Maiode 2007.
Era o meu primeiro dia de estágio.
Naquele dia, conheci uma pessoa.
Ela era a garota mais doce deste mundo.
Eu não conhecia a perfeição até ver aqueles olhos.
Cara, por trás dos olhos dela dava pra ver o céu,
de tão azuis que eram.
O estágio terminou,
e o destino mudou os nossos caminhos.
Três anos depois, nos reencontramos.
Conversamos e, antes de ela ir embora, eu disse:
“Qual é seu telefone?”.
Ela ditou o número.
“Anotado. Te ligo amanhã”.
E a história começou assim.
Era uma sexta-feira.
Peguei o telefone e, quando vi o nome dela,
senti aquele frio na barriga.
Disquei o número,
e meu coração parou por cinco segundos.
Só voltou a bater quando escutou o primeiro toque.
E quando isso aconteceu,
parecia que tinha levado um choque.
Meu coração batia disparado.
Quando ela atendeu e disse:
“Ei!”.
Eu fiquei mudo.
Esqueci todo o roteiro que ensaiei
por horas na frente do espelho.
Então, ela disse mais uma vez:
“Ei, tá aí?”.
Respondi:
“Infelizmente sim, estou aqui.
Mas eu queria mesmo era estar aí”.
“Bobo!”, ela respondeu e suspirou.
Não adianta, eu sou um apaixonado declarado.
Na primeira ligação,
eu já perguntei sobre as coisas do coração.
O que ela tinha sonhado.
O que ela tinha feito no dia.
A sua música favorfeliz
A cada resposta, meu coração batia acelerado.
Depois de uma hora ao telefone, perguntei:
“Então, vamos fazer alguma coisa?”.
“Sim”, ela respondeu.
No primeiro encontro, fomos ao cinema.
Não me recordo do filme.
Mas não esqueço das vezes em que tirei o cabelo dela
dos olhos e do sorriso largo que ela dava e que
percorria seu rosto de um canto ao outro.
No final da noite, estacionei o carro.
“Não te chamo para subir
porque é o nosso primeiro encontro”, ela disse.
“Matematicamente,
já estamos no segundo encontro”, respondi.
“Posso perguntar por quê?”, ela falou curiosa.
“Que horas são?”
“Três horas da manhã.”
“Eu te busquei ontem às 19 horas do dia 14.
Hoje são 3 horas do dia 15. Então, pelo horário
oficial de Brasília, já é outro dia.”, respondi e sorri.
Ela suspirou e fixou aqueles olhos azuis
nos meus olhos castanhos.
“Por que você está sorrindo?”, ela perguntou.
“Eu não sei, você faz isso comigo”, respondi.
“Você quer subir?”, ela perguntou,
embora soubesse a resposta.
“Sim”, respondi dando um beijo nela.
Não transamos como nos filmes.
Só ficamos deitados no sofá conversando
sobre a vida de cada um.
Eu pedi a ela para contar seus sonhos,
um medo e dois segredos.
E passamos a noite inteira assim,
conversando e nos beijando.
Quando olhei no relógio, eram 7h38 da manhã,
e ela já estava de olhos fechados, dormindo no meu colo,
e a luz do sol atravessava a janela e as cortinas.
Levantei e a carreguei em meus braços
da sala para o quarto.
Quando a coloquei na cama, eu disse:
“Vou embora, mas por favor, não esqueça do meu rosto”.
Ela sorriu sem abrir os olhos.
Nós saímos outras vezes,
mas o destino novamente mudou nossos caminhos.
Ela foi morar na Itália e eu fiquei em casa.
Espero que ela esteja feliz
e que tenha superado o medo de pular na piscina
e perder o biquíni.
Que tenha realizado os seus sonhos.
De usar um vestido branco longo,
ter uma menina, um menino.
(Os dois segredos, fique tranquila,
ficarão guardados pra sempre comigo.)
Eu não sei se algum dia você vai ler este texto.
Mas se isso acontecer,
gostaria de contar um último segredo meu:
Às vezes, quando estou triste,
volto aos lugares em que costumávamos ir.
Não te encontro, mas volto a sorrir.