67 dias.

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11 de Fevereiro .

Donna completou dois meses de gestação. Eu estou muito ansioso para saber o sexo, mas pelo que ela disse, só daqui mais dois meses, isso se dermos sorte.

Continuo fazendo a quimio, e as transfusões. Se você me perguntar se estão me ajudando, eu responderia que sim. Mas, se você perguntar ao meu médico se está me ajudando, ele vai falar tanto, para no final de tudo te dizer que "Vamos saber nos próximos exames". E quando chega os próximos exames, é mais uma rodada de asneira médica que só a Donna tem paciência para lidar.

Eu, agora, não me importo mais com isso. Acato o que ela me pede, faço os tratamentos que posso e que aguento. Eu sei que minha saúde é uma prioridade, mas agora, eu também tenho outras duas prioridades na minha vida. E essas são as mais importantes.

Eu posso dizer que: as dores diminuíram, mas em compensação, a química da quimio te arrasa de uma forma, que é preciso mais remédio para ter que lidar com o procedimento. Então, é uma faca de dois gumes. Eu só espero que esteja valendo a pena. E quando eu digo valendo a pena, leia-se, "espero que dê tempo."

Saí do meu quarto, depois de dormir um pouco, era uma tarde de Fevereiro. A cidade ainda estava coberta pela neve, o frio ainda deixava nossos cabelos duros e as bochechas rosadas. Donna ficava ainda mais linda nessa época do ano. Parecia que o cabelo se destacava entre a paisagem branca, e a bochecha corada, a deixava mais menina.

Caminhei até a sala da cobertura. Não escutei nenhum som vindo de nenhum local, a não ser, pelo estalar do fogo na lareira. Donna estava sentada no chão, com um cobertor, de frente para a lareira. Pensei que estivesse dormindo, mas vi que seus olhos estavam sobre o anel que eu havia presenteado a ela.

- Eu sei que você está aí, Harvey. - Ela disse com uma voz serena, sem olhar pra trás.

- Estava só testando o seu terceiro olho. - Falei brincando, e senti que ela deu uma risada baixinha. Me aproximei dela, e sentei no chão ao seu lado, apoiando as costas no sofá.

- O que você faz aqui sozinha? - Perguntei dando um beijo na bochecha dela.

- Não estou sozinha. - Ela respondeu sorrindo, e me encarou.

- Ah é verdade, como eu pude não cumprimentar nossa sementinha? - Revirei os olhos, brincando, e me abaixando até altura da sua barriga.

- Olá sementinha, é o papá! - Donna riu da voz que eu usava. - Vê se cresce logo! Papá está ansioso para te conhecer. - Donna passou uma mão pelo meu cabelo, fazendo carinho. - Enquanto isso, vê se não deixa a mamãe tão enjoada, viu? Te amo. - Quando acabei de falar, levantei um pouco a blusa que Donna vestia, e dei um beijo demorado na barriga dela.

- Voce sabe que ele não pode te ouvir ainda, né? Que é do tamanho de um arroz? - Donna falava com um sorriso bobo no rosto. Sim, eu sabia, mas não custava nada tentar.

- Donna, don't kill my vibe! - Respondo fingindo raiva. Nós dois rimos juntos. Eu a puxei, passando um braço pelo ombro dela. Donna se apoiou em mim, descansando sua cabeça entre meu ombro e meu peito.

- Você não me respondeu. - Cortei o silêncio que pairava.

- Eu estava pensando. Não é nada demais. - Me respondeu e se aconchegou mais ao meu corpo.

- Estava pensando, e encarando o anel. Não gostou?

- Harvey! - Ela se afastou do meu corpo, e me encarou. - É óbvio que eu gostei! Aliás, eu amei! Não era isso que eu estava pensando! - Ela passou uma mão pela minha bochecha e me puxou para um selinho.

The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora