o começo do fim.

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Engraçado estar de volta nesta mesma sala. Venho frequentando este lugar por quase um ano. Semana passada tomei a decisão de não continuar o tratamento, porque sinceramente, convenhamos, se não consegui até agora mudar nem um pouco o meu quadro clínico, imagina ficar me submetendo a isso durante mais tempo? Sem cabimento.

Eu sou advogado. Bom, fui considerado um dos melhores advogados de Nova York. O mais novo a chegar a ter o nome na parede. Mas o que adianta isso tudo quando você não pode brigar contra a sua própria natureza?

Acho que pior do que a doença, esta sendo conviver todo esse tempo com os meus pais. Quem diria, né? A traidora a boa casa retorna para cuidar do filho doente. Seria isso amor ou remorço? Eu ainda não sei. Meu pai? Meu pai é um ser muito evoluído, otherwise, eu não saberia lidar com essa mulher por perto, mas ele sabe. Desconfio que apesar de tudo, ele ainda a ama. Eu nunca vou entender isso.

Voltemos para a minha pessoa. Meu nome é Harvey Specter, tenho 37 anos, sou advogado - fui- e agora sou um paciente num dos hospitais mais caros da cidade. Se eu tivesse oportunidade de refazer meu currículo, acho que esses seriam os tópicos. Eu sou irônico mesmo, se não fosse, como poderia reagir a isso tudo? A maior ironia da vida. A morte.

Continuo aqui nesta sala esperando os malditos resultados dos exames. Fiquei em tratamento por quase um ano. Tudo o que vocês possam imaginar e o que dinheiro pode pagar, eu fiz. Agora irei colher os resultados. Meus pais vieram comigo, eles ainda não sabem da
minha escolha de parar com tudo. Porém, eu tenho certeza que para eles deixar o tratamento vai ser praticamente assinar meu inventário e encomendar o caixão.

Entretanto, eles não fazem ideia da tortura que é ficar uma hora, durante quatro dias por semana, sentado naquela cadeira, tomando em via venosa aqueles remédios. Eu não tenho paciência pra isso. Posso até ser fraco por desistir. Ou posso admitir que cheguei ao meu limite. Eu te dei um ano, doença filha da puta, agora você me deve os meus meses de vida. Eu penso nisso tudo como um ato misericordioso a mim mesmo, entende? Eu não aguento mais aquela sensação de incapacidade, mesmo com o tratamento, então pra que continuar? Prefiro ficar no conforto da minha casa e esperar pela minha morte degustando um bom whisky.

Não me leve a mal, admiro quem consegue e persiste, mas eu não sou nenhum exemplo e nunca fui. Então, não devo isso a ninguém. Ouço a porta da consultório se abrir, o meu médico Dr. Gregory Maddison, entra com a mesma expressão carrancuda de quem não está nada feliz.

- Harvey. Como estamos hoje? - Ele tem a coragem de me perguntar. Eu me contenho para não dizer um palavrão, até porque o homem está tentando salvar a minha vida. Mas a vontade, ela aparece.

- Tudo as mil maravilhas, Doutor. Você não faz ideia! - Bom, eu disse que não responderia com um palavrão, contudo nada me impede de ser irônico.

- Bom Harvey, deixando a ironia de lado - Eu sorrio e ele continua falando o bom e o velho sermão. - Eu acho que você deveria reconsiderar a decisão de parar o tratamento. Eu aconselho que você continue não só com os tratamentos, mas também podemos acrescentar um novo medicamento... - Eu o interrompi.

- Gregory, sinceramente, eu não ligo mais. Eu estou cansado, e tenho apenas 37 anos. Então, cut the crap, e me diga logo se funcionou ou não o tratamento que realizei durante esse um ano. Como meu corpo reagiu? E só aí, eu lhe direi se mudarei ou não de ideia. - Expliquei pacientemente pra ele. Ele apenas piscou algumas vezes tentando se concentrar em minhas palavras.

- Como você preferir... - Gregory abriu o envelope que tinha em suas mãos. Ali continha umas chapas da minha medula óssea, e até eu que sou leigo, sei que aquilo não parecia nada bom.

The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora