Capítulo 28

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Anahí



Ignoro a dor que estou sentindo no meu coração, engulo os soluços e me forço a parar de chorar. Preciso manter o foco, preciso tirar Alfonso da rua.

Vasculho suas roupas e quando sinto o molho de chaves, puxo pra fora do bolso da calça. Meus olhos se arregalam de choque ao ver que as chaves estão presas por dois chaveiros, um no formato de coelho e outro no formato de caramujo. Na mesma hora me lembro daquela noite, quando éramos apenas duas crianças.


[...] - É só colocar sua mão na frente da lanterna, vou te ensinar a fazer um coelho. - Poncho colocou a lanterna na barriga pra ficar com as duas mãos livres. - Faz igual a mim.

Obedeci e quando o imitei, ele iluminou minha mão. Ri de novo quando um coelho apareceu no teto.

- Isso é muito legal.

Pra me acompanhar Poncho usou as mãos e fez um caramujo. Eu ri e comecei a me imitá-lo. Poncho ficou desenhando animais no teto e começou a inventar histórias.

- Era uma vez um caramujo muito solitário.

- Ai um dia o caramujo encontrou uma coelhinha. - sorri e fiz a coelhinha que ele ensinou.

- O caramujo estava perdido e não sabia voltar pra casa. - Poncho sorriu e me olhou.

- Mas como a coelhinha conhecia tudin por ali, ela ajudou o caramujo a encontrar a casa dele.

- Depois daquele dia o caramujo e a coelhinha ficaram muito amigos e todos os dias saiam pra brincar.

- E a coelhinha ficou amiga do caramujo e dos irmãozinhos dele pra sempre.

- Pra sempre. - Poncho sorriu concordando comigo. [...]


Volto pro presente e aperto os chaveiros entre os dedos.

- Por que você tem isso? - encaro Alfonso.

Sei que ele não tem condições nenhuma de me responder, então ignoro as dúvidas que rondam minha cabeça e o puxo pela camisa. Alfonso resmunga quando fica de pé e me encara, mas não há nenhum sinal de reconhecimento.

- Você vai me levar também? - ele pisca confuso.

- Vou te levar pro seu apartamento. - respondo, ignorando a dor que está rasgando meu coração.

- Eles foram maus com você não é? - ele tropeça quando o forço a começar a andar.

- Por favor, me diz que no seu apartamento tem elevador. - suspiro.

Alfonso resmunga alguma coisa, mas não consigo entender. Está com o corpo mole, relaxado demais, o que torna difícil ele andar normalmente. Sou obrigada a arrastá-lo e apesar dele estar mais magro, ainda pesa mais e é bem maior que eu.

Quase uma vida depois, entramos no elevador e Alfonso desaba no chão. Ofego olhando pra ele que está largado no chão de cabeça baixa.

- Por favor não durma.

Me abaixo na altura dele e tomo um susto quando Alfonso me encara. Seus olhos se estreitam e meu coração dispara ao ver que ele parece me reconhecer.

Never Give Up On Us - PausadaOnde histórias criam vida. Descubra agora