Qual seria? - Gritei preocupada.
- Todos coloquem as mãos em mim, agora! - Gael nos disse.
E assim fizemos e no mesmo instante ele olhou para as bruxas e sorriu e disse :
- Invisible!
E ficamos invisíveis, nós os víamos procurando.
- Cadê eles? - Uma gritaria se seguiu.
Gael por sua vez nos disse:
- Vamos achar- ló , antes que o véu se caia, não consigo segurar o feitiço por muito tempo.
- Ok, vamos.
E seguimos até a parte de baixo da casa, e meu pai estava lá preso em um círculo, corri até lá, mas bati na parede invisível.
- Droga de feitiço de barreira! - Gritei.
E Marie foi até mim, e se abaixou e furou o próprio dedo.
- Pq fez isso irmã?
- Papai é do meu sangue, e com o feitiço a barreira cairá.
- Vamos não posso segurar muito mais o véu ele está quebrando - gritou Gael.
- Pai vamos salvar você -Disse.
- Filha vão embora, vão matar vocês!
- Pai quando Marie derrubar a barreira, você tente sair quebrando as correntes, certo?
- Posso conseguir.
- Ok.
Entao Marie colocou sua mão com sangue na parede e começou a falar :
- Meranis en nevata, confremum signos.Osmas quisas elazis meranis en nevata confremum signo!
- Pai, saia! consegui, agora saia! Agora!
E papai começou a me mexer, para tentar forcar a corrente a cair.
- Não! O véu caiu! Andem vão nos achar! - Gael gritou.
- Vamos pai!
Marie e eu entramos no círculo e o ajudamos a tirar as correntes, assim que ela caiu saímos correndo para a porta, mas já estávamos cercados.
- Aonde vocês pensam que vão com nosso prisioneiro? - Falou a bruxa que era a líder delas.
- Vamos embora! - Gritei.
Quando falei isso, a pequena bruxa que estava com elas, pegou meu pai, e colocou um faca sagrada no pescoço dele.
- Vou ser caridosa, sai daqui e não precisaram ver Marcus morrer .
- Não! - Mãe gritou
- Vão ! Papai mandou.
- Tenho um plano, Sofia falou.
- Qual é ? - Perguntei.
- Vamos sair todas dessa sala - Disse tão baixo que só nosso clã pode ouvir.
Então caímos, e então Sofia pegou um objeto de sua mochila, era uma bola de cristal, e jogou a bola no chão e disse :
- Esse objeto faz com que ninguém dessa sala se mova, só quem eu quiser que saia.
- Uau! - Disse surpresa.
- Marcus se mova até a porta. - Sofia falou.
E meu pai saiu andando até onde nós estávamos, enquanto as outras não podiam se mexer.
Olhei para elas com muita raiva, meu sangue estava queimando em minhas veias, meu olhar parecia uma fogueira e então gritei.
- Ex Spiritum intaculum,in terrum incedium, Fes matus salvis adismun! Incendia!
E depois que eu disse firmemente o feitiço, começou a pegar fogo na casa, onde estavam as bruxas que sequestraram meu pai.
O cheiro da carne delas, e a gordura do seus corpos queimando era terrível.
- Vamos sair daqui! - Marie disse.
- Vamos! - disseram em coro.
- Eu consegui! Agora sou uma bruxa de verdade! - Gritei feliz.
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Dezesseis luas
VampireUma jovem que se tornou uma bruxa aos quinze anos, a mais poderosa de seu clã, lutou pra manter a paz entre os seres sobrenaturais, e se apaixonou por um improvável parcerio.