Cap. 38

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POV DELILAH

Enquanto Harry faz o check-in, penso ver uma pessoa conhecida, mas antes que eu confirme, ouço sua voz a me chamar.

"Já terminei. Vamos, temos muito o que fazer."

"Tudo bem."

Deixo minhas malas no chão do quarto e deixo meu corpo cair sobre o monte macio de travesseiros. Por uns minutos me esqueço que não estava sozinha no quarto e me deixo simplesmente descansar e esquecer dos problemas que me cercam. O colchão é duas vezes mais macio que o de minha cama e tudo no quarto parece mais sofisticado também. Nunca em toda minha vida poderia pagar por algo assim.

"Fico feliz que gostou." Me levanto assim que ouço a voz de Harry da porta do quarto. Por um segundo havia me esquecido de sua presença e me sinto envergonhada por estar dessa forma na sua frente. "Não se preocupe comigo, foi uma viagem longa, você deve estar cansada."

"Um pouco." Rio, sem graça. Me levanto e Harry toma o lugar ao meu lado. "Não acredito que escondeu isso de mim por tanto tempo. Eu estava bem ao seu lado Harry."

"As coisas fugiram do meu controle Delilah. Eu não pensei que seria assim."

"Era o dinheiro de várias pessoas ali. Dinheiro que poderia ir pra muitos empregados cheios de contas pra pagar e-" Sinto uma dor no meu peito. O stress se desperta em minha cabeça e esta começa a doer com o acúmulo de informações que tenho enfrentado ultimamente.  Harry me entrega uma garrafa com um pouco de água, e eu bebo com pressa, sem me preocupar com o efeito de tanto liquido no meu estômago quase vazio.

"Eu não quis te envolver nisso tudo Delilah. Por isso desisti de te levar da outra vez e simplesmente fui sozinho. Mas nós fomos vistos e as coisas acabaram dessa forma. Eu não quis mentir pra você nem pra nenhuma daquelas pessoas mas não podia deixar tudo explodir assim. Tem o nome de muita gente em jogo." A garrafa volta a ser retirada de minhas mãos assim que bebo todo o líquido dentro desta, suspiro e deixo que Harry se explique. "Eu confio em você e odeio ter que mentir. Mas a situação não estava boa."

"Nós vamos resolver. Apenas... eu preciso que me conte mais sobre isso. Assim posso te ajudar a se inocentar."

"Tudo bem. O que vamos fazer pode parecer complicado mas preciso que preste muita atenção." Respiro fundo e me concentro em suas íris verdes, que costumavam ser lar para as minhas castanhas. "Tudo começou quando eu ainda era uma criança. Meus pais estavam em crise e discutiam muito. Meu pai, traía minha mãe com outra mulher e estava sempre viajando à negócios. Consequentemente, minha mãe pediu o divorcio mas ele não tinha o dinheiro para nossa pensão. Foi então,que se envolveu nesses esquemas com o seu antigo parceiro de trabalho. Eu me lembro de ver meu pai com esse homem com frequência. Ele tinha contato com todos nós e sempre nos encontrávamos em casa. Eu não gostava dele. Não parecia boa pessoa."

"Como ele se chamava?"

"Roland."

"Esse nome me lembra algo. Acho que ouvi Paige e Louis falando sobre ele uma vez. Mas não faço ideia de quem seja."

"Então isso quer dizer que ele ainda está por perto. Isso é bom. Ele trabalhou na empresa. Meu pai e Roland eram sócios. Ajudou a planejar tudo desde o início. Juntos, eles controlavam as notas fiscais de toda a empresa. Falsificavam cada uma e mantinham consigo as originais. Assim quando fossem questionados sobre as diferenças, mostravam as notas falsas e justificavam com problemas financeiros."

"Então tudo o que devemos fazer é encontrar as verdadeiras certo? Assim, as datas são verificadas, e será comprovado que os roubos aconteceram antes de você assumir a empresa, e portanto, não poderia ter envolvimento em nenhum dos delitos. Você seria inocentado e por consequência, os boatos esfriariam." - digo.

"Mas aí está o problema. As notas ficavam com Roland. O homem de quem falei. E a essa altura, após todo esse tempo duvido que encontraríamos ele. Muito menos entrar em sua casa e pegar todos esses documentos."

