39 dias.

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11 de Março.

Hoje é mais um dia que venho ao Hospital para dar continuação ao tratamento. Desde que eu comecei com a quimio, durante três vezes por semana, acabei conhecendo novas pessoas que estavam passando pela mesma situação que eu, outras que estavam no início e algumas que não frequentavam mais a nossa sala de tratamento. O motivo de não aparecerem são apenas rumores, alguns negativos, outros positivos. No meu caso, eu tento focar nos positivos.

Algumas dessas pessoas que estão comigo aqui, se tornaram nossos amigos, meus e da Donna. E por consequência, quando se é noivo da melhor enfermeira oncológica desse Hospital, todos os funcionários também viram seus amigos. Alguns, porque queriam consultoria em processos - sim, eles descobriram que eu sou advogado -, outros porque queriam entender como um homem como eu conseguiu ficar noivo de uma mulher como a Donna.

Cheguei no Hospital mais animado do que nunca. Donna me acompanhou, me deu um beijo de despedida - de tirar o fôlego - e depois sumiu entre os corredores para começar o seu dia. Eu fiquei na sala de tratamento com os meus mais novos amigos. Era um dia diferente. Era um dia de alegria, não importando o quão perto o Dia D estava.

- Bom dia, pessoal! - Falei em um tom mais alto para que todos que estivessem na sala escutassem. Não só os pacientes, mas os funcionários também. - Nesse sábado, vocês todos, sem exceção - Neste momento apontei para Louis. Louis é um enfermeiro da ala de tratamento e amigo de Donna, ele que auxilia nos procedimentos e fica checando os pacientes. Louis não gosta de mim - e ele tem motivos, confesso - porque eu sempre começo uma bagunça na sala, e ele que tem que controlar. Enfim, até o Louis está convidado. - Sim, Louis, até você está convidado! - Digo animado, e todos da sala riram. - Para o meu casamento com a linda ruiva que acabou de sair! - Foi nessa hora que começaram as palmas, os assovios e os abraços. Algumas pessoas se aproximaram me cumprimentando e outras continuaram a me parabenizar de suas cadeiras mesmo.

- ORDEM NO RECINTO! - Gritou Louis. - Explica isso, Harvey! - Louis se aproximou com a sua prancheta nas mãos.

- Louis, calma! - Eu digo rindo. - Você sabia que eu Donna íamos nos casar, não é possível que você não viu o anel, lindo por sinal porque eu tenho bom gosto, no dedo dela! - Digo enquanto ele continua se aproximando de mim, abrindo espaço entre os pacientes que retornavam para as suas poltronas.

- Não é isso, jackass! - Louis respondeu enfezado. - Você está me convidando? Mesmo a gente brigando direto? - Ele perguntou surpreso.

- AH...Então, eu sou uma pessoa muito boa e estou tentando garantir meu lugar no céu! Sabe como é, né? - Com essa resposta consegui tirar algumas risadas das pessoas que ali estavam, mas Louis continuou me encarando. E do nada, me abraçou.

- Tem dias que eu te odeio por fazer do meu departamento uma bagunça, mas, têm dias que até gosto de você! - Ele falou, e por um momento não sabia o que fazer. Só sou afetuoso assim com minha mãe, meu pai e Donna. Louis continuou com os braços ao redor do meu corpo.

- Ok, man! Convite aceito, então? Posso ir para a minha poltrona começar o dia? - Falei, e Louis se afastou, meio sem graça, mas com um sorriso no rosto.

- Para o seu posto, marinheiro! - Louis fez uma piada, mas eu não consegui achar graça. Ele apenas assentiu com a cabeça e saiu da sala.

- Give the man some credits, Harvey. - A voz da enfermeira baixinha que sempre me acorbetava veio atrás de mim. Gretchen, o nome dela. - Acho que ele nunca foi convidado para um casamento. Ou, acho que ele nunca teve amigos. - Ela explicava com a prancheta por cima do peito.

- Vou tentar, Gretch. - Me aproximei dela, passando meu braço por cima do seu ombro, enquanto andavámos até minha poltrona. - AH! A senhora também está convidada para o casamento! - Digo ao mesmo deitando no móvel.

The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora