Embora tudo tenha acontecido de uma forma bem tranquila naquela sexta, sábado de manhã eu acordei sem tê-lo no meu quarto mais, então deduzi que ele precisou ir embora cedo. Com isso, escovei os dentes, tomei café e voltei para o meu quarto, para ler de frente pra minha janela – e foi aí que as coisas ficaram estranhas de verdade.
Não é como se eu contasse que Antônio, a partir daquele momento, fosse se tornar só meu, mas vê-lo pela janela, saindo de casa de mãos dadas com Maria e indo, talvez, para a casa dela, me deixou um pouco incomodado.
Eu não sei explicar a vocês como é a nossa relação de amizade, uma hora ele parece se importar demais comigo, falava coisas bonitas e tudo o que podem imaginar... outra hora ele parecia querer me evitar ou simplesmente pensar "ok, agora que consegui apaziguar a situação, posso voltar a fazer o que quiser que ele sempre estará lá".
No final, a lágrima que escorreu dos meus olhos, saiu justamente por eu saber que ele era manipulador daquele jeito – porque sempre foi – mas ainda assim, eu levava como se ele não fosse. Era ridículo, porque eu contava que ele me desse o valor que eu deveria me dar. E por mais que eu soubesse, por exemplo, que ele tinha partido para começar a me beijar, porque na cabeça dele isso iria me segurar, eu ainda permanecia fazendo tudo o que ele queria.
De qualquer forma, vê-lo saindo com ela me deu um aviso: provavelmente ele nunca faria aquilo comigo. Nunca andaria de mãos dadas comigo e jamais me daria prioridade de forma alguma – como nunca deu, em anos de amizade. Acho que essa era a bandeira vermelha que eu precisava para conseguir voltar a pensar de forma lógica, sem colocar meu desejo na frente das minhas ações. Eu não merecia aquilo, nunca fiz mal a ninguém para merecer. O que importa, no entanto, é que depois de ler um pouco, fui pra academia, quando cheguei eu almocei e quando eram mais ou menos 15 horas, alguém bateu na porta.
– Arthur! – minha mãe me grita me fazendo levar um susto. – Visita pra você!
Desço as escadas correndo e quando chego perto para ver quem é, Binho me observa com um sorriso no rosto.
– Oi, Arthurzinho... – ele diz, com aquela voz que consegue me fazer sentir um frio gostoso na barriga.
Não sei se foi a decepção que me veio na manhã, ou o fato de estarmos fora da escola, mas olhá-lo na minha porta com aquela animação em me ver – que eu nunca tinha percebido vinda de ninguém – me fez sorrir instantaneamente e até mesmo a minha mãe percebeu a mudança no meu olhar.
Seu sorriso é perfeitamente alinhado, como aqueles de pessoas que usaram aparelho por algum tempo na vida. Seus dentes são claros o que me leva a pensar que ele se cuida muito bem para que tenha um sorriso tão bonito assim, além de ter as fatídicas covinhas que me deixavam encantado. E assim, não sei explicar. Beijar sempre foi algo que me deixava assustado só de pensar, mas depois de perceber que não tinha nada demais, eu tinha ainda mais vontade de ficar com outras pessoas – era como se eu tivesse gostado tanto que estava dependente daquilo.
E provavelmente pra muitas pessoas isso nem é grande coisa, mas pra mim, confesso que era. Talvez por mais esse fator eu tivesse medo de entregar completamente meu corpo para o meu lado carnal com alguém que eu não confiava muito nas palavras. Se por causa de beijo eu já tinha perdido um pouco da minha cabeça no lugar, imagine sexo.
– Oi... – respondo, já envergonhado pelos meus pensamentos.
– Tudo bem, agora que chegou, vou avisando que estou de saída para o mercado, por favor, não chegue tarde se for sair. – diz minha mãe, pegando a chave do carro e saindo da sala.
– Tudo bem mãe... – respondo, vendo ela sair.
Ela acena para Alex, que acena de volta e sorri. Minha mãe fecha a porta e ali estou eu, sozinho com ele.

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HURRICANE - (ROMANCE GAY)
JugendliteraturEu sou o Arthur. Tenho 17 anos e moro em São Paulo. Estou no 2° ano do ensino médio e nesse ano passei por uma situação complicada. Meu melhor amigo Antônio descobriu recentemente que seu pai, (cujo não via a não ser em fotos) veio morar aqui. Até...