121 dias part.2

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Assim que entramos no carro, Ray deu partida e nos tirou dali. Donna ainda estava abraçada comigo, escondendo o rosto em meu casaco.

Diante de tudo que aconteceu a alguns minutos atrás, ainda não tive tempo ou coragem de iniciar o assunto. Grávida. Mil perguntas se passavam pela minha cabeça. Algumas do tipo: Grávida de quanto tempo? Por que ela não me contou antes? E a última, porém não menos importante, será que eu conseguiria conhecer esta criança?

Donna se acalmou, e se afastou do meu corpo, me encarando.

- Eu sei que você escutou o que eu disse. E já peço perdão por não haver contado antes. Eu não queria que você soubesse assim, dessa maneira. Mas eu precisava...ter certeza. - Ela falava rápido e insegura. Eu ainda estava fitando os detalhes da divisão dos assentos do carro.

- Harvey... - Ela me chamou, com uma voz suave. - Just say something...

- Certeza? Certeza do que? - Perguntei, mas ainda não a encarava.

- Se eu realmente estava grávida. - Ao mencionar o estado de novo, direcionei meu olhar a ela.

- And now you know for sure. - Apenas sussurrei, encarando-a.

- Yes. I do. - Ela suspirou. Limpando as lágrimas.

O resto da viagem foi feita em silêncio. Eu ainda não conseguia processar as informações. Estava em debate comigo mesmo. Eu pude sentir que Donna estava preocupada, insegura e receosa com a minha reação.

Já era de noite quando estacionamos o carro, e foi só neste momento que eu reparei que não havíamos parado em frente ao meu edifício. Ao contrário, paramos em um antigo apartamento, no Brooklyn, com tijolos vermelhos e uma porta bege.

Quando fiz menção de perguntar ao Ray aonde estávamos, Donna colocou sua mão sobre a minha.

- Eu queria te contar aqui. Já tinha combinado com Ray de nos trazer para cá assim que retornássemos. - Ela apontou para o apartamento.

- Onde é aqui? - Indaguei, encarando a rua.

- Meu apartamento. - Ela respondeu, e eu a encarei, com um sorriso se formando em meus lábios.

•••

Realmente era o apartamento dela. Número 206. Objetos nos tons pastéis, misturado com outras tonalidades mais extremas, mas bem balanceada.

Tudo era Donna. Tudo parecia e exalava Donna. E de alguma maneira, aquele apartamento passava aparência de um lar. Exatamente o que eu senti na casa de Melissa.

- Fique a vontade! - Ela trancou a porta atrás de mim. Andei até o sofá branco na sala, e voltei a encará-la.

- É um lindo apartamento, Donna. - Me atrevi a dizer. A verdade é que eu não sei como lidar com tudo isso. Eu só queria que ela não tivesse medo de mim? Mas como demonstrar isso, se eu mesmo estava sendo indiferente e distante?

- Obrigada. - Ela respondeu, num sussurro.

- Donna, please, come here. - Eu abri os braços, e ela ao mesmo tempo que sorriu também deixou algumas lágrimas caírem. Nos abraçamos. Comecei a fazer carinho nos seus cabelos ruivos que contrastava com o vestido branco que ela estava usando.

- Chega de chorar! Está tudo bem! - Eu sussurrava pra ela.

- Não está não! - Ela se afastou, e eu comecei a enxugar as lágrimas. - Não queria que você descobrisse daquela maneira. Você deve estar pensando que eu escondi de você, e no entanto, eu só queria fazer uma surpresa. No caso, se isso for uma boa surpresa. Mas agora, você está com raiva de mim, e eu não tiro a sua razão! - Ela começou a andar de um lado para o outro.

The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora