Capítulo dezesseis.

23 0 0
                                    

   Nessa ele não aguentou e começou a chorar, eu via muita dor e tristeza em seus olhos. Na tentativa de amenizar sua dor, o abracei e chorei junto com ele. Porque tinha que ser assim? Porque meu pai tinha que sofrer tanto? Ele era um homem tão bom, não fazia mal a nem uma mosca, o que uma criança de 8 anos podia fazer pra ajudar seu pai desesperado? Eu só queria tirar aquela dor dele.

- Pai, o que o senhor tem?
- Só fala comigo filha, fala o quanto você puder, porque vai chegar um ponto que eu não vou poder ouvir mais sua voz, e eu quero lembrar o quão doce ela é.
- Não pai, isso não vai acontecer. O senhor vai ficar bem logo tá? Não fala mais isso – as lagrimas desciam.
- Essas músicas me lembram sua mãe, me lembram o quanto eu a amo e sempre vou amar.
- Minha mãe cometeu um erro pai, um dia ela vai descobrir.
- Errar é humano filha, eu só quero ver ela feliz, mesmo que não seja comigo. E você tem maturidade demais pra sua idade não acha?! – ele até brincou.
- Isso não é maturidade pai, é apenas o óbvio.

    E assim eu passei o resto da tarde, deitada ao lado de meu pai, ouvindo Eduardo Costa. Pra você, talvez as músicas pareçam bregas, mas pra mim, eram as músicas mais lindas do mundo, pois o meu pai gostava delas. Seu olhar era intenso, mas carregado de dor, eu tão desesperada sem saber o que fazer. A solução era aproveitar meu tempo com ele ao máximo. A noite chegou e arrumei minhas coisas e esperei por ele. A pergunta é: será que ele está em condições de ir me deixar? E se ele passar mal no caminho de volta pra casa sozinho? Ai meu Deus, é tanta coisa pra minha cabeça.

   Enfim, ele me falou que estava tudo bem e que podia ir me deixar. Chegamos na minha casa muito rápido, parece que tinha ido voando. Chegando em casa, contei tudo pra minha, o tamanho que estava o pescoço, sua perda de audição e minha mãe estava fazendo de tudo pra ajudá-lo.

       Meu pai ligava pra minha mãe quase todos os dias pedindo ajuda, as dores que ele sentia eram insuportáveis, ele ainda ouvia, mas era muito, muito pouco. Meu pai sofreu, sofreu muito, sem merecer aquele sofrimento todo, ele aguentou tudo calado. Minha mãe foi com ele à uma médica muito boa que ela conhece, na segunda. Fizeram vários exames e no outro dia, foram buscar o resultado.

     A médica pediu pra falar em particular com minha mãe, ela já sabia que coisa boa não era. Elas foram pra um local afastado de meu pai, e lá a doutora falou.

- Claudiana, Naldo não tem gripe, não tem picada e o problema dele é mais sério do que eu pensei – disse a médica.
- O que ele tem doutora, pode falar – minha mãe falou aflita.
- Câncer, ele tem câncer. E tem que ser tratado já, pois o caroço do pescoço dele, cresce a cada segundo.

    Minha mãe ficou sem ação nessa hora. Foi pra casa pensando numa forma de contar para meu pai o que ele realmente tinha. E eu em casa estava quase enlouquecendo, mas tinha que agir normalmente pra não assustar minha irmã. Ela era muito pequena não entenderia nada.

Part. Naldo

    Eu não tenho pra onde correr, tenho que ligar pra Claudia, só ela pode me ajudar, é a pessoa que eu mais confio nesse mundo. Minha mãe já é idosa, não quero preocupá-la. Eu espero que possa descobrir logo o que eu tenho, porque eu não aguento mais tanta dor na minha cabeça, escuto cada vez menos. Meu Deus o que fiz pra merecer isso? Eu não sou uma pessoa má, nunca fiz mal a ninguém. Eu não quero morrer, tenho duas filhas pra criar que o Senhor mesmo me deu. Me dá só mais uma chance Deus. Elas são muito pequenas pra perder um pai tão cedo, Luana talvez suporte, pois ainda é pequena, mas Maria é esperta e é muito apegada a mim, eu não sei o que fazer. Me ajuda Deus.

Part. Claudia

    Quando a doutora me falou que ele tinha câncer, eu perdi as esperanças que eu tinha. Pois é raro uma pessoa sobreviver de câncer. Ele é tão lindo, tão novo. E nossas filhas, como elas irão ficar, como vou criar duas filhas sozinha? Sei que estou separada dele, mas quando eu preciso dele pra um conselho, pra ajudar as filhas ele está ali. E se o pior acontecer?

Se eu pudesse voltar atrásOnde histórias criam vida. Descubra agora