Capítulo 10 - JONATHAN

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Jonathan estava deitado em sua rede na varanda de sua casa que ficava em uma chácara perto da cidade. Pensamentos sombrios desfilavam em sua cabeça. Lembrava-se do passado. "Quanto tempo mais teria que sofrer neste mundo? Por que não morrera ainda? Ultimamente um pensamento não lhe saia da cabeça, queria morrer. Estava cansado de tantas lutas e da solidão.

Jonathan franziu o rosto. Lembrava-se da família e do filhos. Nunca mais os vira! Sua ex-mulher decidira mudar-se para longe e o proibira de vê-los. Ela o odiava. Soube mostrar isso em cada segundo durante a separação. Ele lhe dera tudo o que possuía, e tivera que reconstruir a vida sozinho. Como a amara! Lembrava de seu casamento, do nascimento do primeiro filho, da filha. Por que estava lembrando de tudo aquilo?

"Ainda bem que era motorista". Quanto tempo estivera na estrada para conseguir um capital suficiente para comprar aquele pequeno espaço para ele? Sua dor interior era muito grande, seus olhos estavam brilhantes de lágrimas, que não lhe caiam pela face. Era forte para os outros, mas sua alma chorava, totalmente esmagada pelo sofrimento.

Em sua mente veio uma cena que queria esquecer. Viu-se ajoelhado diante da esposa implorando para que não o mandasse embora. Havia perdido tudo. Seu sogro, fora implacável. A ele só restava ela e seus filhos. Perdera o emprego, o respeito e tudo mais. Chorara como criança, e ela com seu olhar duro e cheio de ódio o expulsara de sua própria casa.

Não lutou na justiça, não procurou direitos, aceitou até a proibição de ver seus filhos, ainda mais quando sua esposa decidira mudar para muito longe. Seria melhor para eles não conviverem com tamanha vergonha.

Nestes últimos dias só pensava em morrer. Estava cansado de tudo. "Esse pensamento não me sai da cabeça. Não quero passar todos os meus dias vivendo como estou. Estou cansado. O Criador não se lembra de mim. Todos os amigos me renegaram. Todos se afastaram de mim como se eu tivesse lepra, quero morrer!"

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Jey e Korbi estavam em volta de Jonathan travando uma luta pelos seus pensamentos. Enquanto Korbi mostrava a Jonathan que sua vida teria que terminar, Jey se esforçava inutilmente para mostrar-lhe que a morte não era a solução. Como estivesse muito próximo Korbi reclamou: " Quer se afastar? Ele é meu. Ele não quer nada com o seu Criador, não quer ouví-lo. Você conhece as regras. O mundo é de meu líder e é ele quem dita as ordens por aqui."

Korbi notou a agitação interior de Jonathan. Fora ele quem segredera aqueles pensamentos do passado. Adorava fazê-lo lembrar de cada instante da dor que sofrera injustamente. Acusava o Criador, implantara muita revolta no coração de Jonathan, mas precisava terminar com isso, precisava de levá-lo a morte eterna.

Jey estava tentando ajudá-lo, mas os pensamentos sombrios lançados por Korbi, a concordância de Jonathan sobre eles, o colocavam afastado demais para socorrê-lo.

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Jonathan levantou-se. Foi até a cozinha. Seu olhar caiu sobre algumas facas que repousavam sobre o balcão. Elas bem serviriam para o que desejava fazer.

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"Vamos não seja covarde! Pegue isto logo e acabe com essa vida de dor e sofrimento." Incentivava-lhe Korbi.

"Não faça isto! Gritou desesperadamente Jey da porta da cozinha.

A luta estava tremenda.

Jonathan agora pegara a faca e a acariciava, "Não iria demorar muito." Experimentou o corte com o dedo. Começou a afia-la no granito da pia da cozinha. Olhava perdidamente pela janela acima da pia. Era melhor assim. Não sabia porque insistira viver tantos anos, achava que porque no fundo desejava que descobrissem a verdade. Não era possível que a mentira conseguisse triunfar desta maneira.

Naquele momento uma luz intensa iluminou a cozinha. Um poderoso anjo acabara de chegar e sua presença fez com que Korbi fugisse. Há anos não encontrara um desses.

"O que faz aqui?" Bradou de longe com toda fúria. Você não está respeitando as regras, este território é meu.

Jey corre para abraçar o companheiro que chegara. "O que aconteceu? O Criador só envia anjos com você através de oração de fé. Alguém orou por ele?" "Sim, recebi minhas ordens diretas do Mestre. Alguém pediu que um poderoso anjo viesse assistí-lo. O Mestre me encarregou imediatamente para vir ajudá-lo. É chegado o tempo da última Advertência, o fim está chegando, ele precisa ter mais uma chance. A última profecia, que ele tanto pregava irá se cumprir em breve"

"Aleluias ao Criador que não se ofende quando os homens o culpam pelos problemas que passam! Aleluia, porque o tempo está próximo! Não vejo a hora de tudo isto acabar. Vim trazer-lhe a paz que precisa. A oração que fizeram por você incluía que sentisse o amor do Criador novamente em seu coração. Vim trazer-lhe isto." E dizendo isso colocou sua mão sobre a cabeça de Jonathan.

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Jonathan atirou a faca para longe. O que era aquilo que estava pensando em fazer? Não! Ele não poderia fazer isso. Saiu imediatamente da cozinha e voltou para a varanda. Sentou-se novamente na rede.

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Korbi gemia no canto da sala. Quem fora o infeliz que orara por Jonathan?

O Líder Rusk chegara. "Seu incompetente, por sua demora em terminar com ele agora teremos problemas a resolver."

Clemência, era o que desejava Korbi, mas em seu mundo não existia perdão pelas faltas e nem clemência pelos atos errados. Iria pagar com certeza, precisava reverter o quadro, para que o castigo fosse menor.

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Jonathan estava ainda na rede e estranhamente o pensamento de morte desaparecera. De uma certa forma o Criador nunca o deixara pois nunca lhe faltara nada, materialmente falando. Uma onda de paz inundou seu coração

Olhou o céu. Será que alguém ainda pensaria nele? As etrelas formaram a imagem da garçonete, parecia que lhe sorria. Quem seria ela? De repente surpreendeu-lhe um pensamento de desejar-lhe vê-la.

Deitou na rede, olhou o céu novamente, desta vez não parecia tão triste. Pensou no Criador. Por que será que ele não fizera nada para lhe ajudar?

Em cada ponto de luz parecia ver os olhos brilhantes da garçonete. Desejava vê-la. Era diferente de qualquer pessoa que conhecera. Jovem, sua beleza estava mais em sua simpatia e felicidade. Tinha algo nela que o atraia. Não era o tamanho, pois era baixinha, seus olhos eram negros, sua cor morena! Não! era algo interior, ela exalava uma doce fragância de paz e felicidade que ele tanto almejava, ela parecia repleta de amor pelas outras pessoas. Precisava vê-la novamente. Sentiu seu coração cheio da ternura que irradiava do coração dela. Dormiu lá fora, na rede, num sono sem sonhos.

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