Capítulo 14 - VALÉRIA

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Valéria estava em casa, acabara suas tarefas domésticas, o neto estava na escola, e naquele dia o esposo havia combinado de trazê-lo a tarde quando voltasse para casa. Quando estava sozinha gostava de orar. Fazia-lhe bem conversar com o Criador no silêncio da tarde. Quantas coisas precisava pedir a Deus! Desde que seus filhos foram morar nos Estados Unidos ela não fazia outra coisa se não orar por eles.

No Brasil seus filhos deram-lhe muitos desgostos. O filho depois que fora para faculdade tornara-se agnóstico e vivia confrontando o pai, sobre a não existência de Deus. Sua filha tivera um filho fora do casamento, irresponsável, quisera ir embora com o irmão para os Estados Unidos e deixara seu filho para trás. De súbito o telefone toca. "Quem será?" O seu esposo não tinha costume de ligar esta hora para casa.

Levantou-se e foi atender o telefone fixo que não insistia em tocar. Era sua filha dos Estados Unidos. Seu filho Vítor fora preso por porte de drogas. Precisava de dinheiro para um advogado, "Somente com um advogado poderei arrumar um jeito de deportá-lo. Se ficar aqui ficará 'preso muito tempo".

Valéria sentiu o chão se abrir. "Como assim? Drogas? Porque nunca dissera que ele se tornara usuário de drogas?"

" Ah... Dona Val!", era assim que sua filha a chamava, vai me dizer que não sabia? E não foi por isso que papai nos mandou para cá? Não foi para esconder os pecados da família dele que os havia enviado para estudar no exterior?" " Eu não sabia, protestou Valéria, não imaginava que vocês estivesem desta maneira. Como vou falar isto para seu pai? Você acha que ele aceitará isto de que maneira?"

"Seu pai anda uma pilha de nervos, por causa de uma série de palestras que estão realizando na cidade. E agora isto!!"

Valéria ouviu o clic do telefone ao ser colocado no gancho. Seu mundo parecia ter sido desfeito, naquele momento. Qual seria a reação de seu esposo ao saber daquela notícia? Era verdade, que ele havia enviado seus filhos para estudar fora após muitos escândalos que ambos estavam envolvidos, mas não sabia das drogas. Ela sabia do desinteresse pela religião, das críticas ao ministério do pai, do neto que nascera fora de um casamento, e isto já era o bastante, agora drogas! Seria outro golpe em seu esposo que já não estava bem.

Foi para sala, começou a orar, clamava ao Criador que a fizesse sábia ao dar a notícia ao marido. Lembrou das mensagens da Internet, como desejava que o fim chegasse logo. Estava cansada de viver com tantos desgostos em sua família, resolveu assistir em seu computador mais um dos sermões do Pastor que tanto a confortava nestes momentos de crise. Sentou-se no sofá da sala com o laptop e começou a assistir o último sermão do pastor.

O Pr. George falava da última oportunidade para as pessoas do Caminho. Que não adiantava viverem confortavelmente, precisavam seguir exatamente as normas que o Criador havia deixado, eram um povo com muita luz, afinal tinham o livro sagrado, e ainda tiveram da parte de Deus uma profetiza que havia explicado como seria o tempo final. Precisavam se preparar, O líder da igreja-mãe, estava propondo, para que houvesse paz mundial, que ele se tornasse um líder para todas as nações, um tipo mediador para todos os povos, as profecias antigas apontavam que quando a Igreja-mãe governasse o mundo novamente o mundo conheceria um grande período de paz e justiça. Este era o reino de Deus, que eles, da igreja-mãe esperavam, cujo advento, segundo eles, predissera Daniel no capítulo 2. O sermão continuou por algum tempo, mas Valéria dormiu no sofá. O povo do Caminho no entanto não criam assim. Sabiam que quando anunciassem paz e segurança, logo viria um destruição que atingiria a todos.

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Anjos se movimentavam na sala, Valéria precisaria de ajuda. Seu esposo estava voltando mais cedo para casa e não tivera um bom dia. Samai seu Guardião colocou-se de prontidão pois vira que Dara, ofensor de Valéria iria utilizar qualquer oportunidade para fazer aquela mulher sofrer.

A porta se abriu e Pr. Robson entrou o menino correu para abraçar a avó, que estava distraída e não percebeu que o Pr. George ainda pregava seu sermão.

"O que é isto? Você também está seguindo este extremista? Será que nem em minha própria casa vou ter paz? Quanto tempo faz que ouve este fanático? Quanto tempo faz que ele invadiu nossa casa?" Dizendo isto parou de fronte a sua mulher que levantara com o laptop em suas mãos. Sem reação, Calada.

"Vim para casa porque recebi um email se sua filha dizendo que Vítor está preso. Quer dinheiro! Vim para encontrar refúgio e um lugar de paz para pensar, e em vez disso me surpreendo descobrindo que minha própria mulher é seguidora do Andrade!"

"A culpa é sua! Nossos filhos são do jeito que são por sua culpa. Você deveria tê-los educado enquanto eu trabalhava na igreja, mas em vez disso você sempre acobertou os erros deles. Vai ver que ensinou-os a fazer coisas nas minhas costas como você faz agora."

Valéria começou a chorar. Não sabia o que dizer. Em silêncio orava a Deus para saber o que fazer, queria responder alguma coisa, mas não sabia como.

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Samai enxugou as lágrimas de Valéria. Suas asas a cobriam enquanto seu marido a atacava. Joy tentava fazer com que o Pr. Robson parasse com aquele ataque, mas ele não o ouvia.

Carmi estava exultante, aquela família era sua maior diversão. Eram uma família pastoral e deviam ser o exemplo, mas ele e seus ajudantes haviam destruído todos, completamente um por um. Ou melhor quase todos, aquela mulher, apesar de frágil, ainda resistia, e ali estava ela, chorando, sofrendo mas protegida por seu anjo. Isto era irritante.

Finalmente Pr. Robson se calou. Sentou-se no sofá, estava exausto. O neto se enfiara num canto. Sempre que explodia de raiva, quando voltava a si, seu neto estava escondido em algum lugar, visivelmente transtornado. Seus olhinhos revelavam muito medo e angústia. Foi por causa deste olhar que ele sentara. Já estava arrependido do que fizera, mas não tinha como voltar atrás, ele não sabia pedir perdão.

Valéria sentou-se. Procurou se controlar, melhor não dizer nada. O telefone toca, levanta-se e vai atender. Era a mãe de Nancy, Azenath. Sua filha estava morrendo e tinha um recado para o Pr. Robson: Mandara dizer que se o Pr Robson não se recordasse dela, era para lembrá-lo que haviam feito um acordo antes, há muito tempo, ela havia sido a amante de seu ex-genro.

Quando Valéria passou o recado, Pr. Robson se deixou afundar no sofá. Não queria atender o telefone. " Diga que não posso atender", " Não direi isto Robson, você pode atender." Dizendo isso, Valéria colocou sobre ele o telefone sem fio e aproveitou para ir embora da sala.

O Pastor ouviu toda a história. Nancy estava com câncer e achava que iria morrer em breve. Queria falar com ele, com ninguém mais. Anotou o endereço e o telefone. Ex-amante de seu genro! Estava finalmente recebendo o que merecia! Respondeu que iria assim que pudesse e desligou.

É claro que não tinha a menor intensão de ir a nenhum lugar. Teria que inventar alguns compromissos, enviaria outro pastor para cumprir a tarefa, estava tão acostumado de prometer coisas que não tinha a menor intensão de cumprir que não se preocupou mais com o caso.


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