125 dias.

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16 de dezembro

Donna tinha me convencido a realizar transfusão de sangue durante três dias da semana. Vamos dizer que, no começo, eu estava muito arredio com a ideia, mas quando ela me disse que esse procedimento poderia ser realizado no Hospital em que ela trabalhava, e que se - palavras dela- eu me comportasse, ela me faria companhia, eu aceitei. Mas só porque eu queria passar mais tempo com ela. O tempo que ainda nos restava.

Lily não sabia como agradecer a minha ruiva por este feito. Assim que voltaram de viagem, a mulher sentia-se renovada e mais determinada ainda a me convencer a começar um tratamento, mesmo que, nesta altura do campeonato, não fizesse mais efeito.

Então, podemos perceber que as duas mulheres da minha vida, se juntaram e decidiram me irritar até eu me dar por vencido. E como disse Donna, eu nunca conseguia dizer não pra ela. I hate when she is right.

Era uma Quinta-Feira quando iniciei as minhas idas ao hospital. Preciso confessar que um pouco de sangue novo não iria fazer tão mal. Minha leucemia já estava avançada, mas qualquer tipo de auxílio, seria bem vindo.

- Não precisa ficar nervoso, Harvey. - Donna repetia esse mantra desde que entramos no hospital. Eu agora já estava deitado na poltrona, esperando pela enfermeira para iniciar o procedimento.

- Eu não estou nervoso, Donna. - Respondi. E não conseguia parar quieto. Comecei a procurar com os olhos pela enfermeira. - Se ela demorar mais um pouco, eu vou embora. Que absurdo me fazer esperar! - Eu disse entre os dentes.

- E ainda quer me enganar dizendo que não está nervoso, aham. Tá bom, Specter! - Donna revirou os olhos, irônica.

Ok. Talvez eu esteja um pouco nervoso, mas não por medo, e sim, porque o último lugar que eu queria estar era em um hospital. A recusa ao tratamento é simplesmente pelo fato de eu não querer passar o resto do tempo que me falta em um hospital, lutando contra uma doença que sabemos que não tem cura. Isso pra mim seria o fim. Bem antes do fim verdadeiro.

A enfermeira chegou. Explicou como seria realizada a transfusão e depois começou a colocar a agulha em mim.

- Isso não vai doer. - A mulher disse com uma voz suave. Querida, eu não sou uma criança, pensei. Donna colocou uma mão sobre a minha, e sorriu. Ela sabia que eu estava prestes a falar o que pensei, e tentou evitar.

Assim que eu vi aquele sorriso em minha direção, esqueci complemente do resto. Nada mais importava quando eu a tinha assim. Ao meu lado.

Senti o belisco da agulha entrando em minha pele. Não doeu, apenas um incômodo chato. Encostei a cabeça no apoio da poltrona, e esperei meu corpo se acostumar com aquela sensação. Aposto que as minhas células deveriam estar em festa: "uhul sangue novo no pedaço". E esse pensamento me fez rir. Donna arqueou uma sobrancelha e esperou a enfermeira sair do nosso lado.

- O que é tão engraçado? - Ela perguntou, me encarando.

- Minhas células estão fazendo uma festa. Sangue novo na área! - Eu respondi. Ela já estava mais habituada com o meu humor. Donna balançou a cabeça negativamente, não conseguiu conter o riso. Gargalhamos juntos.

- Você não tem jeito! Como se sente? - Ela perguntou, tentando parar de rir e ficar com um tom sério. Às vezes, ela fazia isso. Parava de ser minha namorada, para ser minha enfermeira.

The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora