Capítulo 11- KAREN

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Karen levantara naquela manhã muito animada. Escolheu a roupa que iria usar demoradamente. Queria parecer mais magra e mais bonita. Passou um pouco de batom, o mais discreto que tinha, prendeu os cabelos cacheados no alto de sua cabeça, e os cachos caindo graciosamente conferiam a sua figura uma posição mais alta. Escolheu a mais bonita sandália para usar que era a mais alta também, detestava sua altura. Olhou pela última vez para o espelho e se foi para o trabalho.

Quando chegou, todos repararam que estava mais bonita que no dia anterior e recebeu muitos elogios, o que não sabiam era o motivo para tanto esmero. Ela estava feliz e ansiosa, olhava para a porta todas sempre que ela abria. Haviam-lhe dito, no dia anterior, que Jonathan tinha o costume de vir pelo menos duas vezes por dia no estabelecimento, uma pela manhã e outra no entardecer. Ele porém não viera naquela manhã.

Ao meio dia o restaurante estava cheio, estava super nervosa, será que ele viria ao entardecer? Parecia que iria explodir. Lembrava de seus últimos romances, quando foram mesmo? Bastante tempo sem dúvida. Como não gostava de ficar com ninguém sem compromisso, acabava sempre sozinha. Nunca fora noiva. Nunca tivera um romance que valesse alguma coisa. Não gostava de se lembrar disso. Sua vida amorosa não era nenhum sucesso. Para dizer a verdade era um fracasso.

"Tenho vários amigos, todos gostam de mim, sou uma espécie de confidente de todos amigos que tenho, eles me procuram para ajudá-los, acabo me apaixonando por eles, e eles nem sequer notam. Os homens tem uma política maluca de não namorar suas amigas e confidentes, mas não seriam essas as que provavelmente seriam as melhores esposas e amantes?"

Todos os pensamentos estavam confusos, a tarde passou e sentou-se com Marta, a amiga que lhe falara sobre Jonathan no dia anterior, conversaram amenidades, a amiga pareceu adivinhar-lhe o pensamento quando comentou que ele não viera de manhã mas de certo viria ao entardecer. Karen ficou feliz em saber, mas disfarçou bem. Levantou-se foi ao banheiro retocar a maquiagem e arrumar melhor o cabelo.

"Acho que Marta desconfia de meu interesse, será que corei de vergonha quando ela falou? será que está tão visível o interesse que sinto por esse homem desconhecido?" sorriu. "Que bom que ele ainda virá." Pensou enquanto se levantava para ajudar a organizar o restaurante.

No entanto a tarde que veio trazendo os clientes verpertinos, não trouxe aquele que ela mais esperava: Jonathan. Parecia que resolvera ficar sem jantar naquele dia. Karen ficou triste. Seu horário estava terminando. Já eram quase sete da noite, nuvens de chuva estavam se formando no céu, estava vindo uma tempestade de verão, resolveu falar com seu chefe que não iria fazer hora extra, e iria embora. Foi ao banheiro, retocou o baton, mas para quê? Tirou o jaleco do trabalho, de sobre a sua blusa, nem arrumou seu cabelo que já estava desalinhado após tanto trabalho, saiu do banheiro, despediu-se do pessoal da cozinha com um "até amanhã" sem alegria e se encaminhou para a saída. Eram sete e dez da noite, a porta se abriu, os pequenos sinos tocaram anunciando mais um cliente, e ela não conseguiu disfarçar o susto de ver aquele homem alto abrir a porta. Era Jonathan.

Suas faces queimaram, seus olhos procuraram os dele, sim ele também a vira. Silêncio, foram dois segundos que não falaram nada, parecia que um ouvia as batidas do coração do outro. Ninguém reparou no embaraço de ambos, Jonathan abaixou a cabeça, desviou o olhar e foi sentar-se junto a janela deixando-se contemplar a noite, da mesma forma que fizera no dia anterior, só que desta vez tudo estava escuro lá fora.

Karen esqueceu que estava de saída, correu para a cozinha e pediu o prato do dia para Jonathan, pegou o jornal rapidamente e foi levá-lo para ele antes que outra pessoa o fizesse.

"Boa noite senhor, demorou chegar hoje, estávamos esperando, digo guardamos seu jornal como de costume. Já pedi seu jantar."

Jonathan não desviou seu olhar do vidro da janela. Ela ficou ali parada esperando alguma resposta, deixou o jornal e correu para o banheiro. "Que bobagem era aquela que dissera? "Demorou chegar hoje, estavamos esperando. De onde saíra aquilo? O que pensaria o cliente depois dessas palavras que saíram com tanta expontaneidade? Ela e sua boca! Sempre era tão sincera. Estivera esperando sim, mas jamais poderia ter dito isso! Que vergonha!"

Marta sua amiga, que assistira de longe o que acontecera, correu para o banheiro para saber exatamente o que dissera. Quando Karen falou ela riu muito. Disse que se quisesse acabaria o atendimento, já que ela já cumprira o horário. "De jeito nenhum. Eu quero atendê-lo!" Karen foi tão incisiva que a outra não insistiu. Deu com os ombros e saiu.

O homem fingia ler o jornal quando Karen chegou com seu jantar. Não disse nada. Karen se afastou e ficou ali de longe esperando que ele olhasse para ela pelo menos mais uma vez. Não conseguiu seu intento. Às oito e trinta o homem se levantou, mais cedo que de costume, pagou a conta e sem falar nada se foi.

Foi com enorme decepção que Karen foi para casa. Queria chorar, mas tinha vergonha dela mesmo. Ela se sentia feia e gorda. Nunca ninguém iria olhar para ela, mesmo o mais estranho dos homens acabara de a rejeitar.

Do ponto do ônibus onde estava percebeu que iria chover uma daquelas chuvas de verão que sempre vinham quando ela esquecia o guarda-chuva. O ônibus demorara a passar, já as primeiras gotas de chuva estavam caindo quando as luzes do ônibus foram vistas. Entrou nele. Nem viu quão rápido fora a viagem. Saltou próximo a sua casa a chuva agora era torrencial, teria que atravessar um quarteirão para chegar até o apartamento. Ninguém na rua. Parecia que todos aqueles pingos eram lágrimas que caiam, começou a chorar. Sua vida estava inundada de decepções, a água que caia levava na enxurrada a esperança de seu coração. Um coração cansado que estava se afogando, nas lágrimas que caiam como chuva.

Não era o Jonathan. Era todos os outros que a fizera sofrer. Eram todas as humilhações desde a infância por estar sempre acima do peso, por ser baixinha. Ninguém nunca a amaria. Era feia e Gorda. Seu choro tinha o sabor da derrota, suas lágrimas como a chuva deveriam lavar mais uma vez seu coração, mas desta vez teria que ser para sempre. Não queria mais gostar de ninguém!

Chegou em casa, tomou um banho quente. De madrugada acordou ardendo em febre, ficara resfriada, estava com muita dor de garganta. Levantou-se procurou algum remédio, não tinha. De manhã resolveria isto.

A noite custou a passar, pela manhã a mãe ligou como sempre fazia, percebeu que a filha não estava bem. Quatro horas depois a mãe estava na cidade. Fora buscar Karen, que por estar com muita febre, avisara ao patrão, seu tio, que resolvera não trabalhar.

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Jerah estivera todo tempo cuidando para que Fogg, o ofensor de Karen não se aproximasse dela, juntamente com os outros anjos fizera tudo para que Karen não se entristecesse, pois a tristeza diminui a resistência física dos seres humanos e eles adoecem. Fogg arranjara toda aquela chuva, ele e Korbi se empenharam para que Jonathan não desse atenção para ela, pois sabiam que isto a entristeceria, e somente assim a atingiriam.

Agora estavam comemorando. A mãe de Karen a levara, e quem sabe ela não voltasse mais? Precisavam providenciar isso.

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