Esta é uma história para aqueles que são destinados.
Começa assim: novembro de 2010, fim de noite.
“Ei moça, e o seu telefone?”,
pergunto segurando a mão dela.
“Nós dois nunca vamos dar certo.
Você é de Peixes e eu sou de Virgem.
Somos muito diferentes”, ela responde.
Entrego o meu celular.
Ela anota o número e coloca o nome na agenda:
“Não ligue pra ela”.
No outro dia ligo.
“Alô?”, eu falo.
“Peixes, você de novo?”, ela pergunta.
“Eu só queria saber a hora e o dia em que você nasceu”,
eu digo.
“Por quê?”, ela quer saber.
“Eu liguei para a cigana conhecida de uma amiga,
a Mãe Zuleia.
Ela disse que eu precisava desses dados para fazer
um tal de mapa astral”, explico.
Nunca vou esquecer o som daquela risada exagerada.
Então, a convido para sair. Ela fica pensativa e diz:
“Não sei”.
“Se eu posso te fazer rir assim,
por que não passa um dia da sua vida comigo?”, pergunto.
“Tá bom, Peixes, você venceu”, ela fala rindo.
“Eu te busco às 20 horas”, digo.
Ela responde: “Às 22 horas”.
Eu: “Às 21 horas”.
Ela: “Às 21h45” e desliga o telefone.
Às 21h30 eu já estou na porta da casa dela.
Fico esperando do lado de fora do carro.
Às 22h37 ela aparece.
Quando a vejo caminhando por aquele jardim, eu grito:
“Você está incrível!”.
Ela dá um sorriso de lado e,
quando para na minha frente diz:
“Peixes, que clichê! Você diz isso pra todas, não é?”.
“Não. Só para as incríveis mesmo”, respondo e ela suspira.
Abro a porta do carro, e ela entra. Está tocando Coldplay.
“Meu Deus, que coisa triste”, ela diz.
Tira o CD e coloca na rádio.
Começa a tocar Los Hermanos.
“Eu amo Los Hermanos. E você?”, ela pergunta.
“Eu odeio”, respondo.
“Presta atenção na letra e na melodia”, ela pede,
e começa a cantar, sorrir e dançar.
Eu sinto, antes de me arrepiar de novo,
que aquela mulher era tudo o que eu queria.
E foi assim que Los Hermanos
virou uma das minhas bandas favoritas.
Conversamos muito no caminho,
para conhecermos um ao outro.
Mas sabe quando a pessoa sorri
e você sente que a conhece desde sempre?
Era isso o que eu sentia quando ela sorria.
No jantar, ela pede uma salada e um vinho.
Eu peço massa e uma Coca-Cola gelada.
Ela olha com aquela cara de:
“O seu prato é mais gostoso que o meu”.
Então, eu digo:
“Quer o meu prato?”.
“Sim!”, ela responde.
Sabe quando você tem aquela vontade
de provar o gosto do outro?
Foi isso que aconteceu.
E o mais importante:
o “meu” virou “seu”.
No final da noite, estaciono na porta da casa dela.
Antes de se despedir, ela se inclina e me beija.
“Virgem, que clichê!”, eu digo.
Ela sorri e não diz nada.
Mas a pele continua arrepiada.
Abro a porta e ela sai caminhando pelo jardim.
“VOCÊ É INCRÍVEL!”, eu grito.
E ela tropeça no próprio sorriso.
E foi assim que,
naquela noite doce de novembro,
nós nos apaixonamos.
Eu de Peixes e ela de Virgem.
Alguns mundos são distintos.
Mas quando se cruzam,
se tornam o infinito.