"Mas e quanto a Louis? Ele pode nos ajudar, certeza que o faria." Logo, as mãos de Harry sobem para os seus cabelos, e soltando um longo suspiro, seu corpo cai sobre o colchão, em um sinal de grande frustração. "Ele é nossa melhor opção Harry."

"Eu não sei, Delilah. Parece arriscado."

"Pense bem. É uma grande oportunidade, não pode deixar escapar assim." Me aproximo um pouco mais de seu corpo esticado e o observo relutante a tocar mais uma vez, em seus cachos que há muito tempo não são cortados.

"Tudo bem. Mas hoje, vamos apenas descansar. É domingo à noite e também precisamos de um tempo pra esfriar a cabeça."

"Por mim, tudo bem." Deixo meu corpo cansado cair ao seu lado, e observo o teto por um tempo, deixando que o silêncio dentro do quarto me abrace. E por o que parecia ser meia hora, tudo o que posso ouvir é o som de nossas respirações.

"Sinto muito." Sua voz pesada quebra o silêncio que nos cercava, e seus olhos, que antes se encontravam fechados, estavam direcionados para a mesma direção que os meus.

"Pelo quê?" - pergunto.

"Por tudo."

Não respondo. Não consigo. Após tanto tempo tentando seguir em frente, ver o assunto que me levou a ir embora voltar não era exatamente o que esperava para essa viagem.

"Não espero que me perdoe tão fácil. Mas eu realmente sinto muito por não ter aberto o coração pra você naquela altura. Por ter sido fraco, não ter te aceitado e-"

"Você ainda não o fez."

"O quê?" Sinto seu olhar a queimar em meu rosto. E o observo de relance mais uma vez, para confirmar minhas dúvidas. Eu era observada, com atenção. Como o quadro que lhe pintei em segredo. E fui descoberta. Como um criminoso amador.

"Você ainda não me aceitou. Seu coração... ainda é dela."

"Não... Delilah, entenda-"

"Não minta. Não agora." Me levanto novamente ,e apoiada em meus cotovelos, faço um esforço até sentir minhas costas doloridas a encostar na cabeceira da grande cama por baixo de nossos corpos. "Eu implorava, Harry. Para, naquela altura, você o fazer. Se você não pudesse me aceitar naquela altura, eu implorava que mentisse. Mas não agora. Agora, eu não quero que minta. Se você o fizer à esta altura, eu talvez vou me quebrar de novo e não conseguirei juntar os caquinhos novamente."

"Eu... eu sinto muito."

"Eu sei que sente." Paro para lhe observar novamente e sinto meu coração a bater forte contra o peito. Um misto de amor e uma raiva incontrolável tornam meus sentimentos ainda mais confusos e lágrimas quentes correm pelo meu rosto. Seus traços, sempre foram de encher os olhos. Cada cacho e cada cor, aparece em meus sonhos todos os dias desde nossa despedida. E isso me mata.

Sua mão esquerda se levanta, e sinto sua palma quente a encostar em minha bochecha. Deixo que seu dedo indicador capture algumas lágrimas, e por alguns breves segundos vejo seus olhos brilharem também.

"Isso é tão injusto." - digo. "Por que você não pôde aceitar Harry? Aceitar que... ela não está mais aqui." As lágrimas que estavam escondidas em seus olhos, caem e me controlo, para não fraquejar em frente a ele depois de tudo.

"Ela era tudo pra mim, Delilah. Tudo. E quando se foi levou tudo junto com ela."

"Mas ela morreu, Harry.  Ela morreu e não vai mais voltar assim como todas as minhas memórias. Elas também se foram e eu aceitei. Por que é que você não pode aceitar também?".

Nós já estamos nisso há meses e eu estou começando a me sentir frustrada. Por que é tão difícil ele aceitar que eu vou sempre estar aqui pra ele? Por que é que ele não vê? Eu realmente estou cansada de ter que viver nas sombras de sua falecida namorada.

"Eu não sei, eu simplesmente não sei. A questão é que em um minuto ela estava aqui e no outro já não a via mais, tenta entender Delilah. Eu a amava."

"Mas agora sou eu que te amo" - grito já com os nervos a flor da pele e, quando finalmente voltei à realidade, já tinha os lábios de Harry contra os meus.

...




Deixe-a Ir || H.S. (LIVRO EM PRÉ-VENDA) Vejam o último anúncioOnde histórias criam vida. Descubra agora