Capítulo onze.

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   Meu pai pediu pra mim procurar um lugar pra sentar e esperar que ele ia resolver. Ainda bem que era claro onde estávamos. Ele começou a ligar pra algumas pessoas pra ir nos ajudar, depois de um tempo, conseguiram trocar o pneu da moto e fomos embora.

     Depois desse dia, eu decidi que nunca mais perturbaria meu pai. Só sairia com ele se ele me chamasse. Não queria vê-lo daquele jeito de novo. Tudo bem, tudo passou, meu pai voltou a ser o doce de sempre.

     Todo dia era a mesma rotina. Acordar, ir pra escola, voltar pra casa, assistir Tv até enjoar e dormir, isso quando meu pai não queria sair comigo. No fundo, no fundo eu sentia que não era uma boa filha. Talvez eu exigia muito de meu pai e não fazia nada por ele.

     Ele me dava tudo que eu queria, comia os melhores recheados, que naquela época, era só para o que as crianças ligavam. Eu era inocente, sim eu era, não entendia muito da vida, só queria viver, viver cada segundo com meus pais e minha irmã.

      Eu não lembro do meu avô, o qual eu não citei nem uma vez aqui. Só sei que ele era um homem bom, ele logo morreu de câncer em 16 de outubro de 2009. É, eu mal tenho lembranças dele. Minha vó, ah essa minha vó, era a mulher mais corajosa e guerreira que eu já vi nesse mundo. Sobreviveu a 13 cirurgias e fora tudo que ela passou que eu não sei.

     Um dia, era sábado, meu pai me acordou cedo e perguntou se eu queria ir conhecer o trabalho dele. Lá a esposa do patrão era super simpática e tinha uma filha da minha idade. Então eu disse ao meu pai que queria ir. Era um pouco longe, eu nunca soube ao certo o que ele fazia no trabalho.

     Chegando lá, ele me levou até a casa e me apresentou a senhora e a menina.

- Bom dia dona Carla! – disse meu pai sorrindo – essa é Maria minha filha.
- Bom dia Naldo! Sua filha é muito linda. Muito prazer Maria, seja bem vinda.
- Prazer é meu senhora – disse me escondendo atrás de meu pai com vergonha.
- Não tenha vergonha – ela disse me pegando no colo – espere vou chamar uma pessoa pra te conhecer também. Ester, Ester minha filha vem aqui conhecer uma pessoa.
        
    Ela me colocou no chão e ficou conversando com meu pai, enquanto a menina que ela chamou não aparecia. Eu fui dar uma olhada no lugar, era muito lindo, parecia uma floresta, cheio de árvores e flores, o verde predominava. Ouvi meu pai me chamar.

- Maria, aqui está. Essa é Ester, filha da dona Carla – meu pai falou.
- Oi Maria, Tudo bem? – a menina perguntou sorrindo – eu sou Ester, vem vamos conhecer meu quarto, tem muitas coisas legais.
- Olhei para meu pai – posso ir pai?
- Tudo bem ela ir dona Carla?
- Claro que sim. Pode ir Maria – disse passando a mão sobre meus cabelos – e você também já pode ir Naldo, eu cuido delas, qualquer coisa eu ligo pra você.
- Eu peço que a senhora tenha um pouco de atenção com Maria, ela é um pouco tímida demais e se ela precisar de algo, ela não pedirá por vergonha.
- Tudo bem, não se preocupe, pode ir tranquilo.

     É, ouvi o finalzinho da conversa deles atrás da porta! Meu pai realmente se preocupava muito comigo, mas eu iria ficar bem. Ester me puxou pelo braço e me levou para seu quarto. Era realmente incrível.
 
      Tinha tantos brinquedos, era impecávelmente arrumado, só tinha uma coisa que eu não gostava. Era todo cor de rosa. Nossa eu nunca gostei de rosa. Acho que sou a primeira menina, eu prefiro o preto e o lilás.

      Brincamos a manhã toda, quando estava na hora do almoço dona Carla nos chamou.

- Meninas está na hora de almoçar, vão tomar banho e venham pra mesa.
- Eu vou na frente ou tomamos banho juntas? – perguntou Ester.
- O que? Tomar banho juntas? – perguntei com vergonha.
- Sim sua boba. Tomamos banho de roupa mesmo. A gente faz de conta que estamos tomando banho de chuva – falou Ester rindo da minha cara.
- Ah sendo assim, sim. É que sou meio tímida, tenho vergonha, mas sendo assim, vamos lá – disse animada.

      Coisas de criança, tomar banho de roupa no banheiro, fingindo que está na chuva! Não perdemos tempo e fomos. Chegando no banheiro começamos a cantar, dançar, fazer caretas.

      Porém, algo aconteceu. Começamos a pular, quando eu dei o terceiro pulo, eu só vi o branco da cerâmica do banheiro e, muito sangue no chão. Quando olhei pra Ester, ela estava com as mãos na boca olhando pra mim.

      Seu olhar era de desesperada, quando de repente, ela sai do banheiro gritando chamando dona Carla. Ela imediatamente veio e me ajudou a levantar. O que mais me doía era meu maxilar, mas quando eu tocava saía sangue.

       Dona Carla lavou com soro e o sangramento cessou. Eu queria ver, mas de maneira nenhuma ela deixou. Disse que era só um arranhãozinho pequeno, que ela colocaria um bandete (algo que se coloca em feridas pequenas) e amanhã eu estaria melhor.

       Ela estava muito aflita, então ligou rapidamente para meu pai e, em menos de cinco minutos ele chegou.

- O que houve com minha filha dona Carla? – perguntou meu pai aflito.
- Eu estou aqui pai. Estou bem, dona Carla disse que foi só um arranhão.
- Foi Naldo. Tudo bem, foi coisa pouca. Mais de qualquer modo, vá para casa e me dê notícias.
- Tchau Ester – me despedi de Ester que parecia triste nos observando.
- Tchau Maria. Vem mais vezes!
- Venho sim. Tchau dona Carla.
- Tchau Maria, até logo Naldo.

     No caminho de volta pra casa, percebi que meu queixo estava dormente. E pensei: se foi só um arranhão como disse dona Carla, porque ela ficou tão aflita? Porque de maneira nenhuma me deixou olhar? Porque ligou para meu pai e mandou ele voltar pra casa no meio do expediente?

Se eu pudesse voltar atrásOnde histórias criam vida. Descubra agora