Capítulo 05

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Seis anos depois....



Anahí



A primeira vez que minha mãe foi internada numa clínica de reabilitação eu só tinha sete anos. A senhora Manuela e seu marido Arthur, ficaram cuidando de mim por três meses, três meses onde o que eu mais fazia era chorar e perguntar pela minha mãe. Eu tinha muito medo que aqueles homens nunca mais a trouxessem de volta. Eu achava que nunca mais ia vê-la de novo.

Mesmo sendo muito criança eu lembro perfeitamente do dia em que ela voltou pra casa. Eu estava brincando na frente de casa quando ela apareceu. Estava tão linda. Os cabelos lavados e penteados, toda perfumada e com roupas limpas e decentes. Quase não acreditei que era a minha mãe.

- Filha! - ela sorriu pra mim de um jeito que nunca tinha sorrido antes.

Gritei seu nome e corri até ela, minha mãe se abaixou e me abraçou de um jeito que nunca tinha abraçado antes. E ela chorou. Foi a primeira vez que vi ela chorando.

- Me perdoa querida. - ela me olhou nos olhos. - Eu prometo pra você que vai ficar tudo bem, eu vou cuidar de você agora. Me perdoa por não ter sido até hoje a mãe que você merecia e devia ter. Eu juro que agora eu vou cuidar de você, eu até arrumei um trabalho. Vai ficar tudo bem, meu anjo.

Eu chorei de alegria e abracei a minha mãe bem forte. Minha mãe tinha voltado e agora ia poder ser a mamãe que eu sempre tinha sonhado. Eu acreditei na promessa dela, que ia ficar tudo bem.

Mas a promessa durou pouco... Duas semanas depois de ter voltado da clínica, minha mãe teve o que os médicos chamam de recaída.

Aconteceu num dia de manhã, a caminho do trabalho. Ela cometeu o erro de parar em um bar e outro erro ao pedir um copo de bebida. Desse copo veio outros e ela torrou o pouco dinheiro que tinha naquele lugar. Ela ficou o dia todo bebendo e quando anoiteceu e voltou pra casa, mal parava em pé.

No dia seguinte quando foi pro trabalho de ressaca, eles a demitiram pela falta do dia anterior e porque ela tinha chegado também naquele dia, bêbada e atrasada.

Aquela foi a primeira de várias recaídas. Nos últimos anos minha mãe foi internada várias vezes e todas as vezes quando voltava da clínica ela me dizia: "dessa vez vai ser diferente, eu juro."

Acho que parei de acreditar nela na terceira vez que me disse isso. Quando eu tinha sete anos eu era, como minha mãe falou uma vez, ingênua e acreditava em tudo que me diziam. Agora eu tenho treze anos e não sou mais uma garotinha boba. Entendo que minha mãe é uma alcóolatra e que ficar alguns meses numa clínica e depois simplesmente ir embora de lá não vai curar o seu vício.


Vou andando pra minha casa com meus pés doendo após passar o dia todo de pé. Não vendo mais balas. Quando fiz onze anos consegui um emprego de garçonete, num restaurante perto daqui. O dono do lugar conhece eu e minha mãe, sabe da nossa situação e por isso aceitou me dar o emprego de meio período. Como sou menor de idade e frequento a escola não posso ficar o dia todo como os outros. O dinheiro não dá pra quase nada, mas pelo menos abandonei as ruas, tenho um horário fixo, recebo gorjetas e pelas horas extras e tenho os domingos e as segundas de folga.

Fecho a porta de casa e ouço as risadas da minha mãe. Suspiro e antes que eu possa fugir pro meu quarto ela surge na sala, segurando uma garrafa na mão e completamente bêbada. Não é isso que me incomoda, mas sim o homem que a agarra por trás. Ele deve ter a idade dela 35 ou talvez um pouco mais, 40 anos.

Never Give Up On Us - PausadaOnde histórias criam vida. Descubra agora