Umdia, meu pai escreveu no iPad:
“Me leve para ver o mar pela última vez”.
Fomos ao médico. O estado dele era delicado.
Ele não falava, não andava e quase não se movia.
O médico disse:
“Ique, seu pai não aguenta uma viagem de carro.
No máximo, uma hora de avião”.
Voltei para casa. À noite, entrei no Facebook.
Um amigo de infância, muito rico,
postou uma foto de sua casa no Rio de Janeiro.
Mandei um e-mail para ele e expliquei a situação do meu pai.
Disse que o sonho dele era ver o mar pela última vez.
Perguntei se poderia emprestar a casa. Ele respondeu:
“Ique, meus pais não emprestam e nem alugam”.
Sentei ao lado do meu pai. Comecei a chorar e disse:
“Enquanto você viver, vamos continuar sonhando”.
As mãos dele começaram a tremer.
Ele pegou o iPad e escreveu um texto,
que virou um post chamado “Enquanto eu viver”.
No dia em que publiquei o post, a mãe da minha melhor
amiga leu o texto e me enviou esse e-mail:
“Queria lhe oferecer para levar seu pai e sua família à minha casa
em Arraial d’Ajuda. A casa está precisando ser usada por alguém que
ame muito a vida. Eu gostaria de proporcionar isso ao seu pai. Marque
a data.
Beijos”
Corri até o quarto do meu pai. Comecei a ler o e-mail.
Ele começou a chorar. Pegou o iPad e escreveu:
“Simbora, meu rei!”.
E abriu um sorriso.
Compramos as passagens.
Várias pessoas me julgaram, dizendo:
“Ique, você é louco.
Ninguém vai à praia na cadeira de rodas.
Ninguém entra no mar sem mexer as pernas.
Ninguém entra na piscina sem mexer os braços.
Levá-lo à praia não é uma boa ideia.
Seu pai não vai aproveitar nada”.
Algumas pessoas não percebem que o amor verdadeiro
não é por você, é pelo outro.
Ele entende que não é preciso entender.
Você precisa se libertar e fazer.
Que o obstáculo do outro é o seu desafio.
E assim você pode construir uma linda história de amor,
que sozinho não se pode escrever.
Nós estamos vivos.
Você está vivo.
Então faça isso: viva!
Sinta tudo!
Nesse milionésimo fracionado de segundo,
se pudesse fazer algo para uma pessoa que você ama,
o que seria?
Não diga.
Faça!
Porque três palavras na ponta da língua não significam amor.