Capítulo 6

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Caio se espreguiça na cama de solteiro do seu quarto de infância. Por uns instantes imaginou-se no amplo quarto onde viveu por algum tempo.

Lembrou-se a tempo que aquela vida não mais lhe dizia respeito. Estava de volta ao seio familiar. Desempregado. Desiludido.

Ao menos podia contar com o apoio das irmãs. Sente o amor que emana delas e por enquanto isso é suficiente.

Como uma premunição sente um arrepio na nuca ao prever a confusão que vinha pela frente.

Se ele estiver certo, e tem quase certeza que sim, um triângulo amoroso poderá cair como um meteoro e atingir algumas cabeças.

Não dá para ficar limitado a seus próprios problemas. Natália e Carina precisam dele.

Sente uma leve satisfação por estar de volta, pois em casa sempre existem problemas além dos próprios.

Ouve passos se aproximando da cama. Volta-se e se depara com Caroline o observando com os costumeiros olhinhos sérios.

—O quê foi queridinha está com fome?

A menina sussurra:

—Não.

Diante do olhar de desamparo da sobrinha ele abre espaço ao seu lado para que ela se acomode.

—E aí pequena qual o problema?

—Estou com saudade do papai. Quero voltar pra casa.

Com o coração apertado Caio é obrigado a dizer a verdade:

—Meu bem, sua casa agora é aqui. E eu vou te levar para ver seu pai, o que você acha?

Com sua calma característica a menina assente com a cabeça. O choro impede que fale qualquer coisa.

—Mas não quero ver essa carinha triste, nem quero que chore mais. Onde está o David? Já sei, o danadinho fugiu para o quarto do vovô de novo!

—O vovô não dormiu em casa essa noite.

Caio se espanta:

—Não! Ah! Espertinho o vovô, hen? Então vamos aproveitar nosso dia, vamos fazer um almoço especial e... Vamos, anime-se menina! Tio Caio está em casa!

Caroline esboça um sorriso, a animação de Caio é contagiante.

***

Théo chega ao supermercado ainda aéreo. Victor Hugo, o irmão caçula, parece bravo, mas ele sabe que não é sério.

—Bom dia! Desculpe o atraso irmão, foi mal.

Os dois se cumprimentam apertando as mãos e tocando os ombros como de costume.

Victor percebe a alegria contida de Théo.

—Tudo bem, mas da próxima vez avise antes OK? É desagradável ser acordado em pleno domingo de folga pela mal humorada da sua irmã.

—Nossa irmã! E por falar na diaba...

Cristhina os observa do caixa e faz um gesto chamando Théo.

Resignado ele vai ao encontro dela.

—Théo, você dormiu na casa da Carina. —É uma afirmação, não uma pergunta.

—Isso não é da sua conta mana!

Ela continua:

—Espero que já tenha resolvido aquele outro assunto...

Ele assente com a cabeça confirmando:

—Sim, tudo resolvido.

—Que bom! Por isso que você está nessa felicidade, até que enfim conseguiu!

Com o rosto próximo da irmã ele sussurra:

—Cuida da sua vida!

Cristhina não desiste:

—Por falar nisso, você me deixou em maus lençóis com a mamãe, não vou esquecer isso!

Théo dá uma gargalhada.

Não percebe Vera Lúcia, a matriarca da família de olho neles. A vida amorosa dos filhos vem preocupando essa mãe que gosta de ter o controle sobre tudo.

Todos têm trabalhado muito para elevar o status do comércio que começaram há quase vinte anos como uma pequena mercearia em supermercado, coisa que conseguirão em breve, visto que o terreno para o empreendimento já está comprado e as obras em andamento.

O que preocupa Vera nesse momento é a vida amorosa dos filhos.

Pedro é um marido pacato e um pai do tipo "amigão" e acha que a mulher deve deixá-los viverem suas vidas em paz, mas ela não suporta vê-los desperdiçando a melhor fase da vida em relacionamentos sem futuro.

Cristhina está envolvida com um homem casado, embora não admita isso de forma alguma.

Théo é um Dom Juan, e isso a preocupa, pois ele precisa se encontrar e resolver seus problemas sentimentais para se concentrar nos negócios.

Victor Hugo sempre foi o queridinho de todos, mas vem surpreendendo com sua inteligência e sagacidade, com certeza fará uma ótima dupla com Théo, desde que não se deixe levar por nenhuma sirigaita.

Vera já reparou nas olhadas que o caçula lança em direção à moça novata do caixa, e não tem gostado nada disso.

O pai da menina não tem boa fama e só concordaram em lhe dar o emprego mediante um pedido especial de sua comadre, que é tia da moça.

E pelo jeito ela já começou mal, pois estava escalada para trabalhar nesse dia e não apareceu.

Cristhina com sua grande rede de informações, logo desvenda o mistério.

Ludmila está no hospital, foi agredida pelo pai bêbado.

Victor Hugo se assusta e quer saber mais detalhes:

—Como assim Cristhina? Como ela está? Precisamos fazer alguma coisa!

—Calma aí Victor! Vou ver se descubro mais alguma coisa.

Ele não se contenta com essa resposta e decide descobrir por conta própria:

—Eu vou até lá! Você me cobre aqui Théo?

—Claro que sim! Vai lá!

Vera descobre que não tem mais jeito, seu caçulo também já está às voltas com problemas sentimentais.

